quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Bolt

Fui com minha filha e com Eloá ver "Bolt - O Supercão" ontem no cinema. Foi o resultado de uma troca que fiz com ela, porque não queria levar a pequena para o Carnaval. Acho que ela saiu ganhando. A animação é muito divertida, o pulso do filme é de ação, mas ao mesmo tempo é comédia, aventura e road-movie para crianças. O cãozinho é muito carismático, leio dizer que o John Travolta faz toda a diferença no original, mas gostei muito da versão dublada em português. Me amarrei na gata de beco, com todo aquele charme, e o hamster é hilário. Os olhos de minha filha brilhavam e ela passou o resto do dia elétrica, certamente por causa do filme. Bolt concorreu ao Oscar junto com Kung Fu Panda e Wall-E na categoria de melhor filme de animação. Os três são muito bons. Mas Wall-E tem a Eva e aquela homenagem ao cinema mudo que são bonitas demais. E ressuscitar o robô vilão de "2001 - Uma Odisséia no Espaço", de Stanley Kubrick, foi outro acerto. Kung Fu e Bolt são divertidos e envolventes. Mas Wall-E é poesia.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

William Hurt

Finalmente comecei a ver a segunda temporada de "Damages", meu vício no ano passado (um deles), com Glenn Close e Rose Byrne (ótimas). Nessa season two, temos a inclusão de um novo e misterioso personagem encarnado no ator William Hurt, que é maravilhoso. Seus duelos com Glenn Close, sua dubiedade, seu temperamento instável, dão ao personagem uma complexidade fascinante. A série é de alto nível, mas quando Hurt está em cena é ainda mais saborosa.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

9

Foi uma questão de honra para mim quando Eloá disse que não amou a minha omelete. Não falo isso com convencimento. Gosto de desafio. Achei que poderia mexer na receita até chegar num ponto de consenso. Eu não sabia fazer omelete até outro dia. Depois que aprendi, de um jeito bem simples e básico, fiquei muito feliz: apenas ovos e um pouco de sal e pimenta, além de um pouquinho de ervas por cima depois de pronta. Não precisa nem de recheio. Mas Eloá queria com o recheio, vamos lá. Fiz umas opções pensando nela. Eloá não se entusiasmou com as que fiz com queijo e presunto, nem com a de carne, menos ainda com a que recebeu tomate, cebola e pimentão picados. Eu adorei todas essas opções. E em todas colocava um bocadinho de alecrim como toque especial. Só ontem de manhã eu consegui agradar um paladar tão exigente como o dela. E a mudança não foi radical. Quando ainda estava mexendo os ovos com o batedor de arame, acrescentei uma colherinha de chá de farinha de trigo. Bastou. O resultado foi que a omelete ficou mais sólida, menos macia, mas fácil de manipular sem quebrar. No sabor, o gosto da farinha aparece, sutil, mas aparece. Foi o suficiente para Eloá me ligar para dizer que a omelete estava ótima, nota 9. Adoro desafio. E não vou descansar enquanto não levar um dez.

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Asfalto selvagem

“Aquela voz de homem, densa e, apesar disso, de uma doçura viril, a assustava. Sentia, realmente, um medo instintivo que, ao mesmo tempo, era de uma voluptuosidade quase insuportável. Todas as raízes do seu ser estavam crispadas. Engraçadinha já olhara várias vezes os antebraços do médico e pensa com uma angústia deliciosa: — “Parece gorila!” Ao mesmo tempo, imaginou-se raptada, numa floresta, por um macaco gigantesco. Nua, nos braços do King-Kong do filme.”

Lendo Asfalto Selvagem dá para entender bem o escândalo que Nelson Rodrigues causou na época. O livro foi publicado em capítulos, diariamente, por seis meses, no jornal “A Última Hora”, em 1959/1960. Estou lá pela página 140 e desde a primeira página é difícil cada vez que preciso interromper a leitura. O livro é magnético, fascinante, e sai derrubando tudo pela frente. Quando a gente pensa que a ousadia foi longe, aparece outra provocação e outra e mais outra. Mesmo hoje em dia uma história como a de Engraçadinha seria provocativa. Há 50 anos então... O melhor de tudo é que Nelson tem um estilo bem próprio e a qualidade do seu texto é monstruosa. Muito, muito bom.

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Nasce um clube de leitura


Acho livros uma diversão da maior importância. Gosto de cheirar os novinhos, de recuperar os mais velhos e de distância dos estropiados. Tenho os meus autores favoritos, os livros marcantes de diferentes fases da minha vida e sempre estou acompanhado de algum exemplar. Por isso recebi com muito entusiasmo a idéia das meninas do meu trabalho de fundar um clube de leitura, o Boca de Fumo. O nome surgiu como uma brincadeira e ficou. Tanto melhor. Na imagem que ilustra este post estão os primeiros bravos membros do clube que já começou a funcionar. Da esquerda para a direita estão: Admilson, Flávia, Marlla, Najara e Eduardo. É o início de um acontecimento revolucionário - ao menos para os cinco garotos de Liverpool, digo, Salvador.

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Cinema

Minha amiga Marlla errou. Não é verdade que eu deixei o cinema pela cozinha. Não é porque eu tenho mais histórias para contar sobre peripécias na cozinha do que sobre a sala escura que abandonei a sétima arte. A verdade é que eu sou mesmo uma cara de lua, tenho minhas fases. Ultimamente, no campo do audiovisual, tenho visto mais séries. Especificamente Prison Break. Estou na dívida com "Alice", "Dexter" e até "Demages", que adoro, e já estou de posse de alguns episódios da segunda temporada. Como explicar isso? Não vou ao cinema há uns dois meses. Em compesação, fui a muitos programas com amigos, com cervejinha e tal. Ok, pode me chamar de cinéfilo de meia tigela. Devo ser mesmo. Mas não é porque não estou com uma mulher que não penso nela, não tenho saudades. Tenho saudade dolorida de ver filmes na tela grande. Era a minha única, admitida, amante. Ultimamente só tenho feito essas traições em pensamento. Está vendo como sou um cara certinho? Se apostar nisso, ninguém erra.

Fácil ser feliz (em dez lições)

1. Se brigar com sua mulher, não fuja pra casa da mãe de madrugada (é feio).
2. Leia bons romances (os escrotos são os melhores).
3. Faça exercício (sexo e lavar prato não contam).
4. Evite gente chata como o Reinaldo Azevedo e o Millor Fernandes.
5. Ande descalço em sua casa (e nua na minha, se for mulher).
6. Visite um hospital para crianças com câncer uma vez por ano (e um puteiro de vez em quando).
7. Recite um poema em voz alta toda semana (se o poema esculhambar o governo, melhor).
8. Leia o "Eu gosto de uma coisa errada", o "Edu no Brooklyn", o "Fete Sexy" e o "Blablablog" todos os dias.
9. Não deixe de acompanhar o "As casas espiam os homens" nem quando estiver no, sei lá, "Boca de galinha" (leva o laptop, pô).
10. Aprenda a gostar de música clássica – Wando, Amado Batista e Waldick Soriano são um bom começo.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A linda Daniela Sarahyba diz que recebe cartas com foto e com propostas de casamento do mundo todo. Já recebeu proposta até de um soldado no Iraque. Com essa, eu desisto de mandar minha cartinha pra ela com um par de alianças. Detesto não ter sido o primeiro a ter uma boa idéia.


Pesadelo

Na outra noite, eu tive um pesadelo. Eu estava preso em um cubículo, onde mal podia esticar as pernas. O teto era baixo, não me permitia ficar em pé nem agachado. Parecia ser uma brincadeira perversa. O local era iluminado, embora isso não ajudasse em nada minha terrível sensação de claustrofobia. Acordei com esse sentimento ruim, era madrugada, e fiquei assim até voltar a pegar no sono. Não sei explicar essas coisas. Sei que estava muito cansado, se aproximava de uma hora da manhã quando fui dormir. Entre os pesadelos que já tive, esse foi um dos mais cruéis. De manhã, acordei normal. Quer dizer, ainda estava bastante impressionado. Depois do banho frio, voltei a me sentir o super-herói de sempre. Pelo menos até chegar a hora de dormir de novo, nada me dobra.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Lasanha bolonhesa

Desisti do macarrão com molho de tomate. Pela primeira vez, fiz uma lasanha à bolonhesa. E fui no original, seguindo fielmente a receita italiana. Fiquei fascinado com a mistura de dois molhos (bolonhesa e béchamel) alternando nas camadas de massa e queijos (mussarela e parmesão). Usei a massa que não precisa cozinhar antes, pré-pronta, mas na hora "h" fiquei com medo de o gosto não ficar bom e usei bem menos do que deveria. Fui extremamente econômico com a massa. Achei o resultado delicioso e Eloá também, mas ela fez uma observação interessante, poderia ter pelo menos o dobro de massa, sem grandes prejuízos. A verdade é que quase não sentimos o gosto da massa. Estava lá, mas sumiu. Ficou macia, cheirosa, linda e os dois queijos derreteram e fundiram numa combinação ótima. A melhor lasanha que já fiz.

Carnaval

Meu Carnaval é outro. Às vezes pareço um personagem de Jorge Amado. A mimosa era um bar no bairro Dois de Julho. Na era mesozóica, eu fui umas duas vezes durante o Carnaval e foi o suficiente para que essas passagens ficassem em minha lembrança. Ali perto, também no Dois de Julho, tomei cerveja gelada no Líder, lembro uma vez que estive com Franklin fantasiado (ele) de marinheiro.

Estive também algumas vezes no Toalha da Saudade, nos Aflitos, bar da família do compositor baiano Batatinha. Tinha um bar e restaurante nas imediações da Piedade, já chegando para o Politeama, era um corredor, cujo bar ficava mesmo lá no final. Eu e Sérgio íamos ali, no meio da folia, comer alguma coisa, uma dobradinha, uma feijoada, um frango assado. Era a mesma família que tomava conta todo ano, todo Carnaval. Eu e Sérgio ficávamos paquerando a filha mais nova que servia de garçonete. Próximo ao Campo Grande, eu fiquei doidinho por uma negra alta, linda, de um desses blocos afro. Íamos sempre à mesma barraquinha, no Corredor da Vitória, tomar água de coco.

Há muitos lugares de que tenho saudade no Carnaval. Minha lembrança maior vem do circuito do Centro da cidade. Ia ao Pelourinho e passava o dia lá ouvindo as marchinhas e pulando de um bar para outro. Comecei a brincar Carnaval sozinho em 92, 93. São dezesseis anos. E muito antes já estava atento ao Carnaval, acompanhava e sabia das coisas. Muita coisa mudou na cidade, na folia, em mim mesmo. Gosto de sentar num lugar que permita ver o movimento das pessoas. Fui muito atrás do trio elétrico. Não havia como não ter ido. Mas sempre gostei mais de ficar num canto com os amigos, curtindo a movimentação. Dando nota às gatinhas soltas na rua. O Carnaval baiano é uma delícia.

Tenho essa lembrança de Moraes Moreira em cima do trio. De Luis Caldas. Caetano Veloso, sempre. Margareth Menezes. Acompanhei o surgimento de Daniela Mercury, o canto da cidade. Gostei de cara de Gerônimo e Lazzo Matumbi (até hoje gosto). Aguardava com ansiedade o encontro de trios comandado por Osmar Macedo e Armandinho. E os novos que hoje são veteranos: Netinho, Olodum, Araketu, Timbalada, Banda Eva, Chiclete com Banana, Asa de Águia. Gosto de Cláudia Leite também por esse motivo, por ela levar adiante essa bandeira. Por beber dessa água. Aquele primeiro CD dela mostra que ela cresceu ouvindo tudo isso e amando tudo. Fez disso sua profissão de fé, sem frescura, se jogando mesmo, sem rede.

Sempre gostei de Carnaval, sempre gostei de a Bahia estar em evidência por causa dessa movimentação cultural, comercial e artística. O Carnaval de Salvador não é apenas a força da grana. Quem insiste nisso é míope ou mal intencionado. E não vejo mal nenhum em saber fazer dinheiro vendendo algo, sabendo vender bem seu produto (Carlinhos Brown é um ótimo exemplo disso, mas não só ele). E não me importo que as pessoas façam fortuna à custa da música de Carnaval. Não sou invejoso a esse ponto.

Dizem “O Carnaval não é mais o mesmo”, “Perdeu a essência”, muita bobagem. Eu queria muito saber o que é que não muda, que mantém a essência eterna, pura. Enquanto os bobões falam, eu boto a cerveja pra gelar. Nem sei se vou sair este ano, programei ficar em casa, com meus filmes, fazendo cafuné em Eloá. Talvez no último minuto acabe indo pra rua todos os dias. Indo ou não, acho que o Carnaval é o que há. Citando (de novo) Arto Lindsay, “Carnaval é tudo”.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Domingo

No próximo domingo, uma macarronada com molho de tomates frescos pode ser a minha redenção.

Nelson

Deus é bom, sabe o que faz. Minha amiga Najara também. Então me caiu às mãos, sem que eu esperasse, o livro "Asfalto Selvagem: Engraçadinha, seu amores e seus pecados", de Nelson Rodrigues. Hoje mesmo principiei a ler. Começa com uma introdução de Ruy Castro (que fez aquele magistral trabalho "O Anjo Pornográfico: a vida de Nelson Rodrigues") e cheguei até o primeiro capítulo, que em poucas linhas já diz muito: pincela os personagens, Engraçadinha, o marido Zózimo, os filhos, o pai dela. Sinto uma euforia tremenda de saber em que águas vou estar nos próximos dias. Beber em Nelson Rodrigues é presente de ano bom. Meu 2009 começou agora.

O Mago

Terminei de ler "O Mago" anteontem, na quarta-feira. Continuo achando 600 e poucas páginas muito, mas me entrego: o livro é delicioso. O primeiro capítulo é o melhor de todos, quando o biógrafo Fernando Morais mostra um retrato atual de Paulo Coelho, uma personalidade internacional, reconhecida e prestigiada em todos os lugares. O primeiro capítulo é forte, principalmente pelo contraste com o que vem em seguida: uma vida de não poucos casos terríveis e sustos, a começar pelo nascimento (o livro explica como Coelho sobreviveu depois de ter nascido morto).

Fernando Morais mostra uma ou outra coisa desagradável da vida de Coelho, mas o tom geral do livro é de defesa do mago e de condescendência. Ele detalha como se deu o massacre da crítica brasileira e relata casos que mostram o descaso do poder oficial. Coelho aparece como um cara injustiçado, que se fez sozinho, enquanto nunca deixou de defender seu país. É um retrato simpático demais, o que deixa o leitor (eu, pelo menos, fiquei) desconfiado. No que é mais importante, a qualidade do texto, a boa organização do material recolhido e a riqueza de informações, nisso Morais foi incrível.

Terminei a leitura desnorteado, identificado com a efusão que Dora Kramer disse ter sentido. Se tivesse conseguido seu e-mail, como ela conseguiu, também teria escrito a ele um "parabéns". O livro vale quanto pesa.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Birthday

Jennifer Aniston faz quarenta aninhos hoje. Poderia citar uns dois ou três filmes dela que valem a lembrança e a homenagem. Mas nenhum deles supera o que ela fez em Friends, a delícia que era vê-la em cena com os outros malucos. E eu preciso confessar que também tenho uma queda por mulheres de quarenta. Se não tivesse, passava a ter a partir de hoje...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Com essa fase de dependente químico de "Prison Break", deixei outras séries de lado. No meu computador, aguardam vários episódios de "Dexter", "Alice" e agora também da segunda temporada de "Damages". Preciso administrar isso, já estou ficando seco de saudade. E Marlla está certa, daqui há pouco vem aí a segunda temporada de "Em terapia" para embolar mais o meio de campo.

Hellboy

Apesar dos elogios na imprensa, "Hellboy 2 - O Exército Dourado" está no mesmo nível do primeiro filme: os dois são um pé no saco. Em ambos, segurei meu ímpeto de quebrar a TV apenas por causa do personagem título, que tem esse cinismo que é legal (e não é um Guillermo Del Toro que me vai dar esse prejuízo, basta o dinheiro perdido no aluguel do filme). As histórias são tão interessantes que provocam um bocejo atrás do outro. Del Toro entope a trama com personagens esquisitos, sem um pingo de graça. Os filmes são barulhentos e sem pegada. O segundo é um pouquinho mais movimentado e cativante que o primeiro, isso única e exclusivamente por causa da entrada em cena do personagem do príncipe parricida. Mas não creia que estou fazendo um elogio. Eu costumo ver todos os filmes que causam algum barulho, que provocam alguma conversa. Às vezes, quebro a cara legal e tenho que aguentar bombas como esses hellboys da vida.

Só para constar: ao contrário dos dois hellboys, o filme "O Labirinto do Fauno", do mesmo diretor, é muito bom.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Uma coisa incrível..."

Ouço menos música que gostaria. Ultimamente tenho feito um esforço para ter tempo de ouvir mais coisas. Depois que cheguei de Alagoinhas, trouxe a mania de ouvir as canções no ouvido com fone em um desses pen drives. Mas me irritava demais ficar dividindo aquele troço com os barulhos do mundo ao redor. Em casa, gosto de ligar o som enquanto estou cozinhando. Virou uma mania, aliás. E tenho me esforçado para ouvir os meus discos costumeiros junto com coisas que não ouço tanto. Por isso me derreti ouvindo vozes boas como o de discos recentes que comprei, tenho ouvido Edith Piaf, Norah Jones e Pitty com alguma freqüência. E ouço bastante uma cantora clássica baiana pouco conhecida, a Cláudia Leite. Eu sempre prefiro ouvi-la enquanto vejo as imagens em DVD (porque nada se perde dos meneios de cabeça e do balanço de braços, pernas, cintura). É um negócio e tanto. Eu sou do time do produtor norte-americano Arto Lindsay, que ficou bobo quando viu pela primeira vez uma baiana dançando no Carnaval. E me disse numa entrevista que fiz com ele que "era uma coisa incrível, linda, do outro mundo". Concordo. Não todas as moças nos chamam mais forte o coração, mas algumas... As razões e desrazões do amor são mesmo difíceis de explicar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Há uma lista que gosto de imaginar, a dos livros que não li. São livros que até comecei a leitura, mas não me capturaram a ponto de ir até o final. Essa questão tem uma coisa curiosa, porque livro tem muito a ver com o momento. Às vezes não estamos bem com um autor, um determinado livro. Eu tive meu momento com um escritor que adoro, Gabriel Garcia Márquez. Comecei a ler "Crônica de uma morte anunciada", fiquei magnetizado pelas primeiras páginas e depois empacou. Resolvi parar um tempo, uma ou duas semanas, e comecei tudo de novo. A leitura fluiu perfeita (tanto que emendei com outro livro dele chamado "Do amor e outros demônios"). Mas nem sempre me dou essa chance de recomeçar. Em geral, quando um livro não desce, largo de canto e parto para outro. Esses pensamentos me ocorrem, porque estou lendo a biografia de Paulo Coelho e nunca me animei a ler nenhum livro dele inteiro. Tentei com "Veronika decide morrer" e a leitura morreu na primeiras vinte páginas. Ficava lembrando da frase de, acho, a Rachel de Queiroz, que havia comentado sobre o autor de "O Alquimista", que não leu e não gostou. Cresci sabendo que ninguém sério, com o mínimo de pretensão intelectual, poderia ler e gostar de Paulo Coelho. Era o atestado de alienado e inculto. Posso até ler e não gostar nos dias de hoje, mas essa pecha antecipada é muitíssimo suspeita.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Estou chegando ao fim do livro "O Mago", de Fernando Morais. Tenho uma coisa comigo. Por mais que a leitura seja boa (e "O Mago" é), sempre acho demais livros com mais de 300 páginas. Seja o estilo que for, seja o tema que for. Alguns desses gigantes caberiam sem nenhum prejuízo em 100 páginas. Em outros casos, justifica ter um pouco mais de volume. Mas passar da casa das 500 páginas (e isso tem sido tão frequente) é nada menos que deficiência no poder de síntese.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Work in progress

Este blog não é um "Finnegans Wake", mas também é um "work in progress" - o primeiro nome que Joyce pensou para a sua famosa obra. Mudou o título desta página. Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Nem o blog. O tributo lá em cima é a Carlos Drummond, o trecho é de "Poema de Sete Faces". Estamos bem, em ótima companhia.

Mesada

Minha filha me botou na parede ontem. Dois anos atrás, ela me pediu mesada. Achei cedo. Disse que só quando ela completasse sete anos, eu atenderia o seu pedido. Não queria minha filhinha mal saída das fraldas mexendo com dinheiro. Bom, fomos adiante e eu esqueci o assunto. Ela não. Ontem, com sete anos e um mês, ela me chamou para uma conversa séria. Me disse que chegara à idade e não ia abrir mão do que eu havia prometido, do que ela tinha direito. Promessa é dívida. Aprendi que uma criança nunca esquece coisas desse tipo. Pode esquecer de escovar os dentes ou de arrumar o quarto. Pode fazer cara feia para interromper a internet e buscar os meus chinelos no armário. Mas isso nunca, jamais.

Aposto que ela estava contando os dias para começar a receber essa grana. Ontem mesmo comecei a dar sua mesada. Sete reais, um para cada ano. Isso significa que ela vai receber reajuste anual desse valor. É a ciranda da economia financeira chegando na sua porta de todos os lados. Disse a ela que havia umas condições inerentes ao contrato. Ela ouviu atenta. 1. Ela pode gastar com o que quiser, desde que avise pra mim ou pra Eloá antes. 2. Obrigatoriamente, ela precisa economizar uma parte, ela decide quanto a partir de dez por cento do valor. 3. Ela receberá incentivo, se decidir comprar revista em quadrinho, álbum de figurinhas ou livros. Com as notas na mão, seu olho brilhava. E ela passou a noite rindo à toa.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Acho bonito, certo, elegante, uma mulher que não bebe. Eu às vezes tomo um negocinho em casa no fim de semana. Eloá, nunca. Mesmo quando a gente sai, ela em geral não bebe. Uma vez ou outra, toma um martini ou dois. Se tiver animada e tal, pode tomar uma caipirosca, vá lá. Raramente exagera. Só lembro de duas vezes que ela tomou um pouco mais. Uma vez ela tomou uma garrafa inteira de vinho e ficou altinha, como se diz. De outra vez, estava p... comigo e tomou duas doses de martini a mais e me encheu a cara de prosa. Só duas vezes em quatro anos e meio de relacionamento. Amo essa mulher.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Ainda vou voltar a fazer teatro. Não sei se será profissionalmente, é pouco provável que seja. O que sei é que a sensação boa de subir num palco não pode ser só lembrança. Sempre penso nisso. E fico imaginando quando a maré vai virar. Fico pensando em gente que fez mais de uma atividade na vida, se formou em algo, mas não foi adiante e pegou outro caminho. Tem aqueles que juntaram duas atividades bem diferentes e seguiram a vida. O Rubem Fonseca só começou a exercer a profissão que queria mesmo, escrever livros, chegando nos 40 anos. Pelo menos seu primeiro livro, ele tinha 38 anos na época. No caso dele, o cara é tão bom que valeu a pena esperar. Estava maturando. Estou chegando nos 34 e parece um absurdo. Me sinto um velhinho que está deixando a vida escorrer das mãos, tendo feito muito menos do que devia. Se fizer coisas bem interessantes a partir dos 38, vai ter valido a pena, serei o próximo Rubem Fonseca. Mas não acho que é o caso. Por isso tenho que fazer as coisas que significam, que sei que tem significado para a minha existência. Como voltar ao teatro. Estou muito pensador hoje.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Garantida

E eu fiquei fora da cozinha esses dias. Eloá chegou chegando, depois de uma semana de pratos que funcionaram, ela fez feijoadinha, ótima, com feijão branco e tal. Depois inventou um strogonoff com filé especial. Bom todo. E esse sucesso depois de ter feito outro dia o melhor fígado que comi na vida (sério!). Já mandei avisar a mãe dela que não vou mais devolver a guria. Ela tá garantida.

Prison Break


Depois da tonelada de cerveja e dos gestos dramáticos, passei o fim de semana enchendo a cara da série americana Prison Break. Terminei a primeira temporada e emendei na segunda. Essa segunda etapa, a mim me parece, é ainda melhor que a primeira. De cara mataram a advogada do preso, o personagem mais chatança que existia. Balaço na testa. Lindo. E soltaram os presos no meio do povo. O mafioso maravilhoso, John Abruzzi, encarnado no ator Peter Stormare, morreu bem, cravado de balas da cabeça aos pés. Morte bem cinematográfica, se podemos dizer assim, à altura do ótimo personagem e ótimo ator. O agente fala para ele: "Ajoelha e põe as mãos na cabeça". Abruzzi, recém convertido, não se intimida diante do mar de policiais armados até os dentes: "Só me ajoelho diante de Deus e Ele não está aqui". Chuva de balas. Pelo talento, pelo que funcionou, eu segurava o Abruzzi por mais tempo na série, mas a saída foi digna, foi bem boa, então tudo bem.

O taradão pedófilo assumiu seu lado monstro e está barbarizando. Boa. O ruim é que a maioria dos presos são todos bons espíritos que a vida empurrou pro crime. Não existe gente má nas prisões, só gente sem sorte. Besteira pura. Mas esquecendo isso, dá pra se divertir uma pá com essa série. E esse novo agente vivido por William Fichtner? Show de bola. A série subiu um nível por causa dele. E mantiveram o outro agente com cara de psicopata, interpretado pelo ator Paul Adelstein, fazendo um estupendo papel, sombrio, cínico, ótimo. Vi quatro episódios da segunda temporada. Até aqui, alto nível.

"...um amor que um dia não soube cuidar..."

Enfiei o pé na jaca na sexta-feira. Tomei todas e mais algumas, começando às oito da noite com uma dose de conhaque, para abrir os trabalhos, em seguida uma centena de cervejas. Isso me lembra a canção de Chico e Francis Hime: "...a coisa aqui tá preta/ Muita mutreta pra levar a situação/ Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça/ E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça/ Ninguém segura esse rojão..."

Concordo com Chico e com meu irmão. Quem trabalha todos os dias e fica, que nem besta, de casa para o trabalho e do trabalho pra casa, tem que tomar um negocinho no fim de semana, senão a caretice total domina o mundo. O que seria de nós sem esses momentos? Respeito quem não bebe e fica em sua casa. Ou vai ao parque com as crianças. Ou vai à igreja. Mas respeito ainda mais quem sai pra viver a noite, batuca numa caixinha canções antigas e se entrega a uma cervejinha gelada sem culpa. Não é apologia às bebidas. É apologia a que cada um cuide da sua vida que é melhor.

Na sexta, fomos a um boteco simpático em Brotas para soltar os demônios (lembrei de Paulo Coelho agora), falar bobagem e rir. Ouvimos muita música, contamos e ouvimos história. Éramos oito seres enchendo a carcaça de substância que a carta magna não se incomoda que a gente consuma, desde que não vá dirigir em seguida. Teria sido uma noite perfeita se não terminasse em barraco, eu brigando com Eloá, ela brigando comigo e eu indo embora para a casa dos meus pais às quatro da matina. Meus pais são ótimos. Claro que não aprovam que eu brigue com Eloá. Mas depois da reprimenda inicial, não esconderam a satisfação de sentir que os filhos procuram a barra da saia deles quando a coisa pega. Pai e mãe são bicho besta mesmo.

(Aliás, eu descobri isso quando minha filha precisava tirar um dente mole ontem. Eloá, muito mais macho que eu, pegou o touro na unha e resolveu o problema. Eu fiquei parecendo uma moça, morrendo de pena do choro - e dos gritos, e das pernas pro ar... O maior problema quando o pai fica com peninha e age como uma moça, sem pulso firme, é que o mundo ganha mais crianças sem controle que vão se tornar adultos perigosos e cheios de vontade. Eu, por mim, voto por juntar todos numa pira e incinerar essa raça, começando por mim... Ok, ok, menas...).

Voltando à cachaça do fim de semana, ficou uma lição importante: nunca ir cheio do pau para a casa da mãe no meio da madrugada sem Engov (há muito tempo não tenho uma ressaca assim, digna dos feitos do Velho Testamento). Mas também vou ter mais cuidado com Eloá (apesar de ela não ter sido exatamente uma santa no episódio). Não quero daqui a vinte anos estar cantando Magníficos para lembrar dela: "Chorando se foi/ Quem um dia só me fez chorar/Chorando estará/Ao lembrar de um amor/Que um dia não soube cuidar". Comecei esse relato com Chico pra terminar com Magníficos. É o que se chama de cachaça errada. Próxima vez, eu acerto o ponteiro e começo e termino com Magníficos... ou Calcinha Preta... ou... deixa pra lá.