quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Asfalto selvagem

“Aquela voz de homem, densa e, apesar disso, de uma doçura viril, a assustava. Sentia, realmente, um medo instintivo que, ao mesmo tempo, era de uma voluptuosidade quase insuportável. Todas as raízes do seu ser estavam crispadas. Engraçadinha já olhara várias vezes os antebraços do médico e pensa com uma angústia deliciosa: — “Parece gorila!” Ao mesmo tempo, imaginou-se raptada, numa floresta, por um macaco gigantesco. Nua, nos braços do King-Kong do filme.”

Lendo Asfalto Selvagem dá para entender bem o escândalo que Nelson Rodrigues causou na época. O livro foi publicado em capítulos, diariamente, por seis meses, no jornal “A Última Hora”, em 1959/1960. Estou lá pela página 140 e desde a primeira página é difícil cada vez que preciso interromper a leitura. O livro é magnético, fascinante, e sai derrubando tudo pela frente. Quando a gente pensa que a ousadia foi longe, aparece outra provocação e outra e mais outra. Mesmo hoje em dia uma história como a de Engraçadinha seria provocativa. Há 50 anos então... O melhor de tudo é que Nelson tem um estilo bem próprio e a qualidade do seu texto é monstruosa. Muito, muito bom.

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3 comentários:

  1. Tô pra comentar há um tempão. Mais uma influência sua: estava em uma pousada no carnaval curtindo preguiça, quando vi na biblioteca a biografia do Nelson Rodrigues, comecei a ler, fiquei hipnotizado pelo livro e tive que ouvir esporro de luciana pq eu ia dormir tarde da noite lendo. Mesmo assim não consegui acabar e agora estou doido atrás (em sebo). Bicho, não fazia idéia de quem era Nelson Rodrgues e do quanto ele foi genial, me impressionou a história do anjo negro, mas o incrível é que em 1930 nós éramos tão avançado em literatura e nada em teatro, a impressão que tive é que o teatro era um pouco melhor do que aquela cena do Gangues de Nova York. Assim que acabar a biografia vou ler alguma coisa dele. Abraço e obrigado.

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  2. Na época que fiz teatro, há dez anos, li várias peças de Nelson e pirei. Tenho uns livros dele em casa e recentemente chegou nas mãos o livro de Ruy Castro sobre ele, que devorei em alguns dias. Agora estou no fim de Asfalto Selvagem que é um negócio de tão bom.

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  3. Botei esse seu comentário no blog, aí do lado, embaixo da foto do livro de Nelson. Sem autorização prévia.

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