sexta-feira, 21 de maio de 2010

Furacão Elis

Difícil falar sobre um livro cuja personagem central tem tanta conexão com a sua vida. Talvez não seja difícil. Eu é que sou bocó mesmo. Me desmancho quando penso em Elis Regina. Não saberia dizer quando comecei a gostar dela, acho que nasci gostando. O livro "Furacão Elis", de Regina Echeverria, me trouxe de volta a figura de Elis. Muita coisa do passado pulou no meu rosto. Falando do livro propriamente: ele é rico em depoimentos, alguns bem especiais, mas, no geral, achei que a autora usou demasiado esse recurso de abrir aspas. Ficou como um documentário de TV. A autora pega da palavra apenas para introduzir a fala seguinte. É uma mediadora. Talvez não seja um defeito em si, mas me incomodou não ter a leitura indo embora sem que eu pense nela, na estrutura. Queria que a autora tomasse as informações para si e falasse como alguém que chegou àquele ponto por força da pesquisa. Ela entrega a responsabilidade pelo que diz à fonte. Tipo, é fulano que está dizendo. Senti falta de um mergulho maior, de uma contextualização maior, de saber mais sobre personagens que cruzaram a vida de Elis. Um monte de gente aparece e some. Sobre sua família, por exemplo, fala-se muito pouco e a impressão que passa é extremamente unilateral (da perspectiva de Elis). Foi um perfil mais ou menos tridimensional de Elis, rodeada de perfis rasos de todos os outros personagens. Fiquei mal acostumado lendo excelentes biografias. Talvez esteja querendo algo que a Echeverria não se propôs a tal. Mas louvo seu trabalho, ela ralou bastante e conversou com as pessoas certas. Ia lendo e pensando em Elis. Não tenho dúvida, amo essa mulher. Como é incrível. Falar que ela era uma pessoa difícil, como falam algumas amigas minhas, não consigo compartilhar com isso. Difícil todos nós somos. Elis tinha seu tanto de complicação, mas era normal dentro dos limites da loucura de todos nós. O que me pareceu foi até o contrário: que ela era muito sensível, muito emotiva, muito carente. E amava demais. Esse livro é muito doido. Não quero ficar aqui a criticar o trabalho suado dos outros, mas poxa... Sem que a heroína ou qualquer outra droga tenha sido mencionada antes no livro, de repente, a Elis Regina acorda morta, vítima de overdose. Há uma explicação pela metade, trazendo razões do relacionamento amoroso (ela havia brigado com o então namorado, o advogado Samuel MacDowell). Putz, nenhum sinal indica que chegaríamos nisso. O livro não apresenta um único ponto que antecipe ou prepare o cenário que veremos no final. Nesse momento, fui meio que surpreendido. Parece que o livro fica na superfície. Não estou criticando. Funciona como reportagem. Como um documento para entender melhor como foram as coisas, eu ficaria com muito ainda a desejar. A autora tinha uma ligação com Elis, eram amigas e tal. Não tenho dúvida de que foi feito com coração e boa fé. Mas senti falta de mais.

Estou escrevendo este post, ouvindo Elis e tomando um licor. Então, releve qualquer sentimentalismo.

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