terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Coisas


Fizeram muita coisa boa no Carnaval. Falo de canções, as marchinhas maravilhosas, que ainda hoje são atraentes e atuais nessa época do ano. Claro que ajuda o fato de o time de compositores das marchinhas mais longevas ser muito bom (gente como Adoniran Barbosa, Mário Lago, Lamartine Babo, Zé Keti, Noel Rosa etc). Estive pesquisando para a trilha sonora de um encontro em casa com a família e revivi coisas deliciosas.

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Ainda bem que existem as séries para me salvar as noites, porque é muito ruim a novela do Aguinaldo Silva. Em geral, sua falta de senso de ridículo é terrível. Pior, é ele fazendo propaganda dele mesmo como se sempre entregasse uma obra irretocável. Não me incomodo com gente que se acha, tudo bem, é uma maneira de afirmação e auto-estima. Mas é preciso ser realmente muito bom para posar de muito bom, senão fica feio demais. Não dá para achar que é o maior de todos os tempos se não tem condições para isso. Tem que ser pelo menos um Dias Gomes para se achar Dias Gomes. Há acertos nessa novela como em outras, sempre há o que se salve (como a boa construção de Marcelo Serrado; e mesmo no chatíssimo texto e contexto do politicamente correto, Lilian Cabral não consegue entregar um personagem ruim há muito tempo; ela continua ótima). Mas o inverrossímel e o esforço para tratar o espectador como imbecil nessa novela é de doer.

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Pelo que li sobre o assunto, parece que Rita Lee exagerou na reação aos policiais de Aracaju. Em geral, quando há conflito com a polícia, minha tendência natural é desconfiar dos fardados. Mas, pelo que se demonstra até agora, os policiais não fizeram nada demais, pelo menos nada que justificasse que fossem chamados de "cachorros", "filhos da p..." etc. Apesar disso, fiquei com pena de Rita. Gosto muito dela. Irreverência e atitude não é algo que se vê por aí todo dia...

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Assisti com atraso monumental à quarta temporada de True Blood. Tanto que já está no ar o teaser da próxima temporada. O que sei é que vi muita gente falar mal na internet. Minha amiga Juliana largou no meio e torceu o nariz. Eu gostei. Há momentos e momentos, altos e baixos, uma ou outra coisa mais chata. No geral, é o mesmo programa de sempre (sexy, irônico, politicamente incorreto, até bobo), um bom passatempo mesmo com os excessos e tudo mais. E o episódio final foi especialmente inspirado e cheio de promessas de que coisas muito boas podem estar por vir. Se não for só promessa...

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Estou observando com animação e espectativa o movimento "Desocupa, João".

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Não acabe o blog

Depois de tantos anos (o primeiro post no primeiro blog foi em  2005), fiquei pensando seriamente em encerrar esse trabalho.

Tá bom, não é exatamente trabalho. Mas é uma atividade que faço com cuidado, não é um lugar onde despejo mágoas, experiências e pensamentos de qualquer maneira. Queria até fazer mais isso, porém não faço (uma vez escrevi um longo post enquanto estava bêbado, ou quase isso; só para no dia seguinte fazer o favor à humanidade de deletar a baboseira).

Este é um espaço onde eu tento não perder o contato com a escrita. E onde eu registro algumas coisas que me acontecem.

Há uns anos, antes do blog, eu escrevia desvairadamene, com freqüência, contos e poemas. Queria ser o novo Machado, Eça, Neruda ou Pessoa. Imaginava o dia em que estaria com um livro pronto para publicação. Desejei isso e achei que caminhava infalivelmente para esse fim. Não foi o que aconteceu.

Nos últimos dez anos, fui me afastando da produção de textos de ficção. Escrevia apenas por dever profissional. E isso é muito frustrante para quem acha que precisa escrever, criar, que é uma pessoa melhor quando cria textos, inventa histórias e consegue expressar alguma coisa razoável demonstrando talento.

O blog foi uma solução interessante para continuar no jogo.

Nos últimos tempos, porém, fiquei pensando em encerrar tudo, chutar o balde. A verdade é que nunca me importei muito com o que as pessoas achariam, achavam ou deixavam de achar sobre o blog e as postagem.

Se me guiasse por esse termômetro, já teria fechado esse boteco há muito mais tempo. Sempre fiz para mim. Esse é um espaço de mim para mim. O mundo que se f... (ok, não é bem assim - é que às vezes é bom ser dramático).

O que sei é que sou meu principal alvo e público quando publico aqui. Tanto que nunca faço propaganda, não anuncio no facebook ou twitter, não aviso aos amigos. Nunca aviso a ninguém que tem um novo post.

Lembro que Chaplin dizia que fazia cada filme para ele mesmo e que se divertia muito com seus trabalhos, a preocupação com o público vinha em segundo lugar. Não sou nenhum Chaplin, mas acho que é bem por aí.

O fato é que, depois de tanto tempo, estava aborrecido com o blog. E pensei em parar por ali. Depois tive uma idéia melhor, deixar ele ao léu e quando desse na telha, de caju em caju, postaria alguma coisa.

Esses e outros pensamentos flutuavam em redor da minha cabeça. Afastei todos e retomo o blog normalmente.

A nota curiosa é que Eloá, depois de isso já não ser nenhum problema para mim, me disse ontem que eu não acabe o blog. Agradeço a ela por isso.

Mas ela chegou atrasada.

Tudo será como antes. E nada será como antes...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A música segundo Tom Jobim

Vontade de chorar eu tive em pelo menos dois momentos do filme "A música segundo Tom Jobim", de Nelson Pereira dos Santos. Uma é quando aparece Nara Leão cantando "Dindí", daquele jeito dela, maravilhoso. Outra é quando Elis aparece, sapeca, rindo, exuberante, cantando "Águas de Março", com o próprio Tom.

Outros momentos bons, ótimos, estão neste filme lindinho sobre as canções do compositor. E Gal Costa, no início, cantando "Se todos fossem iguais a você", é um desses momentos. Linda Gal.

Eu fiquei doidinho pra ver esse filme desde que soube que ele estava sendo feito. E queria, desde sempre, que minha filha fosse junto. Ela fez dez anos outro dia, pediu para eu não chamar mais de garotinha, quer "mocinha" agora. Tudo bem. Esá crescendo, já pode começar a ver umas coisas mais sofisticadas.

Ela, que só conhecia "Garota de Ipanema", disse ter gostado do que viu. Tanto que prometi lhe comprar o DVD quando sair nas lojas. Bom isso.

Não achei o filme cansativo. É mesmo um grande clipe, com canções, uma depois da outra, mas o trabalho de montagem é feito por um mestre e tudo é tão bem amarrado, que vira mesmo um texto sem palavras, sem explicações desnecessárias. Nem mesmo a identificação de queme stá cantando o quê. Confesso que senti falta disso, mas não foi nada que tenha me prejudicado a fruição. Entendi a proposta de Nelson e, no final das contas, achei que a identificação não é essencial.

As informações aparecem no final e vemos que constelação de estrelas nacionais e internacionais desfilam pela tela. Para mim um dos momentos de baixa foi a participação de Carlinhos Brown - olha só, em geral, gosto de Brown - mas parar a música no meio, pedir às pessoas que coloquem a mão no coração e começar a batucar mimetizando as batidas cardíacas, me pareceu meio ridículo.

Nada que prejudique o sentimento de que se está diante de um filme importante. E delicioso.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Lado b

"Coisas sagradas permanecem/ nem o demo as pode abalar..."

Tenho um "Lado b", é o meu "recanto escuro" (para fazer referência ao delicioso disco de Gal a que pertence a citação acima). Gosto desse meu lado mais sombrio e também autêntico, popular e totalmente desencaixado dos hábitos dos meus amigos. Esses dias mesmo, chutei o balde e fui sozinho encher a cara, ouvir uma trilha de seresta, arrocha, funk e não sei o que mais em um desses botecos e outras casas da vida em estilo "pé sujo". Depois, passada uma semana, repeti a dose. A minha mulher ficou p... da vida na primeira vez. Na segunda, já aceitou melhor. Ela sabe que uma vez ou outra eu me entrego a esses prazeres mundanos. Há anos sou assim, ela é testemunha. É o meu lado b que às vezes fala mais alto. Por muitos anos, meu parceirão desses programas era meu amigo Sérgio. Ele era um especialista em tudo que diz respeito a esse meu lado b. Ele me ensinou quase tudo de bom que eu sei nesse terreno. 
"Sou um liberal ou libertário moral, alguém que não acha que o progresso seja a fonte dos males, alguém que acredita que nossa inclinação pelo conhecido não pode jamais apagar nossa atração pela aventura. O conhecimento não é 'virtude', no sentido de que não redime ninguém. Mas anima, dá prazer - e principalmente alternativa aos desprazeres. Não vejo valor inerente à ignorância. Vejo valor em não crer que haja sabedoria plena." (Daniel Piza)

Sempre li e acompanhei com interesse as coisas que o jornalista Daniel Piza escrevia no Estadão. Fiquei surpreso e triste com a sua morte.