domingo, 25 de setembro de 2011

Caminhando para as 200 páginas de "Grande sertão: veredas" e gostando cada vez mais.

Siricotico


Estava com saudade de ir ao teatro. Por isso, recebi com satisfação a sugestão dos amigos para ver algo no sábado à noite.
Muito divertido o espetáculo "Siricotico - Uma comédia do balacobaco", dirigido por Fernanda Paquelet, com a Companhia Baiana de Patifaria.
Propositadamente exagerada e cheia de reviravoltas calculadamente "teatrais", a peça se alimenta do mundo do teatro, da indústria do entretenimento local e do noticiário sobre Salvador para fazer seu repertório de piadas.
A turma se sai muito bem em um trabalho longo (quase duas horas em cena), mas que tem fôlego até o final.
Os atores são incansáveis e fazem rir o tempo inteiro.
Um teatro comercial de boa cepa, feito com inteligência e conteúdo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

vexável afeição

"...eu dele era louco amigo, e concebia por ele a vexável afeição que me estragava, feito um mau amor oculto..."

Já estudaram essa obra, "Grande sertão: veredas", de trás para frente e de frente para trás, pouco importa. O que me vale é a minha experiência pessoal. E eu estou boquiaberto. Juro. Confesso que estou confuso, mesmo meio que sabendo do que se trata, e como a história se desenrola. É o mal do século. Tudo já foi tão destrinchado e citado e recitado, que nada é totalmente novo. Mesmo para quem não leu um determinado clássico diretamente, sabe dele por meio das homenagens, paródias, citações etc.

Ok, então voltando ao livro "Grande sertão...". A essa altura, não tem como não saber que Diadorim é mulher. E que Riobaldo gosta dela, tem ciúmes, sente saudade, o coração aperta etc. Mas tudo isso acontece ANTES de ele saber que Diadorim é mulher. Significa que até o momento da descoberta, o jagunço está tendo sentimentos por outro jagunço (Como assim? Sem que isso lhe revolucione todo?). Não quero me antecipar, mas não é um negócio de doido? É quase uma bandeira gay num tempo em que não se falava em bandeiras.

Olha esse trecho a seguir, na página 82. Ele pega a narrativa no momento em que o líder do bando de jagunços morre e alguém precisará assumir a chefia:

"Num nu, nisto, nesse repente, desinterno de mim um nego forte se saltou! Não. Diadorim não. Nunca que eu podia consentir. Nanje pelo tanto que eu dele era louco amigo, e concebia por ele a vexável afeição que me estragava, feito um mau amor oculto - por mesmo isso, nimpes nada, - era que eu não podia aceitar aquela transformação: negócio de para sempre receber mando dele, doendo de Diadorim ser meu chefe, nhem, hem? Nulo que eu ia estuchar."

Vamos indo...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Compositor

Ressuscitei o meu lado compositor popular para prestar uma homenagem aos amigos Marlla e Tiago. Fiz uma canção para Marina, a filha do casal, que é uma lindinha. Queria brincar com a idéia de que em Marina está o apelido dela, nina, e o verbo ninar. Não foi um estouro de originalidade, mas foi o que a minha cabecinha conseguiu. Só sei que depois de pronta, eu me amarrei na canção. O primeiro pedaço veio no sábado. Ontem terminei o serviço e chamei minha filha pra cantar comigo. Afobado como sou, eu precisava mostrar urgentemente à Marlla. A minha filha, claro, adorou. Adora movimento. O nome que dei é "canção pra ninar marina". E aqui está a letra:

"marina nina tiago
marina nina farias
marina acorda de noite
marina dorme de dia
nina papai/ nina mamãe
ninguém perturbe a menina
o sol da tarde não irrita
só o barulho da vida
só o desconforto/ de ter saído
do quentinho da barriga
diz aí, papai/ diz aí, mamãe
quem tem mais belos cabelos?
quem é que adora um espelho?
diz aí, papai/ diz aí, mamãe
quem, sem modéstia, é uma linda?
quem é a mais fashion menina?"

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fernanda

Lá vem aquele tipo de post que meu amigo Franklin odeia.
Desde o filme "A Casa da Mãe Joana", sou apaixonado pela Fernanda de Freitas. Estou curioso para ver "Malu de bicicleta". E, sim, gosto muito dela nas comédias que fez (e faz) na TV.

Pronto, falei.



Como não ter Deus?!

Posso ser bobo, mas esse foi o trecho mais bonito que li até agora de "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa. Está na página 60:

"Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no Vale do Arassuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim, dá certo. Mas, se não tem Deus, então a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dor não dói até em criancinhas, em bichos e nos doidos – não dói sem precisar de ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver a morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há."

Inconspícuo

"Aprendi novas palavras/e tornei outras mais belas". Drummond

Já avancei um bom trecho de "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa. Mas ainda estou um pouco no efeito da releitura de Rubem Fonseca, do seu livro de tema inusual chamado "Secreções, excreções e desatinos".
Costumo anotar uma ou outra palavra que vejo pela frente. Não precisa ser desconhecida, basta que eu não saiba o significado, que não seja do meu repertório. Nem sempre me contento em apreender do contexto. Também anoto palavras que tem uma sonoridade especial aos meus ouvidos.
Por isso, uso bastante dicionário. Aliás, adoro consultar dicionário.
Me amarro em aprender palavras novas. Olha essa aqui, que delícia, que vi no livro de Fonseca: "Inconspícuo". Bom de pronunciar, precisa ter cuidado, pensar antes para não errar nenhum pedacinho ali pelo meio.
Inconspícuo significa algo que não é conspícuo, claro. É algo "que não é facilmente perceptível; que não é notável; comum, ordinário".
Já "Pertinácia", vista no mesmo livro, é a qualidade de pertinaz, ou seja, é o mesmo que obstinação, teimosia, tenacidade.
Lendo o Observatório da Imprensa, o Alberto Dines, que tem um texto muito bom, veio essa palavra: "Álgido". Segundo o Michaelis, álgido pode ser entendido como algo "muito frio".
No texto de Dines aparece assim:
"A Folha de S.Paulo abafou as conclusões do congresso petista enfiando-as dentro de uma matéria política mais ampla e O Globo – seguindo as normas editoriais recentemente adotadas – registrou-as de forma álgida, distante, como mereciam".

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Grande sertão

"Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal..."

Terminei Rubem Fonseca, fui direto a Guimarães Rosa, "Grande sertão: veredas". Comecei a ler esse livro na faculdade, mas não era obrigação de alguma disciplina. Queria mesmo ler. Penso que tendo nascido no Brasil, e precisando me expressar em português como ofício, não poderia fugir de ler gente como Rosa, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa... De todos esses, tenho pago minha dívida com quase todos, menos com Rosa e Euclides. Comecei a ler "Grande Sertão..." e parei na página 100, acho. E Euclides, li dois dos três capítulos de sua conhecida obra "Os sertões". Esse livro de Guimarães Rosa é um barato, poesia pura, porque ele inventa uma fala bem curiosa. Mas faz todo o sentido para quem lê. Principalmente para quem já conviveu com essa gente que habita fora das cidades, no interior, nas paisagens do sertão nordestino.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Rubem Fonseca

Comecei a ler na sexta e já estou chegando ao fim o livro "Secreções, excreções e desatinos", de Rubem Fonseca. É uma segunda leitura. Como já se passaram quase três anos, está me parecendo um livro novo. A empolgação para saber como termina cada uma das histórias está sendo a mesma de quando comprei o livro. Claro que em linhas gerais me recordo das histórias, mas não lembro dos detalhes. Fonseca é minucioso em assuntos que não são comuns em literatura. Pelo menos não do jeito como ele apresenta. Imagine um livro dedicado a histórias, quase todas elas, envolvendo alguma dessas tais secreções do corpo humano. E o autor aborda os temas de maneira séria e concentrada, mostra conhecimento sobre os assuntos, em alguns casos há explicações técnicas sobre a constituição do esperma, lágrima, sangue. Isso para não citar outras secreções... O fato mais importante é que as histórias, em geral curtas, são bem escritas e envolventes. Alguns contos parecem esboços, o que não é novidade num livro do autor; outras tem mais fôlego. Todas são boas de acompanhar. Eu ando por aí e de vez em quando volto às boas mãos de Rubem Fonseca. Não acho que haja escritor vivo melhor do que ele. Mas é só uma opinião.

Saudade

Período barra. Trabalho, trabalho, um monte, entrando pelo fim de semana, pelos sonhos, pelos poros. E estou acordando bem cedo para aprender a dirigir. Primeiras aulas, mas o professor reclama, diz que tenho que virar o volante com mais agilidade, pisar nos pedais na hora certa, observar os retrovisores, passar a marcha direito, ficar atento aos outros veículos, etc. Parece impossível que em algum momento eu vou estar dominando aquela máquina. Me dizem para ter calma, só foram três aulas, faltam dezessete. A filha perguntou sobre o título do blog, "As casas espiam os homens", o que me deu a idéia de fazê-la ler inteiro o Poema de sete faces de Carlos Drummond onde o blog foi buscar inspiração: "Quando nasci um anjo torto etc". A pequena empolgou, leu outros, novidade para ela que só tem nove anos, mas são poemas bem conhecidos: Quadrilha, José, Infância, Canção amiga e por aí vai.

"E eu não sabia que minha história/ era mais bonita que a de Robinson Crusoé..."

Lembrei de mim, de quando comecei a descobrir a delícia que é uma boa leitura, o jogo de palavras, o ritmo dos poemas. Apesar da correria toda, de vez em quando eu paro para curtir a saudade que tenho de mim. É um troço bom.