segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Carnaval

Meu Carnaval é outro. Às vezes pareço um personagem de Jorge Amado. A mimosa era um bar no bairro Dois de Julho. Na era mesozóica, eu fui umas duas vezes durante o Carnaval e foi o suficiente para que essas passagens ficassem em minha lembrança. Ali perto, também no Dois de Julho, tomei cerveja gelada no Líder, lembro uma vez que estive com Franklin fantasiado (ele) de marinheiro.

Estive também algumas vezes no Toalha da Saudade, nos Aflitos, bar da família do compositor baiano Batatinha. Tinha um bar e restaurante nas imediações da Piedade, já chegando para o Politeama, era um corredor, cujo bar ficava mesmo lá no final. Eu e Sérgio íamos ali, no meio da folia, comer alguma coisa, uma dobradinha, uma feijoada, um frango assado. Era a mesma família que tomava conta todo ano, todo Carnaval. Eu e Sérgio ficávamos paquerando a filha mais nova que servia de garçonete. Próximo ao Campo Grande, eu fiquei doidinho por uma negra alta, linda, de um desses blocos afro. Íamos sempre à mesma barraquinha, no Corredor da Vitória, tomar água de coco.

Há muitos lugares de que tenho saudade no Carnaval. Minha lembrança maior vem do circuito do Centro da cidade. Ia ao Pelourinho e passava o dia lá ouvindo as marchinhas e pulando de um bar para outro. Comecei a brincar Carnaval sozinho em 92, 93. São dezesseis anos. E muito antes já estava atento ao Carnaval, acompanhava e sabia das coisas. Muita coisa mudou na cidade, na folia, em mim mesmo. Gosto de sentar num lugar que permita ver o movimento das pessoas. Fui muito atrás do trio elétrico. Não havia como não ter ido. Mas sempre gostei mais de ficar num canto com os amigos, curtindo a movimentação. Dando nota às gatinhas soltas na rua. O Carnaval baiano é uma delícia.

Tenho essa lembrança de Moraes Moreira em cima do trio. De Luis Caldas. Caetano Veloso, sempre. Margareth Menezes. Acompanhei o surgimento de Daniela Mercury, o canto da cidade. Gostei de cara de Gerônimo e Lazzo Matumbi (até hoje gosto). Aguardava com ansiedade o encontro de trios comandado por Osmar Macedo e Armandinho. E os novos que hoje são veteranos: Netinho, Olodum, Araketu, Timbalada, Banda Eva, Chiclete com Banana, Asa de Águia. Gosto de Cláudia Leite também por esse motivo, por ela levar adiante essa bandeira. Por beber dessa água. Aquele primeiro CD dela mostra que ela cresceu ouvindo tudo isso e amando tudo. Fez disso sua profissão de fé, sem frescura, se jogando mesmo, sem rede.

Sempre gostei de Carnaval, sempre gostei de a Bahia estar em evidência por causa dessa movimentação cultural, comercial e artística. O Carnaval de Salvador não é apenas a força da grana. Quem insiste nisso é míope ou mal intencionado. E não vejo mal nenhum em saber fazer dinheiro vendendo algo, sabendo vender bem seu produto (Carlinhos Brown é um ótimo exemplo disso, mas não só ele). E não me importo que as pessoas façam fortuna à custa da música de Carnaval. Não sou invejoso a esse ponto.

Dizem “O Carnaval não é mais o mesmo”, “Perdeu a essência”, muita bobagem. Eu queria muito saber o que é que não muda, que mantém a essência eterna, pura. Enquanto os bobões falam, eu boto a cerveja pra gelar. Nem sei se vou sair este ano, programei ficar em casa, com meus filmes, fazendo cafuné em Eloá. Talvez no último minuto acabe indo pra rua todos os dias. Indo ou não, acho que o Carnaval é o que há. Citando (de novo) Arto Lindsay, “Carnaval é tudo”.

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