terça-feira, 16 de novembro de 2010

Menino no espelho

Voltei no tempo com a leitura de "O menino no espelho". É o livro de Fernando Sabido, que tomou como inspiração seus tempos de menino. Não é um livro para se ter ao pé da letra, é fantasia pura. O menino Fernando se envolve em inúmeras aventuras, algumas com o apoio dos agentes da sua sociedade secreta, dessas agremiações especiais que a gente inventa e desinventa quando é criança. No que toca à fantasia, o livro é uma ótima distração para a minha filhinha de oito anos. Mas vou esperar um pouco antes de lhe entregar para ler. Primeiro, porque achei que tem muito texto para a idade dela. Segundo, e mais importante, é que há diversas peraltices que não sei se é bom a pequena ter acesso, ainda mais diretamene da minha mão. Vai que estimula? Uma dessas coisas é a história dos meninos na escola que levam escondidos à sala de aula barata e sapo para infernizar a professora. Outra, a vez que o pequeno Fernando mete a mão na cara do valentão da escola e ganha o respeito da turma. Em outra situação, invade a casa do vizinho à noite e solta um mundo de passarinhos presos como revanche por ter levado cascudo. Não sei, não sei. Pretendo esperar um pouco mais e ler junto com ela, comentando essas passagens "mais fortes". Levo em conta que não é um livro infantil.

True Blood

Alma lavada e enxaquada com essa terceira temporada de True Blood. Me diverti muito. Os primeiros episódios me assustaram um pouco, achei essa coisa de lobisomen meio sem graça. Achei que a série estava perdendo sua verve sarcástica, auto-irônica, iconoclasta e pervertida. Não perdeu. Mas é preciso admitir que a ação continuada deu lugar a sequências mais contemplativas, de auto-conhecimento dos personagens. Uma das coisas boas era os finais que me deixavam com a respiração suspensa e em cólicas, agoniado para ver o episódio seguinte. Isso pouco aconteceu nessa terceira temporada. Exceção para aquela cena incrível - inusualmente longa - em que o rei do Mississipi, Russell Edgington (interpretado por Denis O'Hare), dispara aquele monólogo de arrepiar. Bem no estômago. Bem True Blood. Fiquei paralisado uns momentos. O autor da série, Alan Ball, fez um troço ousado e memorável. Por coisas como esse monólogo, vale a pena demais ver True Blood. Essa terceira temporada não é a melhor de todas, mas está longe de ser ruim. As tramas menores, algumas me irritaram - alô, Lafayette! - mas houve aquelas que me capturaram e me ganharam totalmente - olá, Jéssica. Essa vampirinha é cativante, linda e irresistível com seu jeito entre a sobrenatural selvagem e a moça apaixonada. Podem falar mal da série, eu vou continuar fissurado. É o tipo de programa que um personagem aqui, uma cena bem dirigida acolá, um diálogo mais inspirado adiante, pagam muito bem tudo de menos legal que venha antes ou depois. E o menos legal, em se tratando de True Blood, ainda assim é melhor que muita coisa que está rolando por aí. Meu único protesto é que a rainha Sophie-Anne, a lindinha Rachel Evan Wood, apareça tão pouco. No mais, desejo vida longa à serie. Vou aguardar ansioso o próximo ano.

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E que bom retorno esse de "Modern Family", hein! Na segunda temporada, continua tudo igual: texto bacana e inteligente, elenco em boa forma (incluindo as crianças) e a graça de situações do dia-a-dia, banais até, mas apresentadas num recorte que faz toda a a diferença. É a minha comédia preferida no momento. Quando é preciso desligar dos problemas e se transportar, esse é o programa.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Enamorado

Estou enamorado da Tammy Di Calafiori. Até a minha filha está me sacaneando por causa disso. Enamorado no sentido artístico, que fique bem entendido. Ela só aparece no filme do Jabor já chegando pro final. Mas quando apareceu, eu arrepiei todinho. E com aquela beleza toda, não precisa ser uma atriz excepcional. A câmera vai atrás dela de qualquer maneira.

A vida editada é muito melhor

O filme do Jabor fez muito sentido para mim. Eu tenho essa idéia que a suprema felicidade é um passado que não volta. A vida é um negócio gostoso demais, viver é muito bom. Mas não sabemos disso no dia a dia. No dia a dia, a vida é chata, sem graça, tacanha. Quando olhamos para trás, no entanto, a vida cresce, se agiganta, ganha significado que a gente não pensava antes e que no presente faz todo o sentido. Essa teoria quer dizer o seguinte, o passado a gente edita. Fica na memória as coisas marcantes, boas ou más, pouco importa. Esse conjunto editadinho, forte, cresce ainda mais em força e significado com o tempo. Eliminamos os tempos mortos. Eliminamos as pausas, o tempo de espera na ante-sala do dentista. Por isso, o passado é sempre melhor. A vida editada é muito melhor que a vida normal, corrida, vivida. O passado editado (às vezes reinventado) é onde mora a felicidade suprema, real, concreta. A vida não é filme, mas quando pode ser, faz toda a diferença. Resignifica até o presente, dá animo para fazer um futuro bom, azul, promissor. A felicidade é aquilo que não é possível reter na mão, é aquilo que mora apenas na memória.

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O aniversário de Eloá foi muito simpático, show de bola. Quase tudo foi comprado pronto. Mesmo assim foi bacana.

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As pessoas compram pernil suíno pensando em assado. Eu também. Mas outro dia, fiz um delicioso ensopado de pernil. Acompanhei com uma novidade, ao menos para mim, um feijão branco com bacon, e arroz com cenoura. E purê de batata doce. E salada.

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Hoje, feriado, fiz pela primeira vez uma lasanha de soja (adoro soja). E não se engane, pode ser um puta prato. O molho de soja e o molho de tomate são feitos separados e depois unidos na montagem. Show.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A suprema felicidade

"A suprema felicidade", novo filme de Arnaldo Jabor, não é regular, redondinho, nem bom em todos os momentos. Há altos e baixos, momentos bem bonitos e outros menos. O fato é que, no geral, tive muito prazer com essa obra. Assistiria mais dez vezes. Há muita coisa bacana, muitas cenas especiais, um clima de nostalgia boa que atravessa todo o filme. É um filme complexo, cheio de informação e histórias, cheio de homenagens e citações. Me senti muito bem, estive numa sala não cheia e com várias pessoas mais velhas. Talvez tenha causado um certo incômodo a esse público porque o filme é cheio de citação de sacanagem em palavras e em peitinhos descobertos. Gosto de Jabor (do cineasta, pelo menos). Não vi toda sua obra, mas gosto muito das duas adaptações que ele fez de Nelson Rodrigues, "Toda nudez será castigada" e "O casamento". Adorei ver a Tammy Di Calafiori fazendo o número musical como a Marilyn. Linda, graciosa, triste. Adorei vê-la pelada, sem vergonha (e o presente veio duplo porque mais cedo quem tirou o vestido foi a bela Maria Flor). Jabor tira a roupa de quase todas as suas atrizes, o que é um bônus em seus filmes. Outro ponto alto é o avô feito por Marcos Nanini, um personagem muito especial, que encerra o filme de maneira graciosa, elevada. Gosto também muito daquela cena operística, com o crime no bairro das prostitutas. O casal central, os pais do protagonista, é interpretado por dois atores cativantes (Dan Stulbach e Mariana Lima), que seguram bem os papéis (achei teatral, e ainda assim muito bonitinho o trecho que cita "O morro dos ventos uivantes"). É um trabalho que encanta quem gosta de cinema. A mim me encantou como se eu estivesse diante dos melhores filmes que vi e me marcaram. O que é bom no filme é uma delícia, compensa com sobra os momentos menos fortes. Um filme que quero comprar e ter na estante de casa.