terça-feira, 31 de maio de 2011

Bohumil Hrabal

Terminei de ler "Eu servi o rei da inglaterra", obra do tcheco Bohumil Hrabal.
Indicação de leitura do amigo Franklin, o livro é delicioso de acompanhar.
Hrabal tem um jeito curioso de escrever. Todos os capítulos começam igual: "Prestem atenção àquilo que lhes conto agora". E terminam com a frase: "Está bom para você? Isso é tudo que tenho para hoje".
O humor é um traço que salta, mas o livro é mais triste (e terno) do que engraçado.
A graça talvez seja daquele tipo involuntária que nasce das situações improváveis. O aparente humor não esconde uma vida cheia de golpes de sorte e situações dolorosas vivida por Ditie, garçom e anti-herói da trama.
O personagem chega ao seu ápice na profissão após comprar um hotel e passa por duras situações até tornar-se um milionário.
A maior parte do livro acompanha esse périplo de Ditie servindo mesas, atendendo em hotéis, aprendendo com maîtres experientes. É com um desses profissionais que entendemos o título da obra. O maître, que serviu o rei da Inglaterra, ensina Ditie como se portar e crescer na profissão.
As lições dão muito certo, tanto que o garçom tem a oportunidade de imitar o mestre e servir o imperador da Etiópia em um jantar especial. Passa então ele a usar sua própria frase, sacada em diferentes situações de sua vida. "Como descobriu tal coisa? Eu servi o imperador da Etiópia".
A certa altura, o personagem se envolve com uma mulher alemã no período anterior à ocupação de Praga pelos nazistas. É hostilizado pelos tchecos, muda-se para a Alemanha onde casa, tem um filho e arranja nova ocupação.
O retorno à Praga se dá durante o pós-guerra, a Alemanha já está derrotada, é quando ele faz fortuna e compra o hotel.
Substituindo os alemãs, agora são os russos que ocupam a cidade e esse fato será mais um revés na vida de Ditie.
O livro trata de um período histórico, aponta o horror da situação, sem deixar de lado o seu personagem principal. Está tudo interligado.
Tudo é meio caótico e absurdo na narrativa de Hrabal.
Seu texto é corrido, as palavras se ligam umas nas outras, os parágrafos são enormes, num jogo inventivo onde a narração pode sair das mãos do narrador-personagem, passar a outro e mais outro e voltar ao narrador original. Tudo isso na mesma sequência, sem que isso confunda o leitor.
Boas obras nos dão prazer mesmo que fale de coisas angustiantes. O segredo é como cada autor nos apresenta suas histórias.
Gostei mesmo de Hrabal, vou ficar atento nos meus próximos passeios pelas livrarias...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Filmes

Dois filmes bem diferentes, ambos ruins.
After Life traz uma história que tenta segurar ao máximo uma ambiguidade sobre um homem que fala com mortos.
Ele fala mesmo com os mortos que prepara para o funeral ou é um assassino que arma para enterrar vivas pessoas dadas como mortas?
Seria uma premissa, talvez, razoável se bem manipulada.
A verdade é que o trailer que coloca essa situação esgota todo o interesse do filme (e o que me instigou foi o trailer). O resto é perda de tempo.
Corrigindo: seria perda de tempo, se não fosse sempre um prazer ver atuar a Christina Ricci.


Eu pensei que o filme seguinte não poderia ser pior. O filme seguinte foi o "Anticristo", do diretor dinamarquês Lars Von Trier.
Tenho respeito pelo diretor por "Dogville", de que gosto muito, e não desgosto de "Dançando no escuro" (os dois filmes dele que tinha visto antes ).
Depois de "Dogville" fiquei bem curioso para ver "Manderlay", do mesmo diretor, com a minha queridinha, a atriz Bryce Dallas Howard.
Mas "Anticristo" não me deixa nada animado para ver qualquer outra coisa de Lars Von Trier.
O filme é muito ruim, embora pareça um trabalho muito profundo sobre a natureza humana, os processos psicológicos, a dor pela perda de alguém próximo etc.
Na verdade, é uma experiência de sádico.
O começo com aquela câmara lenta, estilizada, a música pontuando a sequência de sexo explícito, a criança que caminha para a morte.
Eu já desconfiei ali que não devia vir grande coisa pela frente.
E estava certo, a cena inicial é o que há de melhor no filme inteiro. Nem por isso significa que é coisa boa, que valha a vista, que traga algo significativo para o pobre espectador.
Daí por diante começa o filme, repartido em capítulos, numa historinha em que o marido submete a esposa a tratamento para lidar com o luto, sem remédios ou métodos convencionais.
Vão parar numa mata, o "Éden", onde se irão desenrolar novas cenas de sexo, confrontos entre eles, experiências sobre medo, situações de mutilação, tortura e por aí vai.
Poucas coisas no cinema tem sido tão desagradáveis quanto esse "Anticristo".

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Praga

Gostando é pouco para falar de "Eu servi o rei da inglaterra".
O livro do desconhecido (para mim, pelo menos) autor tcheco Bohumil Hrabal.
Ainda não terminei, vou voltar a falar dele aqui, mas fiquei com muita vontade foi de conhecer a cidade de Praga, onde a maior parte da ação se passa.
A Alemanha citada no livro é a da segunda guerra mundial, com os soldados e simpatizantes saudando as teorias arianas do fürer.
Sempre tive vontade de conhecer a Alemanha, especialmente Berlim. Com a leitura, apenas enovei o desejo de conhecer o país.

Tron

Sabe, não gostei tanto assim de Tron.
Engraçado isso, porque quando vi o primeiro trailer, só faltei bocejar.
Mas aí os comentários foram aparecendo e sempre uma onda boa em torno do filme e tal.
Fui com a onda e criei expectativa. Uma expectativa que só aumentou depois que vi "Coração Louco", com Jeff Bridges e, ainda mais forte, "Bravura Indômita" - meu preferido dos filmes do Oscar deste ano.
Mas Tron, sem ser chato, não é nenhuma obra do outro mundo (em certo sentido, até é).
Também não é ruim. É médio, se é que você me entende.

Além da vida

Fui atropelado por um caminhão, acho.
Dificilmente - e cada dia é mais difícil - vejo duas vezes o mesmo filme.
Menos ainda no mesmo dia.
Pois fui atropelado por um caminhão, a sensação foi essa, depois de ver "Além da vida" ("Hereafter"), o último trabalho do diretor Clint Eastwood.
Eu não sei exatamente o que me capturou tão forte neste filme. Esse tema não costuma me impressionar (não em ficção, depois de ter visto tanta coisa ruim).
Acho que está certo quem avalia que o filme do diretor é como os outros, não é filme sobre o "além", mas sobre as misérias tão nossas, tão terrenas.
E nisso, o filme é belíssimo.
São três histórias que caminham separadas desde o início. Lá pelos minutos finais, os personagens se encontram. Ardil de roteiro que poderia soar 100% artificial. Mas o artifício, nas mãos de gente como Clint, é matéria de deleite. E o resultado é orgânico, bem amarrado e, principalmente, faz todo o sentido.
Caramba, o garoto que perde uma pessoa importante e persegue a comunicação com o morto, aquele é um personagem que não há como não se ligar. Fiquei pensando em adotar um garoto, tão safo e espitiruoso como ele.
Terminei o filme com fome - o personagem do Matt Damon faz um curso de culinária a certa altura.
Terminei meio solidário, meio com peninha das desventuras da jornalista francesa que quase morre sob um tsunami.
E fiquei com vontade de viajar o mundo - o filme transita em variadas locações.
No fim, precisava assistir de novo. Chamei a mulher e até a filha pequena para verem comigo.
Estava com o longa "O vencedor", que foi deixado de lado.
Clint, com ternura e a habilidade de sempre, me fisgou mais uma vez.
Nos últimos dez anos, não sei, não faço outra coisa da vida senão esperar o próximo filme de Clint.
E sempre sou recompensado à altura.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Eu servi o rei da Inglaterra

Da prosa barroca e política do brasileiro João Ubaldo, caio nas mãos de um tcheco. A transição é boa, porque o livro ("Eu servi o rei da Inglaterra") é um relato bem humorado e extremamente criativo. O autor é Bohumil Hrabal, conterrâneo de Kafka e Kundera. É um livro também verborrágico, o narrador emenda suas falas uma na outra de um jeito diferente do que estamos acostumados. Seus parágrafos são enormes (mesmo), coisa incomum (mas fácil, fácil de navegar). O ritmo é outro. Estou nas primeiras páginas e gostando muito. Não conhecia o autor e soube que uma adaptação em filme de uma de suas obras conquistou o Oscar de filme estrangeiro. Quem me trouxe o livro foi o amigo Franklin no dia do meu aniversário.

Terminei "Viva o povo brasileiro", foi um alívio atravessar as 700 páginas. Volto a afirmar que é um livro de alto nível e bem escrito. Também continuo achando excessivo e mais complicado que o necessário em diversos momentos. Mas vale a pena. O final, então, eu gostei muito daquela solução encontrada por ele para falar do futuro.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O (não) acontecimento

Faz tempo que vi o show de Caetano Veloso e Maria Gadu aqui em Salvador. Não comentei à época. Agora leio uma entrevista dos dois por ocasião do lançamento do dvd resultante desses shows pelo país. Acompanho a trajetória de Caetano, discos, performances e polêmicas, há bastante tempo. Gosto muito dele, fui formado em boa medida com suas canções e de outros dessa geração de artistas. Maria Gadu, não desgosto (também não posso dizer que me empolga). Eloá é quem gosta muito, ouve, quer ir aos shows. Foi por isso inclusive que fomos ver os dois na Concha Acústica do TCA. Chegando no show, fiquei supreso com o meu desinteresse. Não que fosse ruim, não era. Mas eu pensava comigo que esse deveria ser um tipo de encontro incrível - uma jovem e promissora cantora e um medalhão ainda com muito gás. Não foi incrível, longe disso. Mesmo com muitas canções que marcaram uma época, de fato o que me despertou do meu torpor foram as leituras de "Trem das onze" e "Rapte-me, camaleoa".

Eu devo estar ficando velho.

Ou de fato foi mesmo insosso o que poderia ter sido um acontecimento.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Best seller

Em São Paulo, o amigo Hederverton me falou desses livros de Stieg Larsson, começando por "Os homens que não amavam as mulheres". Não disse muito, apenas que começou a ler e ficou viciado, não conseguiu largar. (E faz todo o sentido, a frase de divulgação estampada na capa do terceiro volume é do Guardian "Atenção: esta trilogia é altamente viciante".) Eu não conhecia, nem de fama nem de nada. Depois dessa conversa, Hederverton combinou de me enviar a trilogia para matar a curiosidade, a minha. Ele deixou claro que não é alta literatura e tal. Nem precisava da ressalva. Eu gosto de ler best seller se for minimamente divertido. Ninguém lê só pela alta cultura. Como ninguém come apenas pelo valor nutritivo. No cardápio dos livros, tem seu lugar um "Os sertões", como "O céu está caindo". E posso assegurar que Hederverton está com muitos pontos. Depois de ter lido vários títulos de Dostoyevsky, e até Stendhal, está com toda a moral e liberado para variar como quiser.



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Woody Allen

Estava em débito com Woody Allen. Fazia tempo que queria ver esse filme, "Você vai conhecer o homem dos seus sonhos". As pessoas falam que Allen faz um filme por ano e se repete. Eu me delicio com cada filme seu e aguardo ansiosamente cada projeto. Geralmente, um filme "menor" do cineasta costuma ser muito superior a maioria esmagadora dos filmes atuais. Este aqui fala de relacionamentos, traz um elenco numeroso e não se perde ao tratar de cada um dos casos apresentados. O que achei curioso é que lendo sobre o assunto, vi que muitos críticos que falam mal do filme citam pelo menos algumas cenas que são memoráveis. O engraçado é que cada um cita cenas diferentes. Para mim, é sempre um prazer ver um novo filme do diretor. Adoro o humor, o pessimismo e a alta qualidade. Sempre um ótimo programa.

Vi ainda "Homens em fúria" com o trio Robert De Niro, Edward Norton e Milla Jovovich. O filme não é grande coisa, mas a Milla está incrível, leva o filme no bolso com sua imensa sensualidade. Linda como nunca, sua presença em cena vale cada centavo pago no ingresso (no caso, locação do DVD). Dá pra se apaixonar fácil pela Milla nesse filme, a gente entende bem quando o personagem do De Niro, todo certinho, cai de quatro por ela.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Trinta e seis

Faço 36 anos domingo. Caramba, são 36 anos! Minha querida amiga Najara, que faz 35 um dia antes, me diz essa coisa que mal percebemos e o tempo avança. Ouvir isso (e viver isso) é forte. Muito mais que ler em mensagens clichês que nos chegam por email. Quando ainda não tinha 15 anos, sonhava chegar aos 30. Queria ser homem rápido. Achava que ali estava uma idade intermediária e perfeita. Trinta! Não garotão demais, nem velho, menos ainda "coroa". Longe disso. Acreditava que os 30 anos me daria o vigor da juventude e a experiência num mesmo pacote. Um rapagão, cara de homem, contas a pagar, responsabilidades do mundo adulto, mulheres... Os trinta chegaram e estão voando. Hoje já estou mais perto dos quarenta. Que medo! Não, não é medo. É vontade de acontecer, tipo saber que estou aproveitando bem o tempo que tenho sobre a terra (pois é, me ocorre agora essa frase "Ninguém mais verá Osama Bin Laden andando sobre a terra", palavras do presidente americano se referindo ao famoso terrorista abatido). Quero aproveitar o tempo que tenho. E isso significa viver melhor, ter mais momentos com minha filhinha, com minha mulher, com meus pais e com meus amigos. Tenho trabalhado - não é de hoje - para viver bem com Eloá. Porque, parceiro, não é fácil aturar uma mulher. Como não é fácil aturar uma filha. Aliás a convivência é um troço difícil sempre. Sei de filhos que odeiam os pais, com razão. Eu mesmo já odiei meus pais um milhão de vezes no passado (os dinossauros ainda andavam sobre a terra). Já odiei minha filha não poucas vezes (só ontem, foram duas). E canso de odiar Eloá (e me divirto fazendo ela me odiar). Mas no fim, não consigo viver sem nenhum deles. O amor é muito maior que as pedras no sapato. Essa convivência (muitas vezes forçada) tem seus momentos de inferno, mas no balanço final é o que nos ajuda a seguir. Trinta e seis anos. Claro que ainda sou um garoto (aquele, chegando nos 15), não consigo pensar diferente. Eu me sinto acumulando personagens dentro de mim. Aqui dentro estão todas as pessoas que fui. Vamos nos intercalando, todos opinam sobre tudo, uma bagunça. A palavra final é sempre do mais velho, claro. Questão de hierarquia. Estou agora terminando o meu turno e dando lugar a mais um que está chegando. Domingo, um novo comando assume o posto. Daí me junto aos outros eus. De minha parte, estarei aqui opinando e tentando me fazer respeitar. Porém, evidentemente, o 36 é que será o cara. E eu aceito isso. Como diria Shakespeare, a fila anda...

Deixo as palavras finais deste post para o poeta Carlos Drummond, que tem esses versos bonitos sobre o tempo que passa:

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial.

Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.”

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Viva o povo brasileiro

Não quero ser crucificado, não quero ser chamado de ignorante. Entretanto, entrando pelas 500 e poucas páginas de "Viva o povo brasileiro" (eu sei, já deveria ter terminado) não tenho todo o prazer que achei que teria. Dito de outra forma, o livro não atendeu às minhas expectativas. Deixa eu explicar. Primeiro, tenho que dizer que não são poucas as passagens geniais no livro. Posso citar trechos de diálogos incríveis, muito bem amarrados, contando geralmente com a ironia e o cinismo onipresente de João Ubaldo - seu traço mais atraente na minha opinião. Há também passagens curiosas, romanescas, de seus personagens, que (não poucos) são heróis da formação do país. Negros fortes e agéis, mulheres de personalidade, velhos incríveis. Há, claro, muito do mundo imaterial, descrição de almas que encarnam e desencarnam, espíritos de diferentes tipos, deuses e santos da cultura africana (ou já afro-brasileira). É preciso também registrar que há na trajetória que ele conta diversos momentos da história com H, momentos como as lutas de independência, a Guerra do Paraguai, um pedaço do envolvimento de baianos na Revolução Farroupilha. Em tudo isso há situações deliciosas de acompanhar. Mas é preciso paciência com a narrativa caudalosa do autor. É preciso atravessar páginas e páginas de "literatura" e "poesia" para ter momentos de história e narração que arrebatam. Não sei se me faço entender. Não digo que é um livro ruim, até para isso é preciso ter um preparo e uma cultura que eu não acho que tenha. Sei que gosto de ler livros. E mesmo na bibliografia de João Ubaldo há obras bem mais enxutas, que facilitam mais a vida do leitor. O livro até poderia ter as 700 páginas que tem, não falo contra isso. Só acho que não precisava ter duzentas palavras quando cabiam vinte (nem dez quando cabem duas). João Ubaldo não é nada econômico. E isso, às vezes irrita de uma forma terrível. Vê-se que é uma obra que deve ter dado muito trabalho. Apesar de tudo, se você me pergunta se eu me arrependo da leitura, a resposta é não. Essas ilhas de arrebatamento de que falei valem o esforço. E ainda que não contenha sua sanha em escrever pelos cotovelos, João Ubaldo mostra uma imensa qualidade de texto.

domingo, 1 de maio de 2011

Machete

Achei que eu ia gostar muito mais de "Machete", filme do Robert Rodrigues. O projeto nasceu a partir de Grindhouse, que juntou um filme de Rodrigues e outro de Tarantino exibidos juntos, com direito até a trailer feito especialmente para fazer a ligação entre os filmes como se fazia antigamente. O projeto não fez o sucesso que se esperava e os filmes foram exibidos separadamente fora dos EUA. Eu vi a parte do Tarantino, "À prova de morte", um trilher muito bom sobre um assassino sobre rodas. "Machete" era um trailer de Grindhouse que Rodrigues decidiu transformar em longa-metragem. O filme tem seus momentos e faz um sem número de homenagens e referências. Mas, sinceramente, não gostei. É o tipo de filme B que poderia ter melhor resultado em boas mãos (Tarantino, por exemplo). Rodrigues não tem o mesmo talento do seu amigo, embora se esforce. Uma coisa, não há como negar, o filme pesa a mão em mostrar nudez, peitos de fora, mocinhas em roupa super apertada, decotes e saias curtas. Ainda não sei se acho boa sacada ou apenas vulgar a primeira cena da moça nua que tira um telefone celular (não posso dizer de onde) depois de dominar o herói e o entregar a um mercenário. O protagonista nas mãos do improvável Danny Trejo foi uma coisa bacana, um ator que passou a vida fazendo coadjuvantes, vilões e remediados no cinema. Ele está muito bem no papel. Robert De Niro faz um político criminoso nos mesmos moldes dos seus papéis dos últimos anos, sem sal nem açúcar. Jessica Alba e Michelle Rodriguez ajudam a salvar o projeto e a dar viço ao longa metragem. E não está mal a Lindsay Lohan no papel de uma viciada que a certa altura veste-se de freira e empunha uma arma. Visualmente, pelo menos, cria impacto.

*

Vi também "Red - Aposentados e perigosos" que reúne um grupo de atores experientes - Bruce Willis à frente - para viver uma aventura de espionagem que soa meio como uma brincadeira entre amigos. Não vi muita graça, embora não seja desagradável ver atores veteranos (bons atores como Brian Cox, Helen Mirren, Morgan Freeman, John Malkovich) juntos. Na mesma linha, sobre o universo de espiões, é muito mais divertido (e inventivo) o longa dos irmãos Coen, "Queime depois de ler", com vários atores conhecidos também. O filme dos irmão é uma comédia declarada. Este "Red", embora seja tirado a engraçadinho, se leva muito mais a sério.

Thor

Gostei do "Thor" nessa versão apresentada pelo diretor Kenneth Branagh. Divertido, engraçado em alguns momentos, sem muito barulho, sem irritar. Vi alguns dos filmes de Branagh ("Hamlet", "Muito Barulho por nada" e "Frankenstein de Mary Shelley"). Fiquei besta com seu Hamlet, de chorar, durante a exibição. De lá pra cá, presto atenção em tudo em que Branagh se envolve (como foi o caso do filme "Celebridades", em que ele faz um alter ego do Woody Allen). O núcleo importante do filme está em "Asgard", terra em que Thor é príncipe herdeiro, precisa se cuidar por causa do ciúme e inveja que desperta em seu irmão Loki e defender o trono do pai, o deus Odin. Esse trio dá pano para o diretor trabalhar com o background que possui no teatro inglês e com as várias adaptações que fez de Shakespeare. A mocinha é a Natalie Portman. Quem a viu em Cisne Negro talvez estranhe seu personagem bem menos complicado aqui. Todo o filme é assim, aliás, descomplicado e divertido. É o que se espera de um blockbuster - o que eu espero, pelo menos.