quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ah, um bom livro!

Volto, com muito prazer, a Nelson Rodrigues. É um dos meus ídolos, todo mundo sabe. Comecei a antologia de alguns contos de "A Vida como ela é", as histórias que ele passou anos publicando diariamente em "O Globo". Há vários livros com esse material porque ele escreveu muito. Esse que estou lendo chama "Elas gostam de apanhar", uma de suas muitas frases célebres. Nelson Rodrigues é uma máquina de talento, de coerência, que não tem nada de bom mocismo ou falsa moral. E diz as coisas na lata. É muito bom ler opiniões dele como: "Nada soa mais falso do que a alegria. Rir num mundo miserável como o nosso é o mesmo que, em pleno velório, acender o cigarro na chama de um círio". Tremendo. E olha isso: "Que importa tudo o mais, se a morte nos espera em qualquer esquina? Convém não esquecer que o homem é, ao mesmo tempo, o seu próprio cadáver. Hora após hora, dia após dia, ele amadurece para morrer". Sua leitura é crua. Ele é direto, sem firula, sem querer vender um mundinho bonito. E não pense que não há humor em seu texto. Há, muito. É um dos autores mais espirituosos.

Ah, nada como um bom livro!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Vida longa a "Damages". Ou não.

Terminei a terceira temporada de "Damages". É uma série que manteve o excelente nível até o fim. Coisa rara. Acabou sendo uma trilogia pela forma como o arco de situações começadas lá na primeira temporada encontrou desfecho apenas agora. Caso a série continue, obrigatoriamente será um novo começo, de tal sorte foi a forma como todas as pontas foram aparadas. Tem gente triste com a possibilidade bem real de a série não ser renovada. Eu estou satisfeito. Não sei se será possível aos criadores superarem o que vimos até aqui. Para não correr o risco de a série cair de qualidade, prefiro que termine desse jeito. Mas, claro, se vier uma nova temporada, será recebida de braços abertos. Pra finalizar, quero apenas dizer que Rose Byrne, depois de "Damages", é uma das minhas atrizes favoritas (Glenn Close já era desde "Ligações Perigosas").

Sex and the city

Terminei de ler "Sex and the city", de Candace Bushnell. Fiquei bem interessado em suas histórias de relacionamento, em tom de humor e sarcasmo. Embora diga que as mulheres que conhece são solteiras porque querem, Bushnell não demostra romantismo nem esperança de que o amor é possível. Pelo menos nos muitos (muitos mesmo) casos que conta, mais vale a lei do desejo, do apego ao dinheiro e da independência. Ninguém que aparece no livro consegue manter um relacionamento duradouro e promissor, essa foi a minha impressão. Mas não há tom pessimista no livro. Os personagens parecem dizer que se as coisas são assim, então, porque não aproveitar a delícia de se relacionar sem culpa? Claro que as mulheres retratadas demonstram, em um momento ou outro, querer um relacionamento verdadeiro. Mas não se incomodam em testar bastante antes as muitas opções que aparecem nas noites badaladas, nos encontros furtivos, nas viagens de lazer ou negócios. Elas têm dinheiro, têm uma carreira, são donas do nariz. Então estão no comando e tentam tirar muito prazer da vida. É um livro que mostra que o mundo avançou para a vivência do sexo sem culpa, compromisso ou justificativa. As mulheres se comportam como alguns homens. São predadores também. E vão à caça. É importante dizer que a autora fala do seu ciclo social, de gente bem nascida, ou bem situada, da classe média alta e classe alta americana. É uma leitura boa, descontraída, e que ajuda a entender um pouco da vída íntima (de alcova) de parte de nossa sociedade atual.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Madrasta

Eloá, que tem feito um trabalho irretocável com uma filha que não é sua, ficou revoltada com o significado da palavra "madrasta" no dicionário. Não é só "mulher casada, em relação aos filhos que seu marido teve de núpcias anteriores". O dicionário (o Michaelis, por exemplo) dá como significado "Mãe que maltrata os filhos; avara, ingrata, pouco carinhosa". E ainda "o que traz dissabores e tristezas: Sorte madrasta". Mas eu desconfio das razões para isso. Sacanagem da Disney. Foi o sucesso da história da Branca de Neve, e sua difusão, que envenenou para sempre o sentido da palavra. Ô sina madrasta!

sábado, 10 de abril de 2010

V

Ok, só vi o piloto dessa nova série "V". Gostei, mas precisa ver se os próximos episódios vão segurar a onda ou decepcionar como aconteceu com "FlashForward" (que tem um ótimo piloto e depois vai caindo). Certo mesmo é que eu (também) caí de amores pela brasileira Morena Baccarin, uma das atrizes que estão encabeçando o elenco. Sensual até não poder mais, ela é a líder dos aliens malvados. Mesmo que a série fique muito ruim, eu ainda terei motivos de sobra pra continuar ligadão. Ai, ai...

*
Adendo do dia seguinte: vi mais três episódios da série. Por enquanto, nada a lamentar. A série é instigante e mantém o suspense (e dá até um medinho) nesse início de temporada. Mas o melhor é que há mais um motivo importante para seguir a série. É uma loirinha que se chama Laura Vandervoort, atriz que interpreta outra dessas aliens malvadas. Por enquanto, para nós, rapazes, essa série só tem dado motivos para comemorar...

Peixe

Final de semana de acertos na cozinha. Preparei um negócio bom com legumes e filé de merluza. Delicioso o peixe cozido com dendê (bem pouco e só no final), coentro, cebolinha e rodelas de tomate, cebola e pimentão. Tomamos o cuidado de deixá-lo um dia antes em sal e pimenta. Mesmo sem leite de coco, é possível ser feliz com um peixe saboroso servido com arroz.
"Mais bizarro do que determinadas comidas bizarras é o hábito brasileiro de rejeitar comidas que saiam de um restrito repertório do trivial cotidiano. Por que só arroz, feijão, macarrão e bife? Por que não coentro (fora da Bahia), jambu (fora da Amazônia), maxixe (fora do Nordeste), ora-pro-nobis (fora de Minas)? E por que não miúdos e partes de animais que não sejam só o filé mignon (ou algum tipo de bife)? E por que não outros animais além dos poucos de sempre?"

"Parece que nosso complexo de Casa Grande extirpou até o gosto pela aventura do gosto. Uma perda."

Josimar Melo, jornalista, crítico de gastronomia.

Lelê/xerém

"Ô piza o milho penerô xerém/ eu não vou criar galinha/ pra dar pinto pra ninguém". Luiz Gonzaga

Sucesso de público e de crítica o lelê de milho que fiz ontem aqui em casa. Redescobri esse prato que minha mãe fazia na minha infância. Muita gente chama xerém e isso me deixou confuso. Eu sempre conheci como lelê. E é delicioso e bem fácil de preparar. Tudo começou num evento que fui a trabalho essa semana, um café da manhã. Minha amiguinha Dora ficou lembrando o estouro (de bom) que é a combinação de lelê com café. Foi água na boca. Daí lembrei da minha mãe. Voltei no tempo. E porque não tentar fazer? Comprei o milho já pronto no mercado. Usei também leite de coco, coco ralado, leite liquido, manteiga, canela em pó, açúcar e cravo. (Detalhe: minha mãe faz com leite tirado do coco mesmo, não usa as garrafinhas tão práticas. Dá cem vezes mais trabalho, mas o resultado vale a pena). Pesquisei e descobri um milhão de receitas que confundiam muito mais que explicavam. Usei duas e ainda dei um toque meu, mudando uma ou outra instrução. Antes de preparar, claro, liguei pra minha mãe que me deu uma ótima dica para achar o ponto certo. Precisa ter paciência para mexer bastante como se tivesse fazendo vatapá. Mas o resultado vale a pena. Coisa de 30 a 40 minutos e ele está pronto e bonitão. Despejei numa assadeira e esperei esfriar. Delícia. Eu, Eloá e a pequena devoramos de um dia para o outro.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um segundo

Muitas pessoas afirmam que existe uma crise dos sete anos que todo casal enfrenta. Ainda não cheguei lá (mas prometo verificar a veracidade dessa afirmação). O fato é que, completos meus seis anos de relacionamento com Eloá, estamos voando em céu azul, sem nenhuma nuvem. Eu comecei a namorar Eloá no exato segundo em que bati os olhos nela. (Me lembrou agora aquela bonita canção de Hebert cantada por Cazuza: "Às vezes te odeio por quase um segundo. Depois te amo mais"). Mulher é bicho desconfiado. Eloá demorou um pouco mais, estava me conhecendo (e tinha um namorado à época). Foram dias resistindo ao meu charme. Um mês depois, capitulou e começamos de fato nossa historinha. Não foi nada fácil chegar aqui. Passamos por tantas pequeninas crises de ajuste nesse período que seria crueldade uma crise dos sete anos. Nunca estivemos melhor um com o outro. Temos fases, claro. Mas essa que vivemos talvez seja a melhor de todas. Da parte dos dois, sobra carinho, atenção e cuidado. E quanto mais estamos juntos, mais queremos ficar exatamente assim. Estou casado com a melhor de todas as mulheres. E ela tem o marido mais bobão de todos, com o sentimento do mesmo jeito que estava naquele primeiro segundo quando a conheci. E que bendito segundo. Até hoje não passou.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Bridges

Jeff Bridges é ótimo ator. E está em parceria com a minha queridinha Maggie Gyllenhaal (linda, talentosa, inteligente, sexy...). Ambos estrelam "Crazy Heart". Não sei que diabos estou fazendo que ainda não vi este filme. Para piorar, a lista não acaba aqui. Também não vi "Ilha do medo", "O homem que engarrafava nuvens", "Caro Francis", "Onde vivem os monstros", "Abraços partidos"...

Alguém diria que é imperdoável. Com razão.

*

Estou numa certa expectativa. Estou com os primeiros cinco episódios da série "V" no meu coldre. É só parar e assistir. Mas resisto. Não sei se presta... Minha amiga Juju diz que a desconfiança não é só minha. Mas que não desgostou do que viu no piloto. Não sei...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Coco Chanel

Bom programa foi ver o filme "Coco antes de Chanel", filme de Anne Fontaine. Não havia me entusiasmado quando estreou nos cinemas, mas Eloá queria muito assistir. No sábado, peguei na locadora pra ela e eu mesmo comecei a ver "só" o comecinho. Daí fui ficando, ficando, ficando... É um filme curioso, feito com cuidado, nem um pouco chato. Mostra a vida da estilista Coco Chanel antes de ela se tornar quem se tornou. Mostra sua vida pobre, a dificuldade financeira, a diferença de outras mulheres, as mudanças que vai operando nas cabeças e nas roupas. O que costura a trama é um triângulo amoroso entre Coco e dois homens bem diferentes. Diferentes, mas civilizados (até demais). Chanel sai das mãos de um para o outro quase sem conflitos. Entretanto, decide que nunca irá se casar. O amante fala pra ela que podem continuar a relação igual, porque amor nada tem a ver com casamento (e ele está prestes a casar com outra para salvar sua situação financeira). São bons personagens. Um dos melhores é o protetor de Chanel, que aparece desde o início do filme, interpretado pelo ator Benoît Poelvoorde. A Andrey Tatou, que vive a estilista, está bem simpática em cena. É séria, tem humor variado, é autêntica. Não demora até que as senhoras da época comecem a cair de amores pelo talento daquela mulher que se veste como homem e tem uma grande elegância. Seus chapéus começam a fazer muito sucesso. Essa parte de moda e estilo aparece em cenas interessantes e divertidas. O filme inteiro é bem interessante. E diverte.

*

Vimos com muita satisfação o retorno da Disney ao desenho tradicional com "A Princesa e o sapo". Para bem da verdade, Eloá e minha filha pareceram gostar bem mais que eu. Mas eu não desgostei. O desenho é divertido, tem ritmo bom, e faz uma gostosa homenagem ao jazz e à Nova Orleans. Porém, não deixo de trazer comigo a sensação de que minha empolgação era bem maior com os mesmos desenhos da Disney de algum tempo atrás (como "Branca de Neve", "Aladim", "Rei Leão"...). Pode bem ser que eu tenha crescido, claro.

Pai, mãe...

Sinto que minha filha está mais apegada a mim. Já vão dois anos desde que sua mãe decidiu se mudar para São Paulo e eu virei o pai que também é mãe. É uma tarefa difícil. Ter a responsabilidade por uma outra pessoa é um peso. A gente faz tudo com desvelo, mas quem vive essa situação sabe que é barra. Nos últimos tempos tenho aprendido a ser mais leve, a facilitar mais a vida da pequena. Explico. É que como fui uma criança criada sem nenhum luxo, entendi que era importante fazer a minha filha entender que as coisas não vêm de graça. Então me recusava a ser um pai que atende a todos os desejos consumistas. Fiz isso com certo rigor. Eloá vem me ensinando que eu não preciso ser tão duro. E que pode ser (também) instrutivo atender a alguns desejos fugazes de uma criança. Eloá vem me ensinando que tem momento para tudo. Eu posso ser um cara mão aberta no momento certo, dentro de uma certa política de merecimento. Tenho aprendido a lição. E tenho sido um pai mais generoso. Sem culpa. Aos poucos vamos nos aproximando mais e mais. Uma coisa bacana: temos tentado aproveitar mais o tempo juntos. Eloá tem sido imporante nisso também. Ela incentiva, dá idéias, chega junto. Minha pequena percebe o cuidado que a madrasta tem. E retribui com carinho. Nem sempre a família tradicional é a melhor opção de felicidade. Os novos modelos têm encontrado formas de convivência plenamente satisfatórias. Uma mãe emprestada pode ser tão eficaz ou até melhor que a mãe original.