terça-feira, 21 de agosto de 2012

Mudança



A partir de hoje, passo a um novo blog com novo endereço: ascasasespiamoshomens.wordpress.com

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Retorno

Volto ao blog como se nada tivesse acontecido. Como se não houvesse tirado férias dele como tirei férias no trabalho. Não nego que pensei em abandonar o barco, aproveitar a ausência e sair fora de vez. Mas volto. Gosto do exercício que esta página me proporciona.

Para variar, nessas férias (que acabou há mais de uma semana, diga-se) vi em cinema e em DVD o monte de filmes que costumo ver quando tenho tempo. Não vou lembrar de cabeça todos agora, mas espero ter ânimo para falar aqui sobre todos aqueles que eu for lembrando ao longo dos próximos dias.

Livros, eu lembro, li dois nesse intervalo: "As boas mulheres da China" e "Em algum lugar do paraíso", de Veríssimo. Ambos foram presentes de amigas. Nesse período também terminei de ler "Mitologia africana" e comecei "A chave do tamanho", mais um clássico de Monteiro Lobato, autor que adoro e de quem estou conseguindo fazer a minha filha gostar também. Espero poder falar um pouco mais sobre cada um desses livros mais adiante.

Descobri nessas férias que estou doente. Pelo menos, o meu fígado está. Não é nada do outro mundo, e eu não deixo de trabalhar, viver, etc. Estou com a taxa de triglicerídeos alta, a médica passou um tratamento com remédios, mudou toda a minha alimentação, recomendou ficar longe do álcool e de comidas pesadas. E, até para minha surpresa, estou seguindo tão fielmente quanto posso àquilo que a médica ordenou.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Filmes

Dois filmes interessantes: "Confiar", de David Schwimmer, é mais mediano do que bom, na verdade. Porém, tem várias coisas que mexeram comigo. O tema é a pedofilia via internet, que evolui para o abuso sexual real. A vítima é uma menina de 14 anos, os pais (Clive Owen e Catherine Keener) enlouquecem, o caso bagunça a família toda. Eu, pai de uma garotinha, sou público-alvo desse tipo de filme, um filme, diga-se, que vai bem conduzido e foge da fórmula da justiça feita ainda que pelas próprias mãos. Não é assim. O filme mostra a fragilidade em que todos nós nos encontramos, a impossibilidade de evitar que os filhos se metam em fria etc. E o start para o drama é a confiança. A menina conhece um rapaz pela internet e se deixa seduzir apesar de o cara mostrar que a está enganando (ele diz que tem 16 anos, depois 20, depois 25... até encontrar com ela e a garota constatar que é um adulto acima dos 35 anos). Nesse ponto, pesa o fato de as amigas serem "descoladas" e tratarem o assunto sexo de forma banal. Os pais nem desconfiam dos termos que a garota usa longe deles e de sua curiosidade imensa sobre a primeira relação sexual.

O segundo filme também aborda a questão sexual. Chama-se "Uma relação perigosa", de David Cronenberg, que conta a história do encontro e desentendimento dos dois grandes nomes da Psicanálise: Freud e Jung, vividos por Viggo Mortesen e Michael Fassbender, respectivamente. No meio dos dois, está a personagem de Keira Knightley, a senhora Spielrein. É um drama bem interessante com imensos diálogos e discussões sobre neuroses, comportamentos e distúrbios, tudo obviamente remetendo à vida dos próprios personagens em questão. Em certo ponto me incomodou um pouco ter tanto texto, o que caberia bem a uma peça de teatro. Nada, no entanto, que estrague a sensação de que são levantadas questões interessantes e há uma boa contextualização da briga entre os dois doutores, grandes nomes mesmo à época. Me incomodou um tantinho os trejeitos da Keira Knightley no início quando sua personagem está em surto. Ela chega à unidade de saúde se debatendo nas mãos de dois enfermeiros. Aos poucos vai sendo tratada e é curada, vindo a tornar-se mais tarde ela própria uma grande profissional da área.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sono

"Não durmo nem espero dormir./Nem na morte espero dormir."

Cito esses versos de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa com frequência, um poeta que adoro, e um poema ("Insonia"), dos que mais me deslumbram na obra do escritor português. O poema que já conhecia e amava se tornou o tema de um espetáculo de balé encenado pelo Balé TCA, uma apresentação vigorosa, de não sei quantos anos atrás, e que até hoje me vêm à memória quando penso no poema. Cito muito esses versos porque tenho frequentemente problemas com sono, agitação durante a noite e cansaço durante o dia. Não é um troço saudável. Gosto da noite, de sair, de fazer atividades, de ver TV, de ficar com a patroa na sem vergonhice etc. Mas detesto não conseguir dormir. E sinto que isso me desequilibra. Nos dias que dumo bem, acordo melhor. Nos dias que durmo mal - muitos, muitos - acordo chateado, pilhado.   

E o poema na íntegra:

"Insônia

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insônia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstração de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...

Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo exceto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!

Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exatamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exatamente. Mas não durmo."

segunda-feira, 25 de junho de 2012

São João

Final de semanda vendo filmes, claro. Entre um licor e outro, entre uma saída e outra. Saí bastante, desde quinta-feira, todos os dias pra tomar uma e curtir a companhia deliciosa da patroa. Foi um São João muito bom, divetido, nada cansativo, até dancei forró e fui tomar um café no Santo Antônio Além do Carmo. Um lugar charmoso, com aquela vista linda do mar, entramos pelo Cafelier, um café instalado num dos casarões do Centro Antigo, com trilha sonora de bossa nova.

Dos filmes que vi, o melhor foi "Shame", de Steve McQueen. É o filme em que o Michal Fassbender é um viciado em sexo e tem essa irmã problemática, a bonitinha e sensualíssima Carey Mulligan. A cena dela cantando "New York, New York" é triste e bem interessante. O filme é ritmo lento, tem esse personagem quieto, complicado, triste do Fassbender. Às vezes um ator se destaca e quando vê está aparecendo em tudo quanto é filme. É este o caso aqui, mas o cara é muito bom mesmo. Confesso que gostei do filme, gostei mais ainda da Carey.

A versão de David Fincher para "Os homens que não amavam as mulheres" é melhor que o original sueco. Gostei de ambos, mais o de Fincher é mais autoral, tem mais estilo, é um produto melhor. O meu problema é que não fico totalmente satisfeito com nenhum filme adaptado de livro. Sempre acho que a versão cinematográfica atropela tudo e sai comendo passagens importantes, detalhes que fazem toda a diferença. É um problema, na maioria das vezes, sem solução porque o filme sempre será um espaço curto para uma história que teve todo tempo necessário no papel. Dito isso, é preciso dizer que o filme de Fincher é bem digno.

Vi o terror "O despertar" que no trailer parecia ser bem melhor (E olha que em geral não gosto dos trailers atuais, que são videoclipes iguais uns aos outros com seu cortes acelerados). O filme é bem mais ou menos. A coisa boa é a beleza magnética da Rebecca Hall (uma das estrelas de "Vicky, Cristina, Barcelona", de Woody Allen), ela tem ótima presença em cena. Na cena de toalha então, excelente.

Já o filme "Sherlock Holmes", do Guy Ritchie, fui ver não sei porque cargas d'água. Desde o início, a idéia de um sherlock "moderno", físico, e distante do personagem que conhecemos dos livros, me pareceu bizarra e totalmente nada a ver. Foi exatamente o que achei nos primeiros minutos do filme, apesar do Robert Downey Jr., que é um cara de quem gosto. Desliguei ainda no começo e fui procurar melhor coisa para fazer. Como diz o Inácio Araújo, já tinha perdido o meu dinheiro. Não precisava perder também o meu tempo.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Melancolia e promessas de amor*

Outro dia, conectei o celular no Youtube e caí numa versão de “Essa noite não”, sucesso de Lobão de 1989. De bobeira, fui seguindo a trilha de canções dessa época, um caminho de nostalgia sem volta, uma espécie de ticket gratuito de viagem no tempo.

O que foi a música dos anos 80? Para mim, um garoto nascido em 1975, foi bastante coisa. Quando tinha entre 5 e 17 anos, descobri o ouro e entrei numa febre de coisas como Legião Urbana, Ultraje a Rigor, Engenheiros do Havaí, Titãs, Cazuza e Raul Seixas.

O rock nacional era a trilha sonora da minha vida tanto quanto as canções das novelas da época e dos filmes de Hollywood.

A minha turma colecionava os discos das bandas (em vinil, claro), decorava as letras do encarte, guardava os recortes das revistas e íamos atrás dos discos mais antigos que gravávamos em fitas cassetes.

Nós queríamos aproveitar a onda, montar uma banda e fazer muito sucesso (e com isso conquistar todas as menininhas, óbvio).

Desde novo, eu também ouvia os medalhões da MPB porque era o que meus irmãos ouviam o tempo todo em casa. Era o período em que estávamos numa transição, saindo da Ditadura Militar, período de redemocratização do país.

Com tanta informação circulando – e foi nesse período que começou meu gosto pelos livros – a TV também fazia a minha cabeça.

A TV, o rádio (e as revistas em quadrinho) foram componentes importantes da minha formação. Ver as coisas na TV, ouvir o som (nas alturas) na vitrola de casa e sair correndo para compartilhar impressões com os amigos era uma rotina irresistível.

Voltar àquele período, ainda que seja pela via momentânea das canções, deve servir para alguma coisa – nem que seja para matar o tempo de uma forma divertida.

_____________
 * “Melancolia e promessas de amor” é um verso da canção “Anos 80”, de Raul Seixas, do disco “Abre-te Sésamo”.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Prometheus

Fui ver "Prometheus" neste fim de semana, a prequel de "Alien - O oitavo passageiro", dirigido por Ridley Scott. Gostei muito do filme, provavelmente um dos dois ou três entre os melhores filmes que vi este ano (nos últimos cinco anos?). "Prometeus" é muito bom. Especialmente se a gente vai ao cinema atrás de entretenimento de bom nível. Gosto muito de como as coisas são apresentadas, os cortes, a montagem e roteiro que vão revelando as coisas aos poucos. O bom suspense é feito de uma estrutura em que o espectador só fica sabendo das coisas na hora certa. Até lá vamos recebendo pedaços de informação para ir montando o quebra-cabeças. Está aí um dos prazeres: ir reunindo as informações e montando o quadro. O filme é grandioso, claustrofóbico e épico em diferentes momentos. Há as cenas em ambientes mínimos (dentro de uma cápsula de cirurgia) e em ambientes macros: na superfície da lua alienígena, cenas que na verdade foram filmadas num pedaço deslumbrante da Islândia. O elenco é estelar e está muito bem, com destaque ao quarteto central (Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron e Guy Pearce). Desse grupo, não é difícil destacar o robô do Michael Fassbender, incrivelmente verossímil e cativante. Não é um personagem fácil, em boa parte do filme ele é um ser misterioso apesar do tom de voz educado e simpático. No final das contas, é um dos antagonistas e responsável por uma experiência traumática para a heroína da trama. Por falar nisso, ela também merece destaque: o papel aqui recaiu sobre a atriz Noomi Rapace, que está muito bem em cena. Como em Alien, sem informação prévia, não dá para saber quem vai ou não sobreviver a uma experiência aterrorizante que não promete muitas esperanças aos humanos. O filme fala sobre origem da espécie, busca de respostas sobre quem somos e para onde vamos, questiona religião, põe em xeque a ciência. Nada disso é tão interessante quanto a sensação passada ao espectador de vulnerabilidade total diante do desconhecido. Essa que é a matéria prima de todas as histórias de suspense e terror. O filme combina questões metafísicas com cenas de ação muito bem feitas. É um trabalho pelo qual vale a pena sair de casa e sentar na frente da tela do cinema.

*

Ridley Scott é um cara que admiro. Os seus dois Aliens (O oitavo passageiro e O resgate) são excelentes, estão entre os melhores filmes de ficção e suspense da história do cinema. Sua filmografia é bem irregular, tem de tudo um pouco. Eu adoro Blade Runner, sobre o qual já fiz trabalho na faculdade, um filme que sempre me fascinou. Outros destaques, eu citaria “Thelma & Louise”, “Gladiador”, “O gângster” e “Um bom ano”. Mas é uma escolha absolutamente pessoal. O critério é o meu próprio gosto. Em outros filmes seus, não morro assim de amores, mas ele é um diretor que sempre tem algo interessante a dizer.

sábado, 9 de junho de 2012

Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios


Gostei bastante de "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios", filme de Beto Brant e Renato Ciasca. No começo, confesso que estranhei as cenas sem explicação que vão se sucedendo, sem uma narrativa propriamente. Também encasquetei com a mulher pelada na praia aparentemente posando para um ensaio fotográfico. Gosto de nudez, tudo certo, mas uma nudez gratuita não ajuda um filme. Ainda acho aquela abertura dispensável. Mas isso é de menos. O filme tem uma coerência e sua narrativa estranha, fugindo da linearidade do começo, meio e fim, acaba-se acostumando com ela. A mistura de narrativa com imagens do ambiente - florestas, rios e outras paisagens do norte - é um atrativo e enriquece o filme. Os diretores não deixam de criticar o desmatamento da floresta e a exploração das riquezas naturais, há cenas de personagens discursando contra essa exploração. Sem o cenário, seria apenas uma (boa) história de triângulo amoroso. O ambiente faz toda a diferença e dá força incomum ao drama. Camila Pitanga está bem, sem vergonha, mostra talento, se entrega bastante ao personagem. É uma figura bela, com os lábios grandes e bonitos bem adequados ao título. Seu personagem é forte e multifacetado. E a atriz segura a onda bem nos vários momentos do filme. O restante do elenco também está bem em cena: Zecarlos Machado é o marido da personagem de Camila; Gustavo Machado é o outro vértice do triângulo. Como se deve imaginar, não espere final feliz neste filme. O que não é ruim.

*

Me aborreceu um pouco o filme "A dama de ferro", de Phyllida Lloyd. Gosto das cenas que contam como uma mulher conseguiu ascender ao principal posto político de uma Inglaterra dominada por homens. Não gosto tanto das cenas da velhinha tentando conviver com seus fantasmas e suas lembranças da mulher que foi. E são essas passagens que guiam o filme. No final, é um filme de atriz, feito sob medida para Meryl Streep brilhar em cena. Ela, como sempre, não decepciona. Mas está longe de ser um filme imperdível.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Aplauso

Sou um admirador de Ruy Castro desde que li "O anjo pornográfico", a sua estupenda biografia de Nelson Rodrigues. Ontem, em sua coluna no rádio (tão imperdível quanto sua coluna na Folha de São Paulo), ele fez um comentário com o qual concordo plenamente. Criticou a mania miserável que as pessoas tem hoje em dia de ir a espetaculos, seja músical, seja teatral, seja qual for, e ao final aplaudir de pé efusivamente. Tornou-se uma rotina. O espetaculo pode ter sido - e geralmente é - uma porcaria de marca maior, mas o auditório levanta e aplaude como se tivesse acabado de ver uma magnífica e exclusiva apresentação da maior grandeza. Eu sempre me incomodei com isso. E sou daqueles que fica sentado em minha cadeira, às vezes sem aplaudir se o espetáculo não merece, ou então aplaudindo na medida do entusiasmo que a apresentação me causou. E só. Aplaudir de pé deveria ser uma reverência guardada aos espectáculos realmente arrebatadores. Banalizar esse ritual é um sintoma da banalização geral que temos visto em relação às coisas. Não é esnobismo, é ter o mínimo critério com as coisas. Se a gente aplaude de pé qualquer espetáculo meia boca, o que fazer diante de uma apresentação realmente grandiosa?

terça-feira, 5 de junho de 2012

Mitologias africanas

Ufa, finalmente terminei a leitura de "Os meios de comunicação como extensões do homem". Já posso seguir adiante e começar a ler os livros, presentes de aniversário que ganhei em maio. Na verdade, já comecei a ler o livro "Mitologias africanas", dado pelo amigo Fábio, que se amarra em mitologias de todo tipo. Estou nas primeiras páginas (50 e alguma coisa), são relatos bem curtos, não há complexidade alguma, até minha filha poderá ler sem grande dificuldade. Parece ter sido um esforço de simplificar bastante a rica mitologia africana, numa linguagem que se aproxime de outros tantos casos extraordiánarios. Em princípio, não gosto desse expediente para atrair o leitor. E sempre que vejo esses trabalhos feitos para serem mais facilmente assimilados, rejeito. Lembro sempre que aprender, estudar, conhecer é muito prazeroso, mas requer esforço e empenho. Na verdade, o prazer está também no esforço. E quanto mais conhecemos mais nos sentimos bem com obras que nos exigem um pouco mais. É o que se chama de respeitar a inteligência do leitor, tratá-lo como adulto. Esse livro "Mitologias africanas", vê-se logo, trata o seu leitor como criança. Se o leitor não tem dez anos, fica se sentindo um imbecil em diversas passagens. Prefiro os livros infantis que, sendo absolutamente interessantes para as crianças, também não fazem feio com os adultos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Cinema Paradiso

Filmes devem ser revistos. Gosto muito de rever bons trabalhos, às vezes faço isso imediatamente depois que o letreiro sobe. Antigamente, quando se podia entrar no cinema a qualquer hora, via o mesmo filme pelo menos duas vezes (os que eu gostava, claro). Em DVD também tenho feito isso. Rever é uma oportunidade de redescobrir um filme que não era tido como tão bom. Ou o contrário: perceber que aquele trabalho considerado genial é bem meia boca.

Toda essa introdução sobre rever filmes é para introduzir que vi ontem com a pequena o filme “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore. Na minha memória esse era um dos filmes mais ternos, mais deliciosos sobre o próprio cinema de que tinha lembrança. Na revisão, apesar do entusiasmo bem menor, continua sendo um filme cheio de bons momentos – a maioria se passa quando o personagem do menino está em cena.

Peguei uma cópia em DVD e não reparei que era uma versão com acréscimo de 50 minutos inéditos (50 minutos!). Putz, como se deve imaginar, tornou-se um filme bem diferente. A trama ficou equilibrada entre a relação do protagonista com o Cinema Paradiso e sua história de amor inconclusa. Na versão que conhecia, tudo que aparecia em tela vinha para reforçar a relação do personagem com o cinema. Mesmo o amor interrompido que ele vive na juventude. Nessa versão, os minutos a mais de cenas inéditas não tornaram o filme mais forte ou melhor. Não é ruim ver desdobramentos para a história do garoto que amava a cabine de projeção do cinema de sua cidade e de lá saiu para tornar-se um famoso diretor de filmes. Mas também não fazem do filme uma obra melhor.

Não me incomodo com filme de mais de duas horas de duração, se assim fosse não passaria horas (dias) vendo as minhas séries favoritas. O problema não é a ter duas ou três horas, é que esse conjunto seja necessário para contar a história daquele jeito. Filme não é série. Em princípio, prefiro sempre obras mais curtas.

No final das contas, continuo gostando da história contada ali em Cinema Paradiso. Gosto do tom de fábula e ao mesmo tempo de causo contado pelos mais velhos. É daquelas histórias de cidades pequenas, com seus personagens, suas histórias, suas lendas que tanto agradam ao paladar médio. Não me desagradou ver as horas adicionais como uma curiosidade. Porém, prefiro o corte que foi aos cinemas, um corte, diga-se de passagem, que mesmo na época já achava um pouco mais extenso que o necessário.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Livros

Já tive momentos na vida de procurar livros para ler, de estar sem opção. No máximo tenho um único à minha espera enquanto termino o que estou a ler. Eu, que detesto a experiência de ler dois livros ao mesmo tempo, procuro sempre ler um de cada vez. Pois neste exato momento, enquanto não terminar "Os meios de comunicação como expressões do homem", nada menos que três livros me aguardam. Mês de aniversário, as pessoas sabem que é fácil acertar no presente para mim quando escolhem livros. Ainda não apurei, mas deve ser mesmo o presente que eu mais gosto de ganhar.

Tributo à Legião

Acho o Wagner Moura um ator talentoso. Já gostava dele aqui em Salvador, gosto ainda mais agora depois que a experiência mostra os benefícios em sua carreira. Nunca empolguei com o Wagner cantor. E fiquei curioso para vê-lo no papel do band leader desse tributo que a MTV faz à Legião Urbana, uma banda que fez minha cabeça desde os onze ou doze anos de idade. Vi o show com atenção e novamente não empolguei com a performance, apesar de que o repertório da banda remexe coisas lá no fundo da alma. Muita gente deve ter gostado, a emissora faz bem em ousar, para o mercado certamente é um bom negócio - vai virar CD, DVD e não sei mais quantas repetições na televisão. Da minha parte, poderia passar perfeitamente bem sem esse tributo. Vale mais ouvir - mais uma vez - as versões originais nos discos da banda.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Pequena

Delícia a fase que a minha filha está agora: a dos dez anos. Ela é inteligente, ensina muito ao pai - principalmente a mexer no celular novo que acabamos de conhecer, que ela trata como velho conhecido! Esse fim de semana vimos juntos dois bons filmes. Bem diferentes de tempo e espaço, um é o clássico de Alfred Hitchcock, "Janela Indiscreta", de 1954. O outro é o brasileiro "O Palhaço", de Selton Mello, do ano passado. Vi os dois com atraso. Os dois filmes, ela os assistiu por iniciativa própria. Sentou ao meu lado e ficou por puro interesse nas histórias. Há filmes que eu pego especialmente para ver com ela, mas não foi esse o caso desta vez. Fico muito satisfeito quando ela vê filmes ao meu lado que não são os desenhos e animações da sua idade ou os filmes de efeitos e pancadaria que tanto gostam a maioria dos seus amiguinhos. Gosto porque sei que esses filmes mais elaborados, quando tem algo a dizer para ela, que conquiste seu interesse, está ajudando a formar sua bagagem cultural. É educativo ver um Hitchcock, um Chaplin, aos dez anos. Vou sentir saudade dessas sessões de filmes com ela, um dos programas que a gente mais gosta de fazer juntos.

sábado, 19 de maio de 2012

Cazuza

Saudade do c..., saudade de Cazuza... a trilha sonora do meu final de infância e da minha adolescência. Cazuza lembra meus primeiros beijos, primeiras festas, primeiros porres, primeiros foras. Lembra também - muito - meu amigo Sérgio. Foi Sérgio quem me influenciou para gostar de Cazuza e Legião Urbana. Até hoje gosto de ambos, mas Cazuza sempre bateu mais forte em meu coração. Hoje caí, não sei porquê, em uma página com os discos e as canções de Cazuza. Lá fiquei, besta, perdido no labirinto, entrando e saindo por suas canções, seus desabafos, seus berros, seu sarcasmo, sua fragilidade e sua poesia. Ouço Cazuza e tenho vontade de chorar. É um negócio bom, mas mistura muita informação na minha cabeça. Cazuza continua muito vivo e atuante, ao menos dentro de mim.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Hora livre

Estou com essa agora de às vezes empacar numa leitura, não ata nem desata. Antropologicamente, ter comprado um carro me tirou o tempo precioso que tinha livre no ônibus, onde ia lendo por pelo menos meia hora por dia o livro da vez. Imagine você o que é meia hora por dia, um assombro, ainda mais se a gente somar a uma hora aqui outra ali antes de dormir e nos consultórios. Essa meia hora diária me fez bater recordes de leitura sem sentir dor, sem parecer que fazia algo extraordinário. Agora só me resta a hora daqui e dali do consultório e do tempo livre antes do sono. O problema é que não tenho tido tempo. Estou há mil dias com esse “Os meios de comunicação como extensões do homem”, de Marshall McLuhan, e não passei da página 180, acho. Mas o livro é muito bom. Ele agora está numa reflexão sobre o relógio, diz que o relógio muda completamente as relações, passamos a ter tempo livre (“terei a semana livre”) ou não (“estou com agenda cheia”). É uma discussão para dizer, entre outras coisas, que uma nova tecnologia muda radicalmente a vida das pessoas e faz com que todas as outras tecnologias se conformem à nova realidade. Antes de falar do relógio, McLuhan faz seu escrutínio do dinheiro, que também é outra mudança e tanto na vida humana. O livro levanta ótimas questões e faz pensar em muita coisa. Quando tenho a hora livre, me divirto muito.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Paraísos Artificiais

Não esperava exatamente um filme incrível. Confesso que fui assistir ao brasileiro "Paraísos Artificiais", de Marcos Prado, atraído pela promessa de nudez da linda Nathalia Dill. Não há decepções nesse quesito e a atriz segura bem a onda de seu personagem. Ela é uma DJ que tem envolvimento com drogas e sofre as consequências da relação com pílulas, gotas e amizades descontroladas. O mocinho da história, se é que se pode falar assim, é o ator Luca Bianchi, que faz o personagem Nando. Os dois se envolvem amorosamente, as festas de música eletrônica, o uso de drogas e o sexo (a dois e a três) são pano de fundo. Parte da história se passa em Amsterdã. O filme trata de uma série de questões que estão no entorno do uso das drogas pela juventude. A família e amigos de Nando aparecem, ele perdeu o pai e se culpa por isso. O irmão mais jovem é o garoto que herda as amizades do irmão quando ele vai preso (o filme começa com o Nando saindo da cadeia). A mãe sofre por um e outro. Mas quem segura essa moçada quando quer sair, agitar, tomar todas? Não é um filme complicado, mas acontece em dois tempos, presente e passado, sem que essa opção traga qualquer dificuldade para se entender o que vai na tela. No final da projeção não há muito sobre o que pensar, não dá pra dizer que ficamos com questões na cabeça, que traga qualquer aprofundamento ou abordagem diferenciada sobre qualquer dos pontos apresentados. Também não é um filme ruim. E acima de tudo, como consolo de luxo, sempre temos a lembrança das lindas imagens da Nathalia Dill pelada. Presença em cena ela tem, magnetismo também, e não é nenhum vazio de talento. O que mais precisa uma estrela?

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Estamos juntos

Assisti "Estamos juntos", filme de Toni Venturi, com Leandra Leal e Cauã Reymond. Fui com toda vontade de gostar do filme, até porque acho a Leandra Leal uma atriz muito boa, que está na profissão desde menina. Uma pena, não gostei nada do filme que me pareceu meio perdido. Outro brasileiro que não me empolgou foi "2 Coelhos", de Afonso Poyart. Apesar da beleza da Alessandra Negrini, a produção não me conquistou com seus flashbacks, reviravoltas, e tom de filme moderninho. Fiquei bem entediado na verdade. Gosto do Fernando Alves Pinto. O filme Terra Estrangeira de Walter Salles com ele (creio que é sua estréia na telona), é um dos filmes que mais gosto. Preciso até rever para saber se ainda hoje mantenho essa opinião. Quando vi a primeira de umas três vezes, fiquei siderado. O Fernando não está ruim em "2 Coelhos", a questão é que o filme como um todo não me convenceu.

Tudo pelo poder

Vi “Tudo pelo poder” às escuras, ou seja, sem saber nada sobre ele, e terminei o filme de George Clooney pensando muito em Shakespeare. Daí vou ler o que se escreveu sobre o longa e descubro que já no título original “Ides of March” há referência à obra de Shakespeare, ao conhecido episódio do assassinato de Júlio César por Brutos. Não fui tão certeiro, mas assim que o filme terminou pensei na frase clichê “na veia”, no caso, “Shakespeare na veia”. Achei o filme bom pra c…, de longe o melhor que vi no ano inteiro até aqui. Exagero? Provavelmente, mas dá a dimensão do que o filme provocou em mim. Achei que seria mais um desses filmes chatinhos sobre bastidores do poder na América. Olha, o filme não tem nada de chato e traz um Ryan Gosling de atuação hipnótica. Ele é um ator incrível. O elenco é de muitas estrelas, todos grandes atores, e muito bem em seus papéis: George Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood. Na trama, a campanha para as prévias do partido democrata. O centro da atenção é o personagem de Gosling. É um filme acelerado, com boas cenas envolvendo a relação imprensa x poder e mais ainda o papel central dos assessores na trajetória do candidato. No filme, política é coisa suja, ponto. Quem vence, não faz isso sem sujar as mãos. Parece um quadro redutor de um ambiente tão complexo. É mesmo redutor, mas dá sinais bem evidentes de como as coisas se passam longe dos olhos do público. Seja nos states, seja aqui mesmo em nossa república.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A pele que habito

Falei para Eloá que não sabia se recomendaria "A pele que habito" pra ela. Geralmente, quero que ela veja tudo que eu vejo e gosto. É que eu tinha acabado de ver o filme e estava em uma pequena crise. Gostei - putz, é pouco, fiquei enlouquecido -, mas sei que é um filme estranho e, talvez, difícil para almas sensíveis. De qualquer forma, é uma experiência e tanto. O filme apresenta uma situação - mulher vive enclausurada e se submete a um transplante de pele por um médico esquisito (soturno, pra dizer o mínimo). Por que ela se submete? Quem é ela? Putz, o filme nos apresenta essa linda mulher, depois somos supreendidos por uma cena extremamente violenta para em seguida ela e o médico caírem nos braços um do outro. É nesse ponto - e até aí tudo é muito sem explicação, meio embaralhado - é aqui que a trama volta seis anos e começa de fato o filme. A partir desse flashback começamos a ter as explicações sobre os acontecimentos do tempo presente. Almodóvar dá um nó na cabeça do espectador, meio que obriga a rever o início do seu filme, porque tudo ali é muito diferente do que imaginamos. É um trabalho muito lindo em sua realização. Mas não se engane, não é uma história de amor, como também não é uma história com final feliz. É um suspense intrincado, intenso, sem concessões, com algo a dizer. E, o melhor de tudo, como é bom!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Chico

Chico Anísio era maravilhoso. Ainda hoje veria com todo prazer seus programas, seus personagens. Chico pertenceu a uma geração de humoristas que fizeram a minha infância numa época em que não existia nem essa maneira grosseira de fazer humor nem o chatíssimo politicamente correto. Os caras eram de outra escola, tinham um refinamento e uma bagagem cultural que fazem falta ao humor.

Televisão

Na internet, vi o primeiro episódio de "Louco por elas", série com o Du Moscovis, e achei muito simpático. Seria surpresa não ser bom com gente como João Falcão, Adriana Falcão e Guel Arraes envolvidos.

*

Novela, eu sempre quero ver as primeiras semanas. É um período em que o material está mais bem trabalhado e ainda não houve interferências e mudanças de rumo impostas pela audiência. Mas mesmo nessas primeiras semanas, minha implicância com o autor de "Avenida Brasil", João Emanuel Carneiro, não desaparece, ao contrário. O que, de fao é muito legal, nessa nova novela? A vilã de Adriana Esteves comprova o talento indiscutível da atriz, mas sua personagem não está um tom acima? Murilo Benício já foi uma grande promessa da televisão. Até hoje não saiu da promessa. Faz exatamente os mesmos tipos de sempre, com os mesmos cacoetes. E não é que seja o mesmo e esse mesmo seja legal (tipo um Pedro Cardoso). Benício é a mesma chatice de sempre. Débora Falabella é a vingadora a la Kill Bill da vez (só eu pensei nisso quando vi aquele close dela na moto?). Débora é boa atriz, mas ainda não apareceu com força na trama. Até agora só franziu a sobrancelha e fez cara de choro (diferente da garotinha que faz seu personagem criança e que é mesmo um achado, apesar do texto extremamente clichê). E o que dizer de personagens que são salvos de viver na miséria de um lixão, vão morar bem (até em outro país), ter tudo, mas retornam à miséria para fazer visita e matar saudades. Hein? É possível? Sem falar que o lixão é tipicamente um lixão para inglês ver, né. Pelo visto (e por ter lá uma potência como a Vera Holtz), vê-se que será uma locação importante na trama, onde os personagens estarão voltando sempre para que ali coisas aconteçam. Personagens bem de vida, alguns com carrão, viagem para o exterior, e mansão com empregados, todos frequentando lixão? E o núcleo cômico feito por Alexandre Borges e suas diferentes mulheres que não sabem uma da outra? Quem não já viu esse filme, digo, essa novela? Em pelo menos todas as anteriores. Quem é legal em papéis menores? Nathalia Dill é linda e até agora isso tem sido suficiente. Débora Bloch continua bela, mas é atriz para muito mais. Ísis Valverde é talentosa, tomara que seu personagem não caia na pura caricatura. Marcello Novaes, um ator carente de cloreto de sódio, tem um único papel, servir de escada para Adriana Esteves. Fabíula Nascimento, essa ótima atriz, tomara que não fique reduzida na trama a uma sombra andando atrás da Heloísa Perissé.

segunda-feira, 26 de março de 2012

McLuhan

Comecei a ler o livro de Marshall McLuhan, "Os meios de comunicação como extensões do homem". Li um ou outro capítulo na faculdade de comunicação, mas minha lembrança mais forte ligada ao autor é a sua participação no filme de Woody Allen. Ele tem uma aparição relâmpago em "Noivo neurótico, noiva nervosa" apenas para desmentir uma pessoa na fila do cinema. O cara está discutindo com o personagem de Allen e cita Mcluhan, dizendo saber muito bem o que está falando. O próprio Mcluhan aparece para confrontá-lo. É hilário.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ainda sobre 'Minha Razão de Viver'

Estou entrando pela metade do livro "Doidas e Santas" de Martha Medeiros e não falei que terminei "Minha razão de viver", do Samuel Wainer. Terminei. É um livro muito instrutivo, bem escrito, revelador. Conta a trajetória do jornalista, desde a criação da revista "Diretrizes", que reuniu grandes nomes da literatura brasileira nos anos 30. Em seguida, concentra-se em narrar os eventos que levaram o autor a fundar o jornal Última Hora, uma publicação importante na história da imprensa (e na história do país). O livro mostra em detalhes a relação bem próxima que Samuel Wainer estabeleceu com os poderosos que passaram pela presidência do país, entre eles os emblemáticos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. E conta como tornou-se, o próprio Wainer, um homem de poder, estando ou não de braços dados com o mandante da hora. Os fatos narrados vão até o declínio e venda de Última Hora que, fundado no Rio de Janeiro, tornou-se um jornal influente, com edições em diversas regiões do país. O período coberto é amplo, desde antes da ditadura de Vargas, com o Estado Novo, até a fase de endurecimento da ditadura militar com o AI 5 e as perseguições aos direitos civis. O depoimento deixa clara a relação entre imprensa, poder e dinheiro que se estabeleceu em todo esse período de consolidação de diversos grupos que ainda hoje tem muita influência no país. Uma leitura realmente esclarecedora.

terça-feira, 20 de março de 2012

Doidas e santas

"Até hoje, pergunta-se: para que serve a arte, para que serve a poesia? Intelectuais se aprumam, pigarreiam e começam a responder dizendo "Veja bem..." e daí em diante é um blablablá teórico que tenta explicar o inexplicável. Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento."

O trecho é do livro "Doidas e santas" de Martha Medeiros. Comecei a ler ontem à noite, gostei muito. Há algum tempo quando ouvi falar nesse livro, me senti atraído, mas fiquei preocupado: e se for mulherzinha demais? e se ainda assim eu gostar? Por via das dúvidas fiquei bem longe. Vai saber. Mas ele veio atrás de mim. E a boa notícia é que não é mulherzinha (ufa!), é bem rock and roll, na verdade. No espírito.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Filmes

Gostei muito de "Deixa ela entrar", o filme sueco que narra uma amizade/amor entre um garoto e uma menina vampira. Tinha visto primeiro o remake americano, chamado "Deixe-me entrar", pelo qual morri de amores e já escrevi aqui sobre. É, a rigor, a mesma história com outros atores. Ambos são muito bons, mas meu coração ainda bate mais forte pelo remake, que vi primeiro - o impacto foi maior. Acho que, como é a mesma história, o segundo já não era uma novidade, era mais uma curiosidade. De qualquer forma, são dois ótimos filmes.

*

Pelo trailer, eu imaginei que "Gigantes de aço" era daqueles filmes comerciais piegas e entupidos de clichês. Ele é exatamente isso e ainda assim é um programa bem divertido. Assiste-se com prazer à história num futuro próximo do ex-lutador de boxe (Hugh Jackman) que ganha a vida com robôs lutadores. Os robôs, como se imagina, tem esses movimentos bem impressionantes que já não são novidade nessa indústria. O garoto é o filho renegado, que o pai vende para saudar dívidas e comprar mais um robô. Até o final, pai e filho terão oportunidade de se conhecer melhor e se acertar. Claro que já vimos esse filme antes. O bacana é que a produção usa a seu favor - e desavergonhadamente - enredos já conhecidos para entregar um produto bem simpático.

*

Como fiquei tanto tempo sem ver esse filme em que há cenas de pegação entre as incríveis Megan Fox e Amanda Seyfried, "Garota infernal"? Talvez porque o filme só tem isso de bom... É um thriller que deveria meter algum medo e fazer algum sentido. Nem uma coisa nem outra. Porém contudo essas duas se agarrando numa cena de, sei lá, menos de um minuto, compensa bastante um roteiro acéfalo.

terça-feira, 13 de março de 2012

Minha Razão de Viver

Bem interessante esse livro do Samuel Wainer, "Minha Razão de Viver", que começo a ler. O jornalismo - e o país - eram completamente outros nesses anos 30 e 40 do século passado. Para mim foi uma curiosidade e tanto ver relatadas situações como a de João Goulart, numa festa na casa de Getúlio Vargas, subindo numa árvore (?!) para exaltar o ex-ditador do Estado Novo e então candidato à eleição presidencial de 1950. Putz, em cima de uma árvore! E alguém consegue imaginar um repórter com uma entrevista bombástica que precisa esperar pacientemente dias e dias até que possa ser publicada, porque o jornal não funcionava durante o Carnaval, nem mesmo na quarta-feira de cinzas? E o que dizer de um político graúdo numa reunião importante - com a presença da imprensa - que se vê contrariado e para demonstrar essa iritação dá uma cusparada no meio da sala e solta um sonoro "filho da puta". Tirando essas curiosidades de época, me deixou intrigado saber a turma que se reunia com Samuel Wainer na sua revista "Diretrizes" (começou a circular em 1938) de linha editorial francamente antifascista numa época em que não eram poucos os simpatizantes do fascismo europeu - incluindo o próprio Vargas. Essa turma de "Diretrizes" contava com gente como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Érico Veríssimo, Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz, Rubem Braga, Di Cavalcanti e Moacir Werneck de Castro.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Entre as garfadas do almoço, terminei de ler o livro de Kotscho. É um bom livro, se a gente considerar a segunda metade, dedicada à sua participação nas campanhas e no primeiro governo Lula. Mal termino um livro e já pulei nas páginas de outro, que me foi trazido pelo amigo Franklin: "Samuel Wainer - Minha Razão de Viver". Continuo, como se nota, em obras de jornalistas. Wainer foi contemporrâneo de Assis Chateaubriand e trabalhou nos seus Diários Associados, quando entrevistou Getúlio Vargas. O prefácio do livro é de ninguém menos que Jorge Amado. Pois é, mal comecei a ler e já bateu saudade da prosa de Jorge (num passado longíquo, quando conheci a literatura do baiano, não gostei. Hoje adoro o autor). Foi um começo extremamente convidativo.

Uma vida de repórter

Entrando nas campanhas de Lula à presidência, o livro de Ricardo Kotscho ("Do golpe ao Planalto - Uma vida de repórter") me interessou bastante. Acho até que ele deveria ter concentrado todo o livro em um único tema, seja a sua vida de repórter, seja a sua presença na política e governo. A sensação de estar lendo um livro irrgular que não se detém em assunto nenhum e passeia por várias paisagens não me despertou tanto. Da metade para o final, quando o relato se detém na sua passagem como assessor de Lula e posteriormente como secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência, a história ganha um foco, e prende a atenção. Conhecia Ricardo Kotscho de nome e de algumas matérias em sua passagem por grandes veículos de imprensa. Não tinha uma opinião fechada e dificilmente teria comprado esse livro. Ganhei de presente no Natal do amigo Hederverton. Estou nas últimas páginas, no posfácio, quando o autor conta suas impressões sobre a crise do mensalão no governo, quando ele já estava fora do Planalto. Esse relato da trajetória do ex-presidente, desde o surgimento no sindicalismo do ABC paulista, fundação do Partido dos Trabalhadores, passando por sua fase de deputado da constituinte, candidato derrotado em três eleições e finalmente presidente do Brasil, esse é um relato que merece um grande livro. Kotscho conta de sua participação apenas. Temos uma visão incompleta, por motivos óbvios, e fica claro que o tema merece um trabalho que aborde o período de maneira aprofundada.

Uma observação final: Kotscho relata que o presidente o tinha como um cara que entendia de relacionamento com a imprensa, porém era um ingênuo em matéria de política. O livro meio que conclui exatamente isso. Não é um demérito, o livro traça uma fotografia simpática do seu autor. Eu, por exemplo, estou bem mais simpático ao jornalista do que era antes de começar a leitura.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A parte relativa à campanha das "Diretas Já" é a mais animadora do livro de Ricardo Kotscho até aqui. Estou na metade da leitura e já passamos pelo AI-5 (de raspão), por um período de repressão durante a ditadura militar, pela sua fase de correspondente internacional, pela seu contato com personalidades, suas inúmeras matérias que ganharam repercussão nacional. O livro é irregular. Kotscho foi repórter a vida inteira até se tornar assessor de Lula. É essa trajetória que ele conta ("do golpe ao Planalto"), ressaltando o que viu e viveu como repórter em veículos como Estadão, Jornal do Brasil, Jornal da República e Folha de São Paulo. Há varias passagens interessantes e diversos casos envolvendo nomes conhecidos da imprensa de quem ele foi colega. Gosto de algumas coisas, outras nem tanto. Voltarei ao assunto.
Entrei naquela curva de tempo, em que tudo é motivo para que eu reflita. A reflexão maior, e sem resposta até aqui, é onde vou parar. Isso é engraçado porque há uns 10 ou 15 anos parecia que essa era uma questão insignificante. Nunca foi, eu é que não dei a importância que ela merece, sejamos francos. Em geral, vamos vivendo a vida cada dia como se cada um desses dias não fossem pedaços de um desenho que no fim diz quem eu sou. Cada dia, cada pedaço, tem importância no todo. Estou nesse processo de acordar às vezes à noite e ficar pensando no futuro. Tive um consolo na última semana quando meu amigo Franklin me disse que está num processo semelhante, só que mais pesado e há mais tempo (e ele também acorda mais vezes à noite). Era para eu ficar aterrorizado. Putz, serei eu daqui há um tempo! Mas não foi o que aconteceu. Me senti melhor, talvez por ter com quem conversar sobre o assunto, com gente que entende bem o que estou passando. Reflexão é um negócio saudável, bem-vindo. O problema é o passo imediatamente seguinte: transformar o resultado das reflexões em decisões que vão mudar completamente minha vida.

E isso precisa da ajuda de um bom vinho...

Drive

"Drive", do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, é um bom filme de ação e suspense. Tem aquele ar retrô, parece filme velho, a ponto de minha esposa perguntar de que ano era o filme. Eu disse que era recente, de 2011, ela fez cara de dúvida. Mas essa ambientação ajuda o filme, que é silencioso, tem uma trilha muito boa e muita tensão. O Ryan Gosling é o astro, seu personagem é um desses caras que fazem miséria com um carro na mão. Ele trabalha como dublê em cenas perigosas envolvendo veículos e também numa oficina (seu chefe é o Bryan Cranston, de Braking Bad). À noite, ele arruma tempo para dirigir em assaltos. Seu passado é um mistério, o que ajuda no clima de suspense. Não sabemos exatamente o que esperar do seu personagem quando as coisas se complicam. E as coisas ficam muito complicadas quando ele resolve fazer mais um "serviço". Sua intenção aqui é ajudar uma garota (Carey Mulligan), cujo marido está em dívida com criminosos. Para pagar a dívida, os bandidos querem que o tal marido execute um roubo. O personagem de Gosling vai ajudar, mas não sabe que é uma armadilha, daquelas situações em que nada sai como previsto. Estamos então na metade final e o filme se torna mais e mais violento. Não gostei tanto das cenas de sangue, que são bem feias. Mas gosto muito do jeito instrospectivo e quieto do personagem de Gosling. Sua relação com a garota por quem desenvolve um vínculo afetivo é bem trabalhada no início e se degrada com os acontecimentos. De qualquer forma é um filme não tão convencional e com várias cenas inspiradas.

*

E o que dizer do novo "Anjos da noite"? Apenas que é bom ver a Selene, personagem da estonteante Kate Beckinsale, socando os lycans maus. Cada vez gosto menos de filmes de efeitos e etc. Mas como resistir ao charme de Beckinsale? Sem ela, quebra-se as duas pernas da produção. A não ser que se arrume uma Rhona Mitra. Mas aí é outra história...

sexta-feira, 2 de março de 2012

A invenção de Hugo Cabret

Uma das coisas mais divertidas no filme "A invenção de Hugo Cabret" é a personagem da excelente Chloe Moretz, a pequena que é fissurada em leitura e de vez em quando insere uma palavra "difícil" em suas falas. Essa menina é um talento, recentemente fez alguns filmes marcantes da cultura pop ("Kick Ass - quebrando tudo" e o incrível "Deixe-me entrar") e é um dos atrativos desse novo trabalho de Martin Scorsese.

É preciso dizer que esse é um dos melhores filmes do diretor para o meu paladar. Gosto de muita coisa do Scorsese, desde trabalhos mais antigos como "Touro indomável" e "Taxi Drive" como também gosto de filmes mais novos como "O aviador" e "Infiltrados" (não amei, mas está longe de ser ruim o seu último filme, "A Ilha do Medo", de 2010).

A história do garotinho que vive numa estação de trem, comete pequenos furtos e sofre com a ausência do pai é muito prazerosa de acompanhar. Gosto de um filme que fala e mostra que o cinema pode ser um caminho, uma opção de vida, que mostra a beleza dessa arte. E Scorsese faz uma homenagem muito simpática a um dos pioneiros da história do cinema, o diretor Georges Miélès. E fala de uma maneira encantadora, tanto que a minha filha de dez anos amou o filme.

É mesmo um filme amável, traz aquela sensação de que se está em um sonho. O tratamento dado ao 3D, pela primeira vez me senti à vontade com esse recurso que gosto tanto de falar que odeio. Aqui gostei. É provável que tenha sido capturado pela abertura do filme, quando vemos do alto a cidade de Paris e a câmera faz um movimento lindo mergulhado de cima para baixo e  avançando pelo corredor humano na estação de trem. Uau. Coisa de mestre mesmo. Assim como a cena em que os meninos derrubam uma caixa cheia de desenhos e os desenhos parecem vivos. Um efeito de cinema, simples, mas mágico.

A menina se enamora do novo amiguinho atraído pela aventura que podem vir a viver. E de fato é isso que Scorsese nos entrega, uma aventura sofisticada e simples, bem contada, feita com gosto.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Estava bastante cansado ontem à noite, mesmo assim me diverti muito com o filme "O artista", de Michel Hazanavicius. Tinha cá meus medos de que fosse chatinho ou "de arte", que é pior ainda. Mas não, é um filme muito bacana sobre o perído de transição entre o cinema mudo e o cinema falado. Os dois astros são Jean Dujardin e Bérénice Bejo. Para variar, caí de amores por ela. O filme é um encanto do começo ao fim.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Entre irmãos

Fiquei bem impressionado com Tobey Maguire no filme "Entre irmãos", de Jim Sheridan. Ele é um oficial das forças armadas que precisa se afastar da famlía (a esposa é Natalie Portman) para uma missão no Afeganistão. O helicóptero em que está cai e ele é dado como morto. Mas não morre, é capturado e submetido a uma experiência traumática. No período em que fica desaparecido, o irmão Jake Gyllenhaal se aproxima da sua esposa e das duas filhas pequenas. O oficial retorna à família que por vários meses o tinha como morto. As coisas não são mais como antes. O personagem de Maguire retorna transtornado. Ele está bem magro e angustiado. Portman é essa atriz bonita que conhecemos (embora aqui não seja muito mais que isso). São três bons atores e mais o Sam Shepard, que faz o pai dos dois irmãos. O filme é uma boa experiência, especialmente na cena climax quando o capitão tem uma reação explosiva na porta de casa. Nessa cena, os três atores estão muito bem. E Maguire está ótimo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Luzes da cidade

Bia, minha filhinha de dez anos, assistiu comigo a um dos filmes que mais gosto da filmografia de Charles Chaplin: "Luzes da cidade". É aquele filme em que um vagabundo (Carlitos) é confundido com um homem rico por uma moça cega que vende flores. Não demora e ele cai de amores por ela. Ao mesmo tempo, o vagabundo salva da morte um homem realmente rico que acaba de ser abandonado pela mulher. Nas noites de bebedeira, o rico homem tem no vagabundo um grande amigo e anda com ele para todos os lados. Quando passa o efeito da bebida, o ricaço não quer saber do vagabundo, não o reconhece. Há muita situações divertidas como aquela em que Carlitos tenta conseguir dinheiro lutando boxe. Depois que o filme terminou, minha filha pediu para assistir tudo de novo. Achei bem curioso esse interesse. Não é a primeira vez que ela vê os filmes de Chaplin e sempre gosta. Ela viu "O circo", "O grande ditador" e agora "Luzes da cidade". Isso mostra como certos autores são grandes. Mesmo com tanto tempo de feitos, são filmes que continuam com algo a dizer. E para todas as faixas de público.

O homem do futuro

Não é nada demais o filme "O homem do futuro", de Claudio Torres. Mas tem uma coisa que faz toda a diferença em relação a outras produções do gênero: Alinne Moraes. É uma pena que ela tenha feito poucos filmes. Alinne é muito talentosa e ajuda bastante ela ter essa beleza grande. Em "Fica comigo está noite", filme bacana do João Falcão, ela já mostrou que tem força na tela grande. Eu me senti recompensado em cada centavo que paguei no DVD de "O homem do futuro" exclusivamente por causa dela. Pena que não possa dizer o mesmo do filme como um todo... Há uma ou outra coisa mais simpática no longa, a canção em torno da qual tudo gira é um clássico dos anos 80, "Tempo perdido", da Legião Urbana, e é bem utilizada e tem tudo a ver com o tema etc. Mas aquela confusão com as viagens no tempo não empolga como deveria. Aliás, esse é um tema batido depois de "De volta para o futuro". Mesmo assim o cinema comercial americano fez coisas muito melhores. E não estou falando de nada que custe rios de dinheiro, não se trata de efeitos especiais e sim de criatividade. Penso nos recentes "Contra o tempo" e "Agentes do tempo", que vi também por agora. O tratamento é muito superior, anos luz. Nenhum assunto deve ser considerado esgotado, sempre é possível tirar algo de um enredo aparentemente óbvio. Ruim é partir do óbvio para não chegar a lugar nenhum. Mas louvo que o cinema comercial brasileiro lute para fazer público. Espero que a gente chegue a algum lugar.


P.S.: E não há como não registrar que Wagner Moura continua sendo um ator importante no cinema nacional, que tem engolido os filmes que faz. Em alguns casos como aqui, e em "Vips", os filmes giram em torno dele, simplesmente.
O ano começando, vinha na preguiça épica lendo dois livros: "O jogador", de Dostoièvski, e "Uma vida de repórter. Do golpe ao planalto", de Ricardo Kotscho. Terminei de ler "O jogador", na verdade, uma releitura. Demorei bastante desta vez, ainda mais considerando que é um livro curto (165 páginas). Estou pelo meio do livro de Kotscho e espero ser bem mais breve com este. O ano começou e espero voltar ao pique de leitura do ano passado. Mudanças na minha vida bagunçaram as leituras, me tiraram tempo e mudaram a minha rotina. Hora de reorganizar as coisas. Este ano, aliás, promete sob diversos aspectos. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Wando

Meus irmãos são metidos a intelectuais. Ô raça miserável! – a dos intelectuais e, pior, a dos metidos a tal. Então sempre lembro de uma reunião em família, isso tem muito tempo, eu era garotão, não sei se tinha chegado aos 18 anos. No meio da reunião, pediram para ligar o som. Eu botei para tocar uma música de Wando que adorava e era sucesso à época. Chama-se “Deus te proteja”. Mal a música começou, a turma toda chiou. Foi uma tremenda falta de tudo eu querer executar tal trilha sonora entre tão poderosas personas. Lembro disso sem mágoa, porém sempre achei que foi um momento revelador. Meu interesse por Wando permaneceu intacto, mas descobri a existência das patrulhas e passei a observar a existência dos “mestres do bom gosto”, gente de todo tipo. Sempre tive opinião e personalidade, graças ao bom Deus. Continuei gostando de Wando e sinto muito pela sua morte, ainda mais do jeito como aconteceu, principalmente porque o cara era jovem. Se não fosse a vida desregrada, poderia ter muitos anos ainda de trilha sonora incrível dedicada às dores e delícias de amor. Gosto muito de Wando. Os cabeções nunca me dobraram. Sou quem sou. Abaixo a letra dessa música deliciosa, que com som, como deve ser, fica bem melhor.


"Deus te proteja
pela onda de alegria
que me invade todo dia
quando encontro com você

Deus te proteja
pelo beijo de pecado,
tão gostoso e tão levado,
tão molhado de prazer

E toda vez
que você cruza meu caminho,
eu esqueço que sozinho
eu nasci e vou morrer

No teu olhar
eu vejo um mundo tão bonito,
tenho fé e acredito
e deixo o amor acontecer

Vem me seduzir,
me confundir, me agradar,
você é louca
eu sou mais louco que você

Vem brincar com fogo,
me queimar e se queimar,
queimando juntos
a gente pode se acender

Eu não vou deixar de amar
por medo de sofrer,
se você quer me dar,
eu quero receber

Vinho proibido
de uma safra especial,
que me embriaga,
me alucina e não faz mal

Deus te proteja
pela falta de respeito,
do meu corpo no teu leito,
quando a gente faz amor

Deus te proteja
por meu jeito atrevido,
que provoca teu gemido,
mas de gosto que de dor

O teu vestido
esconde a parte mais formosa,
peço a Deus fêmea gostosa,
que o amor guardou pra mim

Repete e fala
essas loucuras sem sentido,
bem baixinho em meu ouvido,
me dá mais que eu quero sim

Vem me seduzir,
me confundir, me agradar,
você é louca
eu sou mais louco que você..."

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Breaking Bad

Boa pra c... a terceira temporada de Breaking Bad. A série é uma das melhores coisas da TV em exibição (tá, eu já falei isso de Dexter, já falei de Damages, já falei da melhor fase de Lost e 24h - mas foi sempre de coração). Breaking Bad é o drama do professor de química que descobre que tem câncer, chuta o balde e entra pro crime, começa a produzir e vender cristais de metanfetamina. É surpreendente, bem produzido e entrega interpretações incríveis de seu pequeno elenco. É uma série econômica, há diversos episódios em que pouco ou nada acontece. Mas ainda assim a tensão é constante. E as cenas mais fortes são realmente um soco.Não é fácil conciliar uma vida aparentente banal com a adrenalina de um mundo de crimes. A séria permite viver os dois lados. Nos últimos episódios dessa terceira temporada, eu ficava parado, embasbacado quando terminava e enquanto o letreiro subia - isso quando não gritava, excitado.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Cozido

Enquanto Salvador vivia este momento intranquilo, mantive no sábado o compromisso com a família. Fui eu mesmo à cozinha e preparei um cozido com mocotó entre as carnes.

Como na festa de natal não pude tomar bebida alcóolica, combinei este mocotó em minha casa para poder tomar todas e ter essa desculpa para juntar a família de novo.

Até que fui comportado. Só lá pelas tantas, tomei umas duas doses de conhaque depois de ficar umas horas na cerveja.

Botei pra tocar as marchinhas de Carnaval só para ouvir piadas de cinco em cinco minutos. No fim, acho que as pessoas gostam de marchinhas. São eternas, tem ritmo, não apelam para as partes do corpo nas rimas, nem abusam de duplo sentido como se fosse uma obrigação poética.

Depois, o grande Bezerra da Silva e sua cantilena que evoca a malandragem, a bandidagem, as drogas. Não sei o que seria de Bezerra da Silva se tivesse feito suas músicas hoje, seria fortemente atacado pelos imbecis do politicamente correto.

A pedidos, Raul Seixas dominou uma parte da festa. Um dos meus irmão adora. Todos nós da família temos uma relação afetiva com o cancioneiro de Raul.

Teve mais coisas na trilha da noite, sambas, canções mais atuais de Carnaval e a boa banda "Movidos a álcool", que mistura brega com rock and roll.

Acho que 30% das conversas foram sobre a greve da polícia na cidade da Bahia.

Meu irmão, que chegou a pouco da Europa, me trouxe uma garrafa de vinho do Porto.

O cozido estava delicioso. Só faltou o molho de pimenta.

Com tantos afazeres, quando lembrei da pimenta, o horário já estava adiantado. E a preguiça não me deixou me mover. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012


O que primeiro me chamou a atenção, me dizendo que se tratava de um bom filme, foi a fotografia.

"Precisamos falar sobre Kevin", da diretora escocesa Lynne Ramsay, começa com aquela imagem incrível da guerra de tomates, a tela é tomada pelos corpos labuzados em vermelho sangue.

É uma festa tradicional, mas sabemos que em cinema as imagens se comunicam com o que o filme está dizendo.

A câmera vai fechando o enquadramento até chegar à protagonista, Eva, em êxtase no meio de tudo aquilo.

São os primeiros minutos do filme e estou totalmente conquistado. Se tudo fosse ruim a partir dali, poderia dizer que aquela abertura compensa o restante. Mas nem é o caso.

A abertura é apenas uma cena impressionante num conjunto forte.

O filme é econômico em termos de palavras. Não há necessidade delas. Fala-se muito pouco no filme e o que nos é mostrado é suficiente para a história que se está a contar.

É aquele tipo de filme que solicita o espectador, que se completa com a sua adesão. Não mastiga, não facilita a nossa vida, o que é ótimo. Porque no fim das contas, não há como não entender o enredo, mesmo com as idas e vindas na cronologia dos fatos.

O filme trata da relação entre um garoto e sua mãe, numa família aparentemente comum. Há ainda o pai e a filha caçula.

A mãe é interpretada por Tilda Swinton, que é a grande responsável por boa parte do impacto que o filme provoca; o pai é defendido por John C. Reilly, e o garoto de 16 anos é feito pelo desconhecido (e aqui ótimo) Ezra Miller.

É o tipo de filme que é melhor se não temos muita informação prévia sobre ele. Basta dizer que toca numa dessas situações, nos Estados Unidos, em que um jovem provoca uma tragédia numa escola.

O filme mostra o que há depois disso e, ao mesmo tempo, acompanha a vida do garoto desde o nascimento.

A mãe é o personagem através do qual somos conduzidos à trama.

Fiquei encantado com a qualidade do trabalho, em um filme que não é fácil, e não tem nada de doce das relações familiares que costumam ser retratadas no cinema.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Coisas


Fizeram muita coisa boa no Carnaval. Falo de canções, as marchinhas maravilhosas, que ainda hoje são atraentes e atuais nessa época do ano. Claro que ajuda o fato de o time de compositores das marchinhas mais longevas ser muito bom (gente como Adoniran Barbosa, Mário Lago, Lamartine Babo, Zé Keti, Noel Rosa etc). Estive pesquisando para a trilha sonora de um encontro em casa com a família e revivi coisas deliciosas.

*

Ainda bem que existem as séries para me salvar as noites, porque é muito ruim a novela do Aguinaldo Silva. Em geral, sua falta de senso de ridículo é terrível. Pior, é ele fazendo propaganda dele mesmo como se sempre entregasse uma obra irretocável. Não me incomodo com gente que se acha, tudo bem, é uma maneira de afirmação e auto-estima. Mas é preciso ser realmente muito bom para posar de muito bom, senão fica feio demais. Não dá para achar que é o maior de todos os tempos se não tem condições para isso. Tem que ser pelo menos um Dias Gomes para se achar Dias Gomes. Há acertos nessa novela como em outras, sempre há o que se salve (como a boa construção de Marcelo Serrado; e mesmo no chatíssimo texto e contexto do politicamente correto, Lilian Cabral não consegue entregar um personagem ruim há muito tempo; ela continua ótima). Mas o inverrossímel e o esforço para tratar o espectador como imbecil nessa novela é de doer.

*

Pelo que li sobre o assunto, parece que Rita Lee exagerou na reação aos policiais de Aracaju. Em geral, quando há conflito com a polícia, minha tendência natural é desconfiar dos fardados. Mas, pelo que se demonstra até agora, os policiais não fizeram nada demais, pelo menos nada que justificasse que fossem chamados de "cachorros", "filhos da p..." etc. Apesar disso, fiquei com pena de Rita. Gosto muito dela. Irreverência e atitude não é algo que se vê por aí todo dia...

*

Assisti com atraso monumental à quarta temporada de True Blood. Tanto que já está no ar o teaser da próxima temporada. O que sei é que vi muita gente falar mal na internet. Minha amiga Juliana largou no meio e torceu o nariz. Eu gostei. Há momentos e momentos, altos e baixos, uma ou outra coisa mais chata. No geral, é o mesmo programa de sempre (sexy, irônico, politicamente incorreto, até bobo), um bom passatempo mesmo com os excessos e tudo mais. E o episódio final foi especialmente inspirado e cheio de promessas de que coisas muito boas podem estar por vir. Se não for só promessa...

*

Estou observando com animação e espectativa o movimento "Desocupa, João".

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Não acabe o blog

Depois de tantos anos (o primeiro post no primeiro blog foi em  2005), fiquei pensando seriamente em encerrar esse trabalho.

Tá bom, não é exatamente trabalho. Mas é uma atividade que faço com cuidado, não é um lugar onde despejo mágoas, experiências e pensamentos de qualquer maneira. Queria até fazer mais isso, porém não faço (uma vez escrevi um longo post enquanto estava bêbado, ou quase isso; só para no dia seguinte fazer o favor à humanidade de deletar a baboseira).

Este é um espaço onde eu tento não perder o contato com a escrita. E onde eu registro algumas coisas que me acontecem.

Há uns anos, antes do blog, eu escrevia desvairadamene, com freqüência, contos e poemas. Queria ser o novo Machado, Eça, Neruda ou Pessoa. Imaginava o dia em que estaria com um livro pronto para publicação. Desejei isso e achei que caminhava infalivelmente para esse fim. Não foi o que aconteceu.

Nos últimos dez anos, fui me afastando da produção de textos de ficção. Escrevia apenas por dever profissional. E isso é muito frustrante para quem acha que precisa escrever, criar, que é uma pessoa melhor quando cria textos, inventa histórias e consegue expressar alguma coisa razoável demonstrando talento.

O blog foi uma solução interessante para continuar no jogo.

Nos últimos tempos, porém, fiquei pensando em encerrar tudo, chutar o balde. A verdade é que nunca me importei muito com o que as pessoas achariam, achavam ou deixavam de achar sobre o blog e as postagem.

Se me guiasse por esse termômetro, já teria fechado esse boteco há muito mais tempo. Sempre fiz para mim. Esse é um espaço de mim para mim. O mundo que se f... (ok, não é bem assim - é que às vezes é bom ser dramático).

O que sei é que sou meu principal alvo e público quando publico aqui. Tanto que nunca faço propaganda, não anuncio no facebook ou twitter, não aviso aos amigos. Nunca aviso a ninguém que tem um novo post.

Lembro que Chaplin dizia que fazia cada filme para ele mesmo e que se divertia muito com seus trabalhos, a preocupação com o público vinha em segundo lugar. Não sou nenhum Chaplin, mas acho que é bem por aí.

O fato é que, depois de tanto tempo, estava aborrecido com o blog. E pensei em parar por ali. Depois tive uma idéia melhor, deixar ele ao léu e quando desse na telha, de caju em caju, postaria alguma coisa.

Esses e outros pensamentos flutuavam em redor da minha cabeça. Afastei todos e retomo o blog normalmente.

A nota curiosa é que Eloá, depois de isso já não ser nenhum problema para mim, me disse ontem que eu não acabe o blog. Agradeço a ela por isso.

Mas ela chegou atrasada.

Tudo será como antes. E nada será como antes...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A música segundo Tom Jobim

Vontade de chorar eu tive em pelo menos dois momentos do filme "A música segundo Tom Jobim", de Nelson Pereira dos Santos. Uma é quando aparece Nara Leão cantando "Dindí", daquele jeito dela, maravilhoso. Outra é quando Elis aparece, sapeca, rindo, exuberante, cantando "Águas de Março", com o próprio Tom.

Outros momentos bons, ótimos, estão neste filme lindinho sobre as canções do compositor. E Gal Costa, no início, cantando "Se todos fossem iguais a você", é um desses momentos. Linda Gal.

Eu fiquei doidinho pra ver esse filme desde que soube que ele estava sendo feito. E queria, desde sempre, que minha filha fosse junto. Ela fez dez anos outro dia, pediu para eu não chamar mais de garotinha, quer "mocinha" agora. Tudo bem. Esá crescendo, já pode começar a ver umas coisas mais sofisticadas.

Ela, que só conhecia "Garota de Ipanema", disse ter gostado do que viu. Tanto que prometi lhe comprar o DVD quando sair nas lojas. Bom isso.

Não achei o filme cansativo. É mesmo um grande clipe, com canções, uma depois da outra, mas o trabalho de montagem é feito por um mestre e tudo é tão bem amarrado, que vira mesmo um texto sem palavras, sem explicações desnecessárias. Nem mesmo a identificação de queme stá cantando o quê. Confesso que senti falta disso, mas não foi nada que tenha me prejudicado a fruição. Entendi a proposta de Nelson e, no final das contas, achei que a identificação não é essencial.

As informações aparecem no final e vemos que constelação de estrelas nacionais e internacionais desfilam pela tela. Para mim um dos momentos de baixa foi a participação de Carlinhos Brown - olha só, em geral, gosto de Brown - mas parar a música no meio, pedir às pessoas que coloquem a mão no coração e começar a batucar mimetizando as batidas cardíacas, me pareceu meio ridículo.

Nada que prejudique o sentimento de que se está diante de um filme importante. E delicioso.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Lado b

"Coisas sagradas permanecem/ nem o demo as pode abalar..."

Tenho um "Lado b", é o meu "recanto escuro" (para fazer referência ao delicioso disco de Gal a que pertence a citação acima). Gosto desse meu lado mais sombrio e também autêntico, popular e totalmente desencaixado dos hábitos dos meus amigos. Esses dias mesmo, chutei o balde e fui sozinho encher a cara, ouvir uma trilha de seresta, arrocha, funk e não sei o que mais em um desses botecos e outras casas da vida em estilo "pé sujo". Depois, passada uma semana, repeti a dose. A minha mulher ficou p... da vida na primeira vez. Na segunda, já aceitou melhor. Ela sabe que uma vez ou outra eu me entrego a esses prazeres mundanos. Há anos sou assim, ela é testemunha. É o meu lado b que às vezes fala mais alto. Por muitos anos, meu parceirão desses programas era meu amigo Sérgio. Ele era um especialista em tudo que diz respeito a esse meu lado b. Ele me ensinou quase tudo de bom que eu sei nesse terreno. 
"Sou um liberal ou libertário moral, alguém que não acha que o progresso seja a fonte dos males, alguém que acredita que nossa inclinação pelo conhecido não pode jamais apagar nossa atração pela aventura. O conhecimento não é 'virtude', no sentido de que não redime ninguém. Mas anima, dá prazer - e principalmente alternativa aos desprazeres. Não vejo valor inerente à ignorância. Vejo valor em não crer que haja sabedoria plena." (Daniel Piza)

Sempre li e acompanhei com interesse as coisas que o jornalista Daniel Piza escrevia no Estadão. Fiquei surpreso e triste com a sua morte.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O jogador

Em passo de tartaruga ainda lendo "O jogador", de Dostoiévski. Eu sei, eu sei, podem atirar as pedras. É uma releitura, o que seria mais um motivo para ler com alguma celeridade num ano marcado por boas e muitas leituras. Mas eis que esse quinto final do ano me trouxe muitas novidades e me ocupou o tempo de uma forma tremenda. E mudou minha rotina, pôs meus hábitos abaixo com o carro e o novo endereço. Resultado: quase parei de ler o livro. De vez em quando, como hoje, encontro um tempo para ler duas ou três páginas. Não há complicação, a leitura flui como se não a tivesse deixado. Bom demais a leitura. Vou tomar vergonha e dar atenção às coisas importantes da vida.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Meu tio matou um cara

Já tinha visto, mas resolvi rever "Meu tio matou um cara", filme bacana do Jorge Furtado, desta vez com minha filhinha de 9 anos. Eloá achou o filme "adiantado" pra ela, quer dizer, tratando de temas que deveriam ser apresentados a ela mais adiante (namoro, sexo etc). Eu me preocupo com os programas que ela vê e sei que nas novelas, mesmo as que são exibidas em horário de criança, tem referência a namoro, sexo, essas coisas que devemos ter cuidado em se tratando de crianças. Mas o filme de Jorge Furtado é tão simpático, e narrado da perspectiva de um garoto, que eu resolvi dar esse prazer à pequena e ficar monitorando. Mas nada que está mostrado é "pesado" ou inadequado a ponto de ser proibitivo pra ela. Até seus temas mais picantes (Déborah Seco seminua, por exemplo), eu os considerei pouco para inviabilizar o filme para a pequena. Até porque o principal é que é também uma história de detetive, com mistério em torno de um crime, suspeito de assassinato, mulher fatal, e uma dupla esperta de personagens centrais (feitos por Darlan Cunha e Sophia Reis), o herói e a mocinha. Tudo é muito leve, inteligente, e em situações bem aproveitadas pela história, que na verdade é até simples. Gosto de ver filme com a pequena, ela adora esses programas. E sempre tem depois uma conversa para falar sobre o que vimos, chamar a atenção para algum ponto e rir relembrando alguma passagem. Uma boa diversão.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Daí eu ouço Gal Costa cantando "Baby", acompanhada por Caetano Veloso ao violão. E me vem à cabeça uma vida inteira que tive antes, em outra época, quando muito ouvia essas coisas, acompanhava os movimentos, sabia quem lançava discos. Ia fazendo minha vida com essa trilha sonora de música popular brasileira. Com os amigos, na rua, ouvia o rock brasileiro que ainda ecoava forte no final dos anos 80 e em todos os anos 90. Mas dentro de casa, a tilha era de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal e Bethânia, Dorival Caymmi, João Gilberto, Tom Jobim, entre outros medalhões. Foi o início de adolescência. Não poderia haver trilha melhor, seja a de dentro de casa ou a das ruas. Outro dia Adriana Calcanhoto falava que há uma música brasileira correspondente a cada situação que a gente vive. É possível ilustrar qualquer situação com uma música do nosso cancioneiro. Ela está certa, tem tudo a ver. Tenho essa mania de pensar numa música para cada situação passada, presente ou futura na minha vida. A canção sempre teve um papel importante pra mim. Lembro que quando conquistei a minha primeira namorada; na época escrevia poesia, e fiz então uns dez poemas para serem gravados por ela sob o som do piano de Johannes Brahms. Ficou uma coiisa linda. Até hoje lembro de alguns trechos e me arrepio de lembrar. Música é um troço importante demais.