terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O jogador

Em passo de tartaruga ainda lendo "O jogador", de Dostoiévski. Eu sei, eu sei, podem atirar as pedras. É uma releitura, o que seria mais um motivo para ler com alguma celeridade num ano marcado por boas e muitas leituras. Mas eis que esse quinto final do ano me trouxe muitas novidades e me ocupou o tempo de uma forma tremenda. E mudou minha rotina, pôs meus hábitos abaixo com o carro e o novo endereço. Resultado: quase parei de ler o livro. De vez em quando, como hoje, encontro um tempo para ler duas ou três páginas. Não há complicação, a leitura flui como se não a tivesse deixado. Bom demais a leitura. Vou tomar vergonha e dar atenção às coisas importantes da vida.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Meu tio matou um cara

Já tinha visto, mas resolvi rever "Meu tio matou um cara", filme bacana do Jorge Furtado, desta vez com minha filhinha de 9 anos. Eloá achou o filme "adiantado" pra ela, quer dizer, tratando de temas que deveriam ser apresentados a ela mais adiante (namoro, sexo etc). Eu me preocupo com os programas que ela vê e sei que nas novelas, mesmo as que são exibidas em horário de criança, tem referência a namoro, sexo, essas coisas que devemos ter cuidado em se tratando de crianças. Mas o filme de Jorge Furtado é tão simpático, e narrado da perspectiva de um garoto, que eu resolvi dar esse prazer à pequena e ficar monitorando. Mas nada que está mostrado é "pesado" ou inadequado a ponto de ser proibitivo pra ela. Até seus temas mais picantes (Déborah Seco seminua, por exemplo), eu os considerei pouco para inviabilizar o filme para a pequena. Até porque o principal é que é também uma história de detetive, com mistério em torno de um crime, suspeito de assassinato, mulher fatal, e uma dupla esperta de personagens centrais (feitos por Darlan Cunha e Sophia Reis), o herói e a mocinha. Tudo é muito leve, inteligente, e em situações bem aproveitadas pela história, que na verdade é até simples. Gosto de ver filme com a pequena, ela adora esses programas. E sempre tem depois uma conversa para falar sobre o que vimos, chamar a atenção para algum ponto e rir relembrando alguma passagem. Uma boa diversão.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Daí eu ouço Gal Costa cantando "Baby", acompanhada por Caetano Veloso ao violão. E me vem à cabeça uma vida inteira que tive antes, em outra época, quando muito ouvia essas coisas, acompanhava os movimentos, sabia quem lançava discos. Ia fazendo minha vida com essa trilha sonora de música popular brasileira. Com os amigos, na rua, ouvia o rock brasileiro que ainda ecoava forte no final dos anos 80 e em todos os anos 90. Mas dentro de casa, a tilha era de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal e Bethânia, Dorival Caymmi, João Gilberto, Tom Jobim, entre outros medalhões. Foi o início de adolescência. Não poderia haver trilha melhor, seja a de dentro de casa ou a das ruas. Outro dia Adriana Calcanhoto falava que há uma música brasileira correspondente a cada situação que a gente vive. É possível ilustrar qualquer situação com uma música do nosso cancioneiro. Ela está certa, tem tudo a ver. Tenho essa mania de pensar numa música para cada situação passada, presente ou futura na minha vida. A canção sempre teve um papel importante pra mim. Lembro que quando conquistei a minha primeira namorada; na época escrevia poesia, e fiz então uns dez poemas para serem gravados por ela sob o som do piano de Johannes Brahms. Ficou uma coiisa linda. Até hoje lembro de alguns trechos e me arrepio de lembrar. Música é um troço importante demais. 

Música

Agora com o carro, tenho ouvido muito mais música. É uma dívida comigo mesmo que passo a quitar. Comecei ouvindo as coisas que tenho em casa e nos últimos dias comecei a correr atrás de outras coisas que já queria ouvir, explorar, há algum tempo. A primeira demanda reprimida foi por Ana Cañas. Depois que vi um clip seu na internet interpretando "O nosso amor a gente inventa", em pegada rock and roll, me amarrei. Fiquei com essa imagem na cabeça, fascinado. Consegui o segundo disco, "Hein?", com esse título saboroso e uma foto linda dela na capa. O disco é explosivo, já começa bem, com pegada, e segue muito bom até o fim. Depois de ouvir umas trezentas vezes, comecei a explorar outra cantora que despertava minha curiosidade: Amy Winehouse. Aquela voz bonita, potente, em clima doloroso, sempre me chamava a atenção. Achei por bem esperar baixar a poeira em torno dela pra começar a ouvir com calma. É maravilhosa. Não posso, não consigo ouvir outra coisa, desde que coloquei o disco pra tocar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Negalora

É curioso. Há um certo prazer em falar mal de gente conhecida, personagens célebres. As militâncias, mais do que todos, adoram atacar quem está em evidência. Vi no Facebook e no twitter reações ao personagem "Negalora", adotado por Cláudia Leitte por inspiração de Carlinhos Brown. Acho curioso que uma turma da militância negra gaste tanta energia para discutir "semioticamente" (pode rir) uma manifestação de uma artista popular. Caramba, e como se levam a sério! É uma audácia, um ataque à cultura negra, uma cantora que passou a vida tirando o sustento dessas manifestações mestiças - e o Carnaval é a maior dessas manifestações - que agora venha a se dizer "nega", cite a influência da babá e ainda queira homenageiar a África. Um abuso completo. Essa grande discussão, porque não há outra mais importante para a militância no momento, é tremendamente útil e ajuda a reduzir as desigualdades sociais, a miséria, o racismo e tantos males que afetam a população negra, mestiça etc.

Eu acho tudo muito curioso.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Natal

"Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
'Stou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei...!"

É um texto triste e melancólico, eu sei. Mas sempre lembro desse poema de Fernando Pessoa, especialmente os primeiros versos, quando o Natal está próximo. Não sei que conexão essas palavras encontram com a minha vida, em que momento se deu essa conexão, mas está lá. E uma coisa e outra me levam à infância, que é o terreno onde o Natal parece sempre ter sido perfeito. Mesmo para um garoto que teve a infância pobre como eu, o Natal sempre foi mágico. Mesmo que mal pudesse ganhar dos pais um carrinho de bombeiro ou uma roupa nova. Em oposição ao sentimento nos versos de Pessoa, toda a lembrança que eu tenho da infância nessa época do ano é um negócio bom, iluminado, para cima. A religião explica em parte, mesmo sabendo que minha família nunca foi religiosa ao extremo. Mas é uma influência óbvia a mistura de celebração religiosa e profana nessa época.

Mas o meu entusiasmo com o Natal pode ser explicado, por exemplo, pelo fato de que eu criança tinha um exército de outras crianças como eu para brincar e bricávamos muito, o dia inteiro, em ruas que não ofereciam o perigo que hoje oferecem. Pelo menos nós e nossos pais tínhamos essa ilusão. Então, no final do ano, verão na cidade, férias da escola, era bom demais explorar mil e uma brincadeiras. No Natal era tudo melhor, porque a maioria de nós estava com brinquedos novos e era o momento de maior movimento. Quem não tinha brinquedo novo, usava a criatividade, improvisava, se unia a quem tinha e por aí vai. Toda a ciançada da vizinhaça se unia, era uma agitação sem fim.

Um pouco maior, com um pouco mais de idade, as coisas eram ainda mais saborosas. Éramos crianças maiores, fazíamos festa, saíamos em grupo, ouvíamos música, vivíamos loucos atrás das menininhas que viviam loucas atrás da gente. Nesse início de vida adolescente, vivíamos mais o desejo do que a realização desse desejo. Poucos de nós conseguiam um beijinho de uma garota (e os poucos que chegavam lá tornavam-se heróis da turma). O Natal, como outras épocas festivas, era regado a muito refrigerante e só bem depois começamos a encher a cara de cerveja e bebidas mais fortes.

Nada que tenha vivido entre a infância e a adolescência se aproxima do clima de neve que caracteriza o Natal europeu e americano do norte. Porém, os filmes, desenhos e especiais de TV, em que éramos viciados, impregnavam nosso cérebro de imagens geladas e paisagens que não eram a nossa. Porém, tudo fazia parte de um imaginário e se atrelava à idéia do Natal. Por isso, mesmo em nossa quente temperatura e sem nenhuma relação com gelo, eu, como outras tantas crianças, nos acostumamos com essa cultura do Natal que não é nossa, mas passou a fazer parte como se nossa fosse.

Não me incomodo com isso. Há tantas coisas que tomamos como nosso e tem origens tão distantes. O mais bacana do processo todo é que na deglutição desses símbolos que nos chegam em algum momento, sempre entregamos algo de nós e devolvemos uma coisa diferente do original. Nunca acreditei em dominação cultural da forma como alguns querem interpretar. Acredito muito em fusão, em troca. E acredito que uma tradição de centenas de anos, que é aceita, cultuada e repetida, não pode ser reduzida à imposição do mais forte ao mais fraco simplesmente. Sempre achei esses processos mais complicados, maiores que as explicações rasteiras que costumamos ouvir por aí.

Gosto do Natal, gosto da parte religiosa da coisa e também da farra. E não vejo nenhum problema em o comércio lucrar nessa época.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Planeta dos Macacos

Ainda tenho na lembrança o "Planeta do Macacos" de Tim Burton. Tenho uma relação de amor e ódio com Burton, mas lembro de ter simpatizado bastante com esse filme dele que foi bem maltratado pela crítica à época. Aquele triângulo amoroso entre um casal humano e uma símio é um negócio de louco, e bem construído, dentro do filme.
Essa semana, eu vi em DVD a versão mais nova do filme, chamada "Planeta dos Macacos: A Origem", de Rupert Wyatt. Na verdade é uma prequel, com fatos eventualmente passados antes do filme de Burton e, óbvio, antes dos fatos mostrados na famosa série dos anos 60.

Esse novo filme não é grande coisa. O macaco César (o nome é ótimo) é o astro do filme, portanto, um ponto a favor da tecnologia que permite esse tipo de coisa com assombroso realismo. Aqueles olhos são extremamente expressivos.

Mas, não sei, o drama não me instigou... não há de fato um drama. Há desculpas para um filme de ação e combate, que consomem a metade final do longa. Tudo é muito rápido e superficial, tanto quanto a agilidade do animal saltando de um lado a outro em tomadas exaustivamente repetidas.

No final, apesar de James Franco ser um ator de algum recurso e a Frida Pinto ser a lindeza que é, é mais um filme sem grande força... a não ser a de fazer bilheteria.



sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Trânsito

Atualmente, nessa minha vida de condutor, tenho observado coisas. Por exemplo, Salvador é muito ruim em matéria de sinalização de trânsito. A cidade é ruim em muitas coisas, em sinalização é péssima. Nos bairros mais nobres há alguma coisa parecida com sinalização horizontal e vertical, porém quando vamos mais para a periferia, é o inferno. Sem falar no crime de haver tantos e tão variados buracos ao longo do asfalto (que se multiplicam quando chove), ondulações inexplicáveis na pista, lombadas a torto e a direito, sem nenhum critério. Ser motorista numa cidade entregue à própria sorte como essa é um negócio absurdo. O que eu acho curioso é que tomamos conhecimento de motoristas punidos por infrações de trânsito - em quantidade infinitamente menor do que o que se pratica. Mas o que intriga mesmo é que, no entanto, nunca se ouve falar de um gestor público que tenha sido penalizado por estupenda ausência de gestão em matéria de trânsito.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Voltando aos poucos


Não deixei o blog. Depois de tantas mudanças na vida, venho voltando devagar. Agora que estou dirigindo, estou descobrindo muita coisa que é óbvio do óbvio para grande parte das pessoas que tem a minha idade, mas que para mim, cada nova informação é, às vezes, um susto. Na segunda-feira, um dia tão difícil, em que fui batizado nessa coisa terrível de bater o meu carro (na verdade fui batido), nesse dia vi um filme muito bom. O argentino "Um conto chinês", de Sebastián Borensztein, tem o frescor das boas história num conjunto tão simples de elementos, cujo resultado é imensamente gratificante... E é muito bacana o trabalho de ator do Ricardo Darín. O filme foi a nota boa num dia difícil.

Já que falei dessa obra argentina, vale a pena registrar também um ótimo filme que vi no fim de semana indicado pela amiga Juliana Suedde: "Namorados para sempre". O título engana. O filme é muito mais sobre as dores e as dificuldades para se manter uma relação do que algo romântico etc. (O título original é muito superior e adequado ao que se vê na tela: "Blue Valentine".) Eu achei o filme incrível do começo ao fim. Direção de Derek Cianfrance e a dupla central nas mãos de ótimos Ryan Gosling e Michelle Williams.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Blog

Caramba. Passando o olho no blog antigo, vi que escrevia muito mais lá. Não tinha limites, falava de tudo e de cada coisinha da minha vida. Foi bom ler vários trechos, enquanto outros me deixaram sem graça. Era muita exposição. Mas não acho tão ruim (só um pouco). Afinal, no balanço, o exercício valia a pena. Aqui sou muito mais contido. Por vários motivos; o principal deles é que estou diferente, em outro momento da minha vida. Tem aquele episódio que conto sempre, quando Franklin, o amigo, esculhambou o fato de eu só escrever no blog sobre "mulheres, filmes e vinhos". Minha resposta foi uma pergunta: "tem coisa melhor?". No fundo, o comentário dele provocou em mim uma mudança de atitude. Fiquei mais tímido, mais reservado, passei a falar pouco de vida pessoal e anotava apenas sobre filmes, livros e alguns acontecimentos mais importantes. Acho que a mudança foi um pouco eu assumindo que Franklin tinha razão quando me fazia repensar o blog; e um pouco de amadurecimento. O fato é que sinto falta de escrever um pouco mais sobre futilidades, vida pessoal e observações gerais. Sem deixar de anotar sobre filmes, livros e minha (parca) experiência culinária. O desafio agora será encontrar um equilíbrio.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Viagem ao céu

Saí do meio do sertão das gerais, o mundo incrível das peripécias de Riobaldo e Diadorim, para voar alto em um mundo não menos incrível com Pedrinho, Narizinho, Emília e companhia. O livro "Viagem ao céu" é de cair o queixo de tão bom, tão instrutivo e tão fácil de ler. Sempre achei que não se deve tratar criança como debilóide, que são pessoinhas espertas, captam as coisas, montam seus raciocínios. Monteiro Lobato entendeu isso. Escrevia sobre assuntos complicados de maneira saborosa. Não há criança ou adulto que não embarque nas suas aventuras e, de lambuja, aprende-se muito.

Terminada essa jornada com a turma do sítio, já estou no cenário das histórias de Dostoiévski. Comecei "O jogador", livro que tinha lido há tanto tempo que pouco lembro da história. Vamos indo...

domingo, 16 de outubro de 2011

Lobato

E mal terminei de ler Guimarães Rosa, passo ao livro que presenteei minha filha há alguns meses: "Viagem ao céu". Ela leu antes de mim e adorou. É mais um livro de Monteiro Lobato, esse autor por quem tenho grande, imenso apreço.

Grande sertão

Escalei uma montanha.
Terminei a leitura de "Grande sertão: veredas", o clássico de Guimarães Rosa.
Não é uma obra fácil de atravessar.
Há sentimentos diversos para quem lê o romance.
Um deles é um incontornável prazer: não faltam passagens deliciosas no livro (algumas reproduzi aqui no blog).
Mas é um livro que requer uma certa paciência do leitor nos momentos menos emocionantes.
Não acho que seja um livro difícil, a linguagem é diferenciada mesmo, mas depois que acostumamos, vamos embora sem grandes problemas.
Há aqueles pontos altos, um deles é o julgamento de Zé Bebelo, outro é a cena de guerra no final - todo aquele monte de informação que vem de vez.
Não vou estragar pra quem não leu e falar sobre isso aqui.
Posso dizer apenas que fiquei triste com o final, não direi desapontado, porque foi uma experiência muito boa. Valeu muito a pena ter lido o livro.
E gosto muito da relação entre os dois jagunços, o sentimento confuso de Riobaldo por Diadorim. Confuso não! Riobaldo está certo que ama Diadorim. É um amor genuíno de um jagunço por outro jagunço, um amor com tudo que tem direito.
A maneira como isso se desenrola, como vemos o relacionamento acontecer, tudo isso é muito bem manipulado. Se parar para pensar, o fato de Diadorim ser mulher é um detalhe.
O autor queria essa ambiguidade, trabalhou para isso.
É uma riqueza uma história assim.
Os tipos que aparecem ao longo do livro também são bem interessantes: Hermógenes, Joca Ramiro e Otacília são alguns deles.
É uma história regional, então o lugar onde tudo acontece faz toda a diferença para as coisas serem como são.
O Riobaldo é um personagem rico, não só no que sente, no que diz, mas como expressa tudo e como interpreta e avalia os fatos passados que narra.
Sua referência constante ao ouvinte, um senhor instruído a quem ele conta a sua história, é uma informação interessante.
A mim ficou sendo que o ouvinte é o próprio autor, o próprio Rosa.
Enfim, é uma boa montanha, um bom livro, uma boa opção para passar o tempo...

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sem tempo

Várias coisas acontecendo ao mesmo tempo.
No trabalho, a situação está punk. A minha vida pessoal  também não está dando nenhum refresco. O momento é crítico.
O fato é que já estou há um bom tempo sem ver um filmezinho seguer; nada no cinema, nada em DVD. É uma doidera isso, porque sinto uma falta estúpida. E quanto mais vejo, de passagem, notícia sobre filmes que quero ver, mas fico agoniado.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Julgamento de Zé Bebelo

“Acusação, que a gente acha, é que se devia de amarrar este cujo, feito porco. O sangrante... Ou então botar atravessado no chão, a gente todos passava a cavalo por riba dele – a ver se vida sobrava, para não sobrar!” (Trecho de "Grande Sertão: Veredas")

*

Estou descobrindo a roda. E achando incrível...
Esse julgamento de Zé Bebelo, o líder de jagunços capturado vivo, que negócio tremendo.
Nesse episódio, como em outros, Guimarães Rosa vai montando pedaço por pedaço a sua trama, cria aquele suspense. E são várias as camadas, porque não se sabe exatamente como vai terminar o julgamento, não se sabe se e quando o herói Riobaldo vai se intrometer, se terá apoio, se o líder Joca Ramiro tomará uma decisão que não traga revolta, divisão do grupo.
É tensão pura em páginas que se seguem umas mais nervosas que as outras. E vamos acompanhando aquilo meio estupefacto, eu pelo menos...
Já estou com saudades de quando o livro terminar.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Dirigindo

O Departamento de Trânsito da Bahia diz que eu posso dirigir um veículo.
Estou "apto" do ponto de vista psicológico, clínico, teórico e, por fim, também do ponto de vista prático.
Não sei bem. Queira muito passar por todas essas etapas, me dediquei para isso.
Mas não sinto que sou um motorista "de cima a baixo", como diz minha mãe.
Os amigos consolam: segurança mesmo a gente só sente depois, com o tempo.
Não nego que eu curti muito todo o ritual, mas também sofri muito: fiquei ansioso muitas vezes, me achei burro, tive apagões (de simplesmente não saber o que fazer em alguns momentos), cometi um milhão de erros.
Perto da prova prática, fiquei uma noite inteira sem dormir.
Felizmente, acabou toda essa parte e começam outras coisas na minha vida.

domingo, 25 de setembro de 2011

Caminhando para as 200 páginas de "Grande sertão: veredas" e gostando cada vez mais.

Siricotico


Estava com saudade de ir ao teatro. Por isso, recebi com satisfação a sugestão dos amigos para ver algo no sábado à noite.
Muito divertido o espetáculo "Siricotico - Uma comédia do balacobaco", dirigido por Fernanda Paquelet, com a Companhia Baiana de Patifaria.
Propositadamente exagerada e cheia de reviravoltas calculadamente "teatrais", a peça se alimenta do mundo do teatro, da indústria do entretenimento local e do noticiário sobre Salvador para fazer seu repertório de piadas.
A turma se sai muito bem em um trabalho longo (quase duas horas em cena), mas que tem fôlego até o final.
Os atores são incansáveis e fazem rir o tempo inteiro.
Um teatro comercial de boa cepa, feito com inteligência e conteúdo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

vexável afeição

"...eu dele era louco amigo, e concebia por ele a vexável afeição que me estragava, feito um mau amor oculto..."

Já estudaram essa obra, "Grande sertão: veredas", de trás para frente e de frente para trás, pouco importa. O que me vale é a minha experiência pessoal. E eu estou boquiaberto. Juro. Confesso que estou confuso, mesmo meio que sabendo do que se trata, e como a história se desenrola. É o mal do século. Tudo já foi tão destrinchado e citado e recitado, que nada é totalmente novo. Mesmo para quem não leu um determinado clássico diretamente, sabe dele por meio das homenagens, paródias, citações etc.

Ok, então voltando ao livro "Grande sertão...". A essa altura, não tem como não saber que Diadorim é mulher. E que Riobaldo gosta dela, tem ciúmes, sente saudade, o coração aperta etc. Mas tudo isso acontece ANTES de ele saber que Diadorim é mulher. Significa que até o momento da descoberta, o jagunço está tendo sentimentos por outro jagunço (Como assim? Sem que isso lhe revolucione todo?). Não quero me antecipar, mas não é um negócio de doido? É quase uma bandeira gay num tempo em que não se falava em bandeiras.

Olha esse trecho a seguir, na página 82. Ele pega a narrativa no momento em que o líder do bando de jagunços morre e alguém precisará assumir a chefia:

"Num nu, nisto, nesse repente, desinterno de mim um nego forte se saltou! Não. Diadorim não. Nunca que eu podia consentir. Nanje pelo tanto que eu dele era louco amigo, e concebia por ele a vexável afeição que me estragava, feito um mau amor oculto - por mesmo isso, nimpes nada, - era que eu não podia aceitar aquela transformação: negócio de para sempre receber mando dele, doendo de Diadorim ser meu chefe, nhem, hem? Nulo que eu ia estuchar."

Vamos indo...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Compositor

Ressuscitei o meu lado compositor popular para prestar uma homenagem aos amigos Marlla e Tiago. Fiz uma canção para Marina, a filha do casal, que é uma lindinha. Queria brincar com a idéia de que em Marina está o apelido dela, nina, e o verbo ninar. Não foi um estouro de originalidade, mas foi o que a minha cabecinha conseguiu. Só sei que depois de pronta, eu me amarrei na canção. O primeiro pedaço veio no sábado. Ontem terminei o serviço e chamei minha filha pra cantar comigo. Afobado como sou, eu precisava mostrar urgentemente à Marlla. A minha filha, claro, adorou. Adora movimento. O nome que dei é "canção pra ninar marina". E aqui está a letra:

"marina nina tiago
marina nina farias
marina acorda de noite
marina dorme de dia
nina papai/ nina mamãe
ninguém perturbe a menina
o sol da tarde não irrita
só o barulho da vida
só o desconforto/ de ter saído
do quentinho da barriga
diz aí, papai/ diz aí, mamãe
quem tem mais belos cabelos?
quem é que adora um espelho?
diz aí, papai/ diz aí, mamãe
quem, sem modéstia, é uma linda?
quem é a mais fashion menina?"

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fernanda

Lá vem aquele tipo de post que meu amigo Franklin odeia.
Desde o filme "A Casa da Mãe Joana", sou apaixonado pela Fernanda de Freitas. Estou curioso para ver "Malu de bicicleta". E, sim, gosto muito dela nas comédias que fez (e faz) na TV.

Pronto, falei.



Como não ter Deus?!

Posso ser bobo, mas esse foi o trecho mais bonito que li até agora de "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa. Está na página 60:

"Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no Vale do Arassuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim, dá certo. Mas, se não tem Deus, então a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dor não dói até em criancinhas, em bichos e nos doidos – não dói sem precisar de ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver a morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há."

Inconspícuo

"Aprendi novas palavras/e tornei outras mais belas". Drummond

Já avancei um bom trecho de "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa. Mas ainda estou um pouco no efeito da releitura de Rubem Fonseca, do seu livro de tema inusual chamado "Secreções, excreções e desatinos".
Costumo anotar uma ou outra palavra que vejo pela frente. Não precisa ser desconhecida, basta que eu não saiba o significado, que não seja do meu repertório. Nem sempre me contento em apreender do contexto. Também anoto palavras que tem uma sonoridade especial aos meus ouvidos.
Por isso, uso bastante dicionário. Aliás, adoro consultar dicionário.
Me amarro em aprender palavras novas. Olha essa aqui, que delícia, que vi no livro de Fonseca: "Inconspícuo". Bom de pronunciar, precisa ter cuidado, pensar antes para não errar nenhum pedacinho ali pelo meio.
Inconspícuo significa algo que não é conspícuo, claro. É algo "que não é facilmente perceptível; que não é notável; comum, ordinário".
Já "Pertinácia", vista no mesmo livro, é a qualidade de pertinaz, ou seja, é o mesmo que obstinação, teimosia, tenacidade.
Lendo o Observatório da Imprensa, o Alberto Dines, que tem um texto muito bom, veio essa palavra: "Álgido". Segundo o Michaelis, álgido pode ser entendido como algo "muito frio".
No texto de Dines aparece assim:
"A Folha de S.Paulo abafou as conclusões do congresso petista enfiando-as dentro de uma matéria política mais ampla e O Globo – seguindo as normas editoriais recentemente adotadas – registrou-as de forma álgida, distante, como mereciam".

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Grande sertão

"Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal..."

Terminei Rubem Fonseca, fui direto a Guimarães Rosa, "Grande sertão: veredas". Comecei a ler esse livro na faculdade, mas não era obrigação de alguma disciplina. Queria mesmo ler. Penso que tendo nascido no Brasil, e precisando me expressar em português como ofício, não poderia fugir de ler gente como Rosa, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa... De todos esses, tenho pago minha dívida com quase todos, menos com Rosa e Euclides. Comecei a ler "Grande Sertão..." e parei na página 100, acho. E Euclides, li dois dos três capítulos de sua conhecida obra "Os sertões". Esse livro de Guimarães Rosa é um barato, poesia pura, porque ele inventa uma fala bem curiosa. Mas faz todo o sentido para quem lê. Principalmente para quem já conviveu com essa gente que habita fora das cidades, no interior, nas paisagens do sertão nordestino.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Rubem Fonseca

Comecei a ler na sexta e já estou chegando ao fim o livro "Secreções, excreções e desatinos", de Rubem Fonseca. É uma segunda leitura. Como já se passaram quase três anos, está me parecendo um livro novo. A empolgação para saber como termina cada uma das histórias está sendo a mesma de quando comprei o livro. Claro que em linhas gerais me recordo das histórias, mas não lembro dos detalhes. Fonseca é minucioso em assuntos que não são comuns em literatura. Pelo menos não do jeito como ele apresenta. Imagine um livro dedicado a histórias, quase todas elas, envolvendo alguma dessas tais secreções do corpo humano. E o autor aborda os temas de maneira séria e concentrada, mostra conhecimento sobre os assuntos, em alguns casos há explicações técnicas sobre a constituição do esperma, lágrima, sangue. Isso para não citar outras secreções... O fato mais importante é que as histórias, em geral curtas, são bem escritas e envolventes. Alguns contos parecem esboços, o que não é novidade num livro do autor; outras tem mais fôlego. Todas são boas de acompanhar. Eu ando por aí e de vez em quando volto às boas mãos de Rubem Fonseca. Não acho que haja escritor vivo melhor do que ele. Mas é só uma opinião.

Saudade

Período barra. Trabalho, trabalho, um monte, entrando pelo fim de semana, pelos sonhos, pelos poros. E estou acordando bem cedo para aprender a dirigir. Primeiras aulas, mas o professor reclama, diz que tenho que virar o volante com mais agilidade, pisar nos pedais na hora certa, observar os retrovisores, passar a marcha direito, ficar atento aos outros veículos, etc. Parece impossível que em algum momento eu vou estar dominando aquela máquina. Me dizem para ter calma, só foram três aulas, faltam dezessete. A filha perguntou sobre o título do blog, "As casas espiam os homens", o que me deu a idéia de fazê-la ler inteiro o Poema de sete faces de Carlos Drummond onde o blog foi buscar inspiração: "Quando nasci um anjo torto etc". A pequena empolgou, leu outros, novidade para ela que só tem nove anos, mas são poemas bem conhecidos: Quadrilha, José, Infância, Canção amiga e por aí vai.

"E eu não sabia que minha história/ era mais bonita que a de Robinson Crusoé..."

Lembrei de mim, de quando comecei a descobrir a delícia que é uma boa leitura, o jogo de palavras, o ritmo dos poemas. Apesar da correria toda, de vez em quando eu paro para curtir a saudade que tenho de mim. É um troço bom.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tudo o que você não soube

Engraçado isso. "Tudo o que você não soube", livro da Fernanda Young, não é um grande livro.
Na verdade, é quase uma crônica ampliada.
Cento e poucas páginas, escrito sem complicação, texto quase displicente, e girando em torno de si mesmo.
Uma personagem sem nome fala diretamente ao pai moribundo; quer contar a ele tudo que ele não soube sobre a vida dela, inclusive sua estadia numa casa de detenção depois de ter tentado matar a mãe com um martelo.
A idéia me pareceu ótima desde sempre, mas o livro não trata propriamente de contar uma história. É mais um um desfiar de traumas, ressentimentos e ódio da filha pelos pais.
E no meio do caminho, ela faz observações sobre a vida, sobre gostos, sobre pessoas e sobre a relação entre pais e filhos a partir do seu exemplo trágico.
Não é um bom livro, mas não irrita (muito). Vamos indo, encontramos umas passagens bobas aqui, algum pensamento mais criativo acolá, mas nada excepcional.
Poderia ter sido um daqueles livros que agrupam textos de blogs.
Os capítulos são irregulares, alguns possuem uma única frase, outros são bem maiores.
Fernanda Young tem um texto fácil de seguir, irônico às vezes, mordaz quase sempre, com um ou outro palavrão calculado e, de vez em quando, uma frase mais forte, provocativa, direta ao leitor, do tipo "eu sou assim, não gostou, é só largar o livro agora".
Nesse livro em especial, ela resolve fazer uma série de citações, quase uma por capítulo, de Cartola a Caetano Veloso, passando por uma declaração de amor a Roberto Carlos. E de vez em quando fala de filmes.
A melhor parte da narrativa aparece quando ela analisa o filme "Atração Fatal", sucesso com Michael Douglas e Glenn Close.
Já falei aqui que tenho sentimento confuso em relação a Fernanda Young.
Gosto às vezes, mas me irrito muitas outras.
Continuo interessado nela por causa da impressão que me causou o seu livro "Vergonha dos pés", que li bem mais novo.
Me pareceu moderno, engraçado, auto-irônico, bem escrito.
Mas ou menos o que sinto com a sitcom "Os normais", escrito por ela e pelo marido para a TV.
Tenho medo de voltar à "Vergonha dos pés" e descobrir que Fernanda Young nunca foi essa coca-cola toda.

domingo, 28 de agosto de 2011

Cigarro

Eu tinha um projeto de banda de rock ainda bem jovenzinho.
E nessa época, um determinado dia, achei adequado tirar uma foto de terno, com a gravata frouxa, óculos escuros e cara de mau.
Meu amigo Sérgio pousou comigo, com os mesmos trejeitos.
Depois, fomos comemorar na cozinha da casa dele ouvindo Raul, Cazuza, Legião Urbana...
Sentamos no chão, tiramos do bolso e acendemos nossos cigarros.
Era um negócio proibido, mas vivíamos a sensação de que estrelas da música são mesmo assim.
E olha que era um simples cigarro, nada de drogas ilícitas.
Lembrei desse momento quando li o trecho abaixo de Fernanda Young do livro "Tudo que você não soube".

*

"Então, fumei um cigarro e achei maravilhoso. Lembro bem da sensação, que me pareceu de delícia absoluta, do meu corpo ficando dormente a partir da ponta dos dedos. Fumar escondido tornou coisas como feriados em Araruama imediatamente mais interessantes. Já que, sentada em qualquer janela, de madrugada, junto com o meu Hollywood, eu estava tendo minhas primeiras experiências no ramo em que me notabilizaria: o da ilegalidade. Logo depois, viria aquele copo de requeijão cheio de Campari, tomado num só fôlego, que me introduziu no mundo dos porres completos. Nunca mais bebi Campari, enjôo só de pensar; mas virei adepta do hábito pirata, do álcool num único gole. Daí para a chamada perdição foi uma ida até a próxima esquina.

Coisa triste de uma filha dizer a um pai. Ainda mais, sendo justamente esta a sua intenção."

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A rainha do castelo de ar

Acabei de ler "A rainha do castelo de ar".
Sinceramente, não tenho certeza se entendi o título.
Mas nem acho que isso seja tão importante.
A personagem da hacker, Lisbeth Salander, é uma heroína moderna.
Ela é a personagem chave nos três livros, embora no primeiro ela só apareça depois de a história ter avançado bastante.
No primeiro livro, o jornalista do bem, Mikael Blomkvist, é claramente o personagem em torno do qual a história gira.
Salander é uma coadjuvante que vai ocupando mais e mais espaço.
Não à toa. É um personagem fascinante, sexy, invocada...
Nos dois livros seguintes, ela é dona da história. Tudo começa e termina com ela, a rainha do castelo de ar.
Bom, cabe o epíteto de rainha a uma pessoa que tem dois bilhões de moedas (qualquer que seja) em sua conta.
Depois que ela dá um golpe, dorme pobre e acorda rica, as coisas mudam.
Se ela já podia fazer muito estrago sendo apenas uma hacker (muito) habilidosa, imagina depois dos bilhões.
Mas autor é um negócio sério. Ele entende que quanto mais obstáculo o herói tem para transpor, melhor a trama. E maior o mérito do seu heroísmo.
Então mesmo com toda a fortuna que conseguiu, as coisas não são nada fáceis para a moça.
Está aí a graça do livro, que é mostrar como alguém em uma situação tão adversa consegue dar a volta.
Como o livro segue a tradição mais açucarada das histórias de heroísmo, tudo vai acabar bem para os personagens que interessam.
O engraçado é que quando tudo acaba e aparece o final (feliz), é bom que tenha sido assim.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Young

É engraçado.
Citei diversos livros que queria ler e no entanto comecei a ler um que não tinha entrado na história.
Ainda não terminei "A rainha do castelo de ar", mas faltam poucas páginas. Nisso passei a mão na Fernanda Young.
Eu sei que a autora é controversa, eu já me irritei com ela várias vezes.
O problema é que ela escreve bem, pelo menos eu gosto do que ela escreve a ponto de comprar o livro.
Foi assim com "Vergonha dos pés" e foi assim com "Tudo o que você não soube", o livro que traz um martelo na capa.
Peguei assim por curiosidade, um pouco de saudade e tal, quando vi já tinha passado quase vinte páginas.
Por que parar? Segui em frente.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

De onde menos se espera, vem um estalo.
Ontem aconteceu isso, uma faísca que me fez ter idéias sobre a minha vida.
Talvez explique isso melhor depois.

(Eu disse talvez.)

Livros

Faltam cento e poucas páginas de "A rainha do castelo de ar", que estou lendo, terceiro volume da série Millennium, do autor sueco Stieg Larsson. É quase nada, considerando que cada um dos livros tem uma média de 600 páginas. Quem conhece a série, sabe que a leitura dessas obras é veloz.

Por isso já estou pensando no próximo livro. Tem alguns que quero ler, e um deles é "A ponte – vida e ascensão de Barack Obama", a biografia do presidente americano, escrita pelo jornalisa David Remnick. Recentemente foi lançado "O que sei de Lula", de outro jornalista, o José Nêumanne Pinto, que também me despertou interesse.

É bom falar dos livros que queremos ler.

Por exemplo, quero ler muito "Carmen", de Ruy Castro, sobre Carmen Miranda. Ruy Castro é ótimo e seu livro de Nelson Rodrigues, "Anjo pornográfico", é muito bom.

Ainda não consegui pegar para ler a série sobre os anos de chumbo do escritor e jornalista Elio Gaspari: A Ditadura Envergonhada, A Ditadura Escancarada, A Ditadura Derrotada e A Ditadura Encurralada.

De Fernando Morais, li muita coisa, incluindo os bastante conhecidos "Chatô", "Olga" e "O mago". Mas quero muito ler seu livro inaugural, "A ilha", sobre Cuba.

Há muitos livros na fila e sempre aparecem outros. Mas não será de espantar se pegar para ler "Os sertões", de Euclides da Cunha, livro que comecei a ler em Alagoinhas, li os capítulos "A terra" e "O homem", adorei o texto, mas não sei porque não fui até o fim. E justamente no fim é que está o capítulo que trata da guerra de Canudos. Eu sou uma anta, eu sei.

Por falar em inacabados, estou devendo ler direito "Grande sertão: veredas", a conhecida obra de Guimarães Rosa.

Também não seria nada mal ler um estrangeiro, um livro bacana de ficção, principalmente se for gente de boa como Gabriel García Márquez.

Philip Roth também não faria mal nenhum.

Mas saudade mesmo (sempre) estou de Machado de Assis, que não canso de ler e reler.

sábado, 20 de agosto de 2011

Novela

Não posso ver sempre novela, nem tenho tanto saco como já tive.
Mas sou um apreciador de boas tramas na TV, ainda mais quando tecidas pelos autores que mais admiro. E Gilberto Braga é um deles.
Não acho que essa novela do Gilberto Braga faz jus ao que costumo esperar dele.
Mas novela é um negócio complicado, não dá pra ter a exigência que se tem de um filme ou uma série, quando a equipe tem um controle maior.
Novela vai mudando ao sabor da audiência, começa de um jeito e vai se transformando com o caminho.
Por pior que seja, uma novela de gente como Gilberto Braga tem um certo padrão de qualidade, uma certa coerência, que faz a gente seguir adiante.
Hoje, o que mais me irrita nas novelas é que todas precisam trazer algumas bandeiras, mostrar exemplos, colaborar com um mundo melhor, atacar preconceitos e denunciar coisas.
Pior que essas obras serem obrigadas a levantar bandeiras é a forma como tudo é feito. Tão pouco sutil como o cada vez mais presente merchandising.
Final de novela costuma ser um troço brochante: os maus são mortos, vão presos, enlouquecem ou ficam sozinhos. Sempre recebem o merecido castigo.
Os bons se casam, são acolhidos, caminham serenos para o happy end.
Tudo muito bem, mas falso, falso.
Não que ao longo dessas tramas a verossimilhança prevaleça. Às vezes o autor vacila, escorrega, cria um artifício que só depõe contra a história (a trajetória da personagem de Glória Pires é um exemplo).
Mesmo com algumas coisas irritantes, há os bônus.
O Leonardo do Gabriel Braga Nunes, principalmente quando esteve solto e aprontando, foi um show.
O banqueiro bandido do Herson Capri poderia ter muito mais cenas, o personagem é forte e o ator mandou muito bem.
O vilão do Thiago Martins foi um achado, ele não um ator iniciante. Já vem de uma trajetória interessante na TV e cinema.
Natália Timberg, grande atriz, nos momentos de maior exigência dramática, botava fácil os colegas de cena no bolso.
Houve alguns atores mais experientes que tiveram participação irregular, embora o talento compense os momentos mais ruins dos seus personagens. Foi o caso de gente como Lázaro Ramos e Camila Pitanga.
Alguns rostos menos conhecidos mostraram um trabalho bem interessante: Giovanna Lancellotti, e sua Cecília, Tainá Müller, e sua Paula, Bruna Linzmeyer, como Leila.
Nessa novela, houve um grupo de atores que apareciam em papéis pequenos e sumiam para nunca mais, em geral assassinados. Desses, a melhor participação foi de José Wilker no início, tão bom quanto seus melhores papéis na TV (e faz tempo que ele não é tão bom assim).
Outros atores em participações mandaram muito bem: Tuca Andrada, Nívea Maria, Milton Gonçalves, Cristiana Oliveira e Lavínia Vlasak são exemplos.
Recursos como o "quem matou", não acho que a novela precisasse disso. Quase sempre aparece mais como artifício para segurar ou atrair audiência. Há muito tempo deixou de ser algo instigante, é apenas repetitivo e aborrecido.
Não dá para falar dos personagens mais chatinhos, isso tinha muito (como os personagens da Maria Clara Gueiros e Ricardo Tozzi).
O bacana na trama do Gilberto é que ele tem muita coisa para contar e a velocidade dos acontecimentos é grande, tornando as tramas ágeis.
Política sempre entra na pauta do dia e a classe A tem sempre um papel importante, mesmo que a abordagem aos ricos seja crítica.
Tem que pensar essa novela quase como um conjunto de histórias separadas que tiveram um grupo de personagens comuns.
Às vezes esses núcleos se comunicavam com a trama principal, mas nem sempre.
E as tramas são tão pulverizadas hoje em dia, que falar de uma trama central nem mesmo é correto.
As tramas paralelas às vezes ganham maior dimensão que a principal, é um jogo, em que a audiência é sempre levada em conta.

E, sim, a Paola Oliveira mostrou que estava à altura de um papel principal. Talento e beleza de diva de cinema.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"Não durmo, nem espero dormir./Nem na morte espero dormir."
Sempre lembro desses versos do incrível poema "Insônia", de Fernando Pessoa.
Lembro quando fico insone ou quando tenho sonhos estranhos e acordo esquisito. Duas coisas que me acontecem com frequência.
E foi o que aconteceu ontem: noite agitada, sonho confuso em que apereceu um personagem de temperamento delicado que não vejo há mais de dez anos - a minha primeira chefe.
Minha filha pequena fez mil recomendações ontem que precisava chegar na escola cedo para ensaiar.
Ela participa hoje de uma maratona de dança e só falava nisso.
Acordei em cima do horário e tive que correr para não ficar mal com a pequena.
Tudo culpa do sonho esquisito. E do despertador que não fez sua parte.
Tem uma frase que algumas pessoas gostam de usar quando alguém se queixa de cansaço: "quando morrer, descansa".
Mas eu tenho a sensação que me transmite o poema de Pessoa - "Nem na morte espero dormir".

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Super 8

Cara, eu gostei de "Super 8", mas achei que ia gostar muito mais.
Desconfio que o fato de J.J. Abrams, o diretor, ter seguido de perto os passos de Spielberg, com homenagem explícita, explica um pouco a minha (quase) decepção.
Não chegou a ser uma decepção.
O filme é bom, aquela relação entre o garoto (Joel Courtney) e a menina loirinha (Elle Fanning), achei graciosa - e confesso que torci pelos dois.
Dá para falar de muita coisa legal no filme, um ar de sessão antiga, nostálgica, clima produzido de propósito com a história ambientada nos anos 70.
A homenagem ao cinema é bonita e bem feita, com uma equipe de pequenos fissurados em filmes e histórias de zumbis.
O filme é bem movimentado, e acho que ajudou ao clima o ET não aparecer logo, deixando um ambiente de mistério e suspense por mais tempo.
O elenco é bom, são vários núcleos que se comunicam, tudo feito para dar força a trama principal e para dar espaço para a turma de crianças que são os verdadeiros heróis.
Mesmo com tantas coisas bacanas, eu esperava mais.
Não gosto tanto do sentimentalismo nem do enfoque muito família, não do jeito que está ali, meio que forçando a uma redenção de todos os personagens no final.
Não gosto muito que seja tão edificante, quase com uma mensagem de amor e compreensão ao próximo e aos diferentes (no caso, o diferente é um bicho de outra galáxia).
Pelo menos não como solução artificial.
Acho que sou um pouco mais cínico com as coisas.
Nunca gostei tanto de Spielberg para falar a verdade. Sempre tive esse sentimento com filmes dele, um sentimento de que era legal mas meio chatinho.
Não sei explicar bem.
Spielberg nunca foi um dos meus diretores favoritos.
Gosto dos filmes de Indiana Jones por causa do humor do personagem e temos que ver a contribuição do carisma e talento de Harrison Ford que também ajudam.
"Super 8" é um filme bonito e vale a pena pelas homenagens que faz, pela beleza que é ver atuando o casalzinho (tanto a menina quanto o menino são muito bons), pelo encadeamento crescente, a tensão o tempo todo.
Os garotos do elenco estão ótimos e engraçados.
O filme é bom, vai...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Fringe

Devo ser besta mesmo. Gosto de séries e uma que sempre me despertou um sentimento ambíguo foi "Fringe", que tem a assinatura do J.J. Abrams. Depois de "Alias", que é uma série de que gosto muito (mesmo sendo pueril, quase boba, ou talvez por isso), topo tudo que está ligado ao J.J., mesmo com toda a decepção com o final (ridículo) de "Lost" (porque afinal foi uma série marcante e teve momentos incríveis). Por fim, veio "Fringe", que começa estranha, porém promissora e melhora assim que introduz o conceito de mundo paralelo (sem falar na estréia da belezura da Anna Torv como protagonista).

Mas eu nunca gostei de tudo na série. Tinha até meio que desistido de acompanhar apesar de um fim de segunda temporada muito bom, revigorante.

Pois então... depois de ler tantos comentários elogiosos à essa terceira temporada (inclusive de minha amiga Juju), fui à luta. Confesso que gostei basante do outro nível que a série alcançou nesta third season, amarrando mais as histórias e alternando-as com o mundo paralelo, onde há duplos de todos os personagens, com diferenção e característcas próprias.

Tudo parecia bem e pequenas falhas ou incoerências estavam automaticamente perdoadas pelo alto nível do conjunto e pelo que prometia. Estava tudo se encaminhando bem até o último episódio. Mas o season finale é um lixo. Não engoli aquela rasteira que os produtores e roteiristas deram na audiência.

Pô, o episódio é escroto e desonesto. Como assim o mocinho vai parar no futuro e a série fica por lá infinitos minutos contando uma possível história que não existia e não interessa a ninguém? Pior: que nada tem com o final angustiante e cheio de pontas do episódio anterior. E então, faltando alguns minutinhos para o final, a série retorna ao ponto que parou no episódio anterior para deixar o final em aberto para a próxima temporada. E ainda vem com essa esquisitisse de que Peter nunca existiu. Hein?! Isso tem nome: trapaça, vigarice.

Uma série que vinha num crescente tão bom nessa temporada não merecia isso. A audiência cativa merecia menos ainda (eu, pelo menos, não merecia essa troça). Sei que muita gente gostou e viajou na incoerência desse final. "Nossa, que lindo, como eles viajam! Como são doidos! Como mudam tudo assim sem quê nem pra quê". Não tenho paciência. Agora é definitivo: "Fringe" morreu para mim.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sopinha

Sei que não se deve pesar a mão nas refeições da noite. Sei, mas não uso. Porque gosto de comer à beça, e jantar é um prazer do qual não abria mão. Meu chefe me disse outro dia que estava chegando em casa e, sem conseguir resistir, mandava ver na janta (feijão, carne, macarrão etc.) para se sentir culpado logo em seguida. Acho que essa fase dele passou. Almoçamos outro dia e ele me pareceu o cara da alimentação saudável por excelência. Até entrei na onda e consegui me sentir satisfeito com um cardápio de caldo, muuuita salada (folhas principalmente) e proteína em dose bem contida (queijo branco e frango).

Porém, a minha vida não é de refeições exemplares. Tem de tudo, o que inclui meus momentos de excesso e entrega aos desejos. Gosto de todos os pratos, os saudáveis e os proibidos. Não existe essa de prato proibido pra mim. Qualquer refeição feita com honestidade está valendo. Até Rabada e Mininico de Carneiro (saudade de Alagoinhas...).

Vou continuar minha vida dedicada aos prazeres, mas à noite começo a substituir o peso de uma feijoada completa, bife ou macarronada pela inocente sopinha de legumes. É meu sono que exige a mudança. Ontem fiz isso e já notei a diferença. Catei uma receita bacana e rápida. Fiz algumas modificações e o resultado é que no meu experimento entrou arroz integral, cenoura, chuchu, batata, tomate e vagem. Também azeite de oliva, sal, pimenta, vinagre e uma pitada de açúcar. Foi bacana porque fiz umas improvisações como saltear os legumes antes de adicionar à receita (água em fervura, fogo médio, onde o arroz já estava há dez minutos). O tomate picado é o último ingrediente a entrar. Outra adapação foi que cozinhei a batata, e usando um pouco da própria água da fervura, fiz um caldo no liquidificador para dar uma engrossada na sopa. Se não pesar mão na batata, fica uma consistência ótima. Não sou o maior fã das sopas aguadas.

Não entra nada de fritura, nada de tempero em excesso ou caldo pronto industrializado. Praticamente o gosto é o dos legumes com o cuidado de só acrescentar o azeite no final. Delícia de sopinha. Mais uma para minha coleção.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Capitão

Gostei. O filme do "Capitão América" é divertido, bem feitinho, tem um herói que na primeira parte, ainda magricela e baixinho, já é cativante, tem uma mocinha linda e pavio curto e o longa tem humor, o que é sagrado para qualquer filme desses. Um filme do cinemão, que é divertido do começo ao fim, sem abusar da paciência ou da inteligência alheia, é sempre um feito louvável. Como bom ex-leitor de todas essas revistas em quadrinho na infância, vou ao cinema ver os filmes. Desses da Marvel que preparam terreno para "Os vingadores", esse foi o que mais me entusiasmou. O pior deles foi o "Hulk" [o que eu lamento, porque Edward Norton e Tim Roth são dois caras de quem eu gosto muito].

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Seven

Bom filme esse "Seven - Os sete pecados capitais", de David Fincher, que assisti pela segunda vez.
Gosto desse Fincher, de "Clube da Luta", "Rede Social" e "Quarto do Pânico".
Não gosto de "Zodíaco" ou "O curioso caso de Benjamin Button".
A história de "Seven" é tradicional, uma trama policial num grau de refinamento não tão comuns ao gênero. A trilha é matadora, como o clima noir, como a sensação de suspense do começo ao fim...
Há os clichês - não se pode viver sem eles - como o do policial velho em conflito com o parceiro mais jovem. Ou o policial negro e o branco. Ou o policial sério, profissional, e o outro impulsivo e rebelde.
O cinema tem muitos desses exemplos. Mas há o uso do cliclê que não atrapalha a fluência do trabalho. Acho que esse é o caso aqui.
É também um filme de serial killer, uma tradição bastante explorada.
Nesse aspecto, Fincher faz a diferença em relação a diretores menos criativos ou mais comerciais.
Ele sabe surpreender com qualidade e com conteúdo.
Não precisa usar truques - ok, ele usa, mas não usa truque barato, pelo menos.
A reviravolta no terço final do filme, com o assassino se entregando, é uma grande jogada e prepara para aquele clímax barra pesada. Impressiona mesmo quem já conhece o desfecho como eu.
E o Kevin Spacey? My God, como alguns atores podem ser tão bons (alguns já foram e o tempo não volta mais, uma pena). Spacey aparece num pedaço do filme, mais é crucial para tudo que está acontecendo.
E tem aquele olhar, aquele semblante mínimo, o jeito contido de interpretar...

*

Vi ainda o "Caça às Bruxas", de Dominic Sena, com Nicolas Cage.
É uma mistura de filme de aventura com terror e ação.
O tipo de filme que mistura gêneros e não se decide por coisa nenhuma.
Nicolas Cage é um ator corajoso, ele se mete nos mais diferentes projetos, seja comercial ou alternativo.
Nem sempre temos a felicidade de ver um "Despedida em Las Vegas" ou algo como o recente (e divertido) "Kick-Ass - Quebrando tudo".
A maioria são filmes descartáveis como esse "Caça às Bruxas".

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Filmes

Preguiça é um negócio maravilhoso que Deus inventou.
Não tem nada melhor.
Vi um monte de filme nessas férias que não anotei aqui.
Alguns gostei mais que outros, preocupação zero com atualidade. Fui passando a mão na prateleira da locadora e pegando o que me dava na telha. Um deles vi no cinema, o “Kung Fu Panda II”, ao lado da minha filha.
Mas quero registrar algo sobre esses filmes. Afinal, um dos motivos desse blog existir é para que eu possa anotar as bobagens, digo, impressões profundas, sobre os filmes que vejo.
Para não deixar passar batido, vou citar abaixo os filmes que vi recentemente e não comentei. Ao lado, comentários brevíssimos, com até cinco palavras.

“Kung Fu Panda II”, de Jennifer Yuh: como o anterior, bastante divertido.
“Doce vingança”, de Steven R. Monroe: gosto da fotografia. Só.
“O dia em que a terra parou”, de Scott Derrickson: outro desses remakes desnecessários.
“Anjos da Noite - A rebelião”, de Patrick Tatopoulos: Rhona Mitra foi boa escolha.
“Terror na Antártida”, de Dominic Sena: Kate Bekinsale continua deslumbrante.
“Trabalho interno”, de Charles Ferguson: documentário interessante e didático.
“Uma noite fora de série”, de Shawn Levy: não é original nem engraçado.
“Desconhecido”, de Jaume Collet-Serra: de médio para ruim.
"A profecia", de John Moore: não assusta, muito ruim.
"Contatos de quarto grau", de Olatunde Osunsanmi: convincente em sua enganação.
“Vips”, de Toniko Melo: vale pelo Wagner Moura.
“Dupla implacável”, de Pierre Morel: fiasco, apesar de John Travolta.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Nabokov

"Não será o sofrimento a única coisa no mundo que as pessoas realmente possuem?"

Desde as primeiras linhas, o romance "Pnin" mostra que seu personagem-título é diferenciado. Ele, um professor de russo, viaja de trem para dar uma palestra a convite de uma universidade. Todo o primeiro capítulo se ocupa desse percurso a ponto de eu ter imaginado que todo o romance se daria até a chegada de Pnin ao seu destino. Não é o que acontece. Veremos a seguir outras situações envolvendo o professor, sua atividade profissional e sua quase nenhuma vida familiar. O que me chamou a atenção no início foi o fato de autor dedicar um capítulo inteiro a uma viagem, em que somos apresentados ao personagem. Não deixa de ser uma maneira inusitada de apresentar um personagem inusitado. Pnin é solitário, sobrevive a um casamento malfadado, não tem o respeito dos seus pares, não se destaca especialmente por nada, e não é o tipo que atrai as mulheres. Ele desenvolve uma maneira única de conviver consigo mesmo e com o mundo. As dificuldades do personagem no âmbito social são notáveis. Nabokov, autor de "Lolita", cria um personagem que lembra muito sua própria trajetória: assim como seu criador, Pnin é imigrante, vindo da Rússia e estabelecido na América. Importante lembrar que o cenário do romance é o do pós segunda guerra, em que não eram simpáticas as relações entre União Soviética e EUA. O texto não aborda essa questão diretamente, mas dá a entender um ambiente não exatamente receptivo ao professor russo e outros conterrâneos. Todas as qualidades que me chamaram a atenção na prosa de Nabokov em "Lolita" estão aqui em "Pnin": um cinismo evidente, um desconforto com as coisas do American Way of Life, grande erudição (recorrente citação de autores e obras) e humor, que é fundamental na vida e na arte.

*

Depois da pausa com Nabokov e seu interessante universo, volto à leitura descontraída da Trilogia Millenium. E já comecei o último livro, "A rainha do castelo de ar".

Domésticas - O filme

Gosto muito de "Domésticas - O filme", um dos primeiros longas de Fernando Meirelles, parceria com Nando Olival.
O estilo é o do falso documentário, que se popularizou atualmente mas nao era tão difundido no ano de estréia do filme, em 2001.
As situações apresentadas rendem muito bem na tela.
Por um lado são situações que mostram o dia a dia dessas profissionais pouco exploradas pelo cinema.
Por outro lado, acompanhamos micro histórias de algumas dessas domésticas.
A junção das histórias com os depoimentos aparentemente independentes dão um charme ao filme e dinamismo ao conjunto.
O trabalho conta com uma trilha sonora bem saborosa de autores de música brega e outros temas populares e/ou da periferia, o rap incluído.
A montagem e os efeitos são usados do início ao fim, mas não aborrecem, a dupla de diretores sabem usar a parcimônia e o conjunto é bem harmonioso.
Há muitas coisas legais em "Domésticas" e uma dessas coisas é o seu elenco de ótimas atrizes.

72 horas

Fiquei indeciso quando vi "72 horas", do Paul Haggis, na locadora.
Não sou o maior fã de Russell Crowe, astro do filme, mas reconheço o grande ator que é - e principalmente o grande trabalho que pode produzir quando bem dirigido.
Esse é aquele tipo de filme de suspense em que se vai montando as peças de um quebra-cabeças e da metade para o final tudo que apareceu em cena antes será aproveitado.
Crowe é professor e pai de família dedicado, um bom rapaz. Sua esposa é interpretada pela atriz Elizabeth Banks. O casal tem um filho pequeno.
A vida familiar vai virar de ponta cabeça quando a esposa é presa, acusada de ter assassinado a chefe.
Todas as provas levam a crer que foi mesmo ela quem cometeu o crime.
O marido não acredita e passa três anos tentando de tudo para provar a inocência dela até que são esgotadas as possibilidades jurídicas e a mulher será condenada a 20 anos de cadeia.
Ele então dá uma virada e decide executar um plano para tirá-la da prisão.
O problema é que ele não tem a menor experiência nesse tipo de coisa.
Está aí a trama, que é apresentada de maneira satisfatória apesar das licenças poéticas. Porque há uma infinidade de variáveis que precisam ser contornadas para que o plano dê certo.
Paul Haggis, diretor e roteirista do longa, se mostra eficaz para conduzir a trama e manter o suspense até os momentos finais.

sábado, 23 de julho de 2011

A vida durante a guerra

Muito bom o filme "A vida durante a guerra", do Todd Solondz.
Uma espécie de continuação do ótimo (e ácido) "Felicidade", de 1998, mas que não precisa deste para ser entendido.
É bom ver um filme que respeita os momentos de silêncio, valoriza os diálogos, rejeita a montagem de video clip e usa os enquadramentos sem pressa.
Os atores são muito bons para dar vida a personagens complexos, todos eles infelizes, tentando superar coisas terríveis e vidas desajustadas.
A América de Solondz não é um sonho de país, longe disso.
Essa visão crítica está em todo o longa (e também nos filmes anteriores do diretor).

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Desenrola

"Desenrola", de Rosane Svartman, é um bom filme brasileiro sobre jovens. É um trabalho muito gracioso que, sinceramente, não precisava da presença de atores tão conhecidos (diversos globais em pontas e participações) para atrair bilheteria quando os garotos desconhecidos dão show de bola. A menina Olívia Torres, que faz a Priscila, está perfeita como a garota que busca ansiosamente ter a sua primeira vez para tentar fisgar o menino popular que tem o defeito de não estar na dela e "pegar" todas. As situações são bem apropriadas, discutindo temas delicados para essa faixa etária de uma forma que não espanta a garotada e ajuda a criar identidade. Confesso que até um terço do filme, estive bem desconfiado. Mas aos poucos fui me deixando seduzir, especialmente quando entra em cena o Boca, menino gordinho interpretado pelo jovem Lucas Salles, que quer conquistar a Priscila. Um bom filme.

Extermínio I e II

Não sou o maior fã de filmes de zumbis, mas gosto de terror em geral. Quando me recomendam, assisto qualquer filme. Foi o caso do primeiro "Extermínio", dirigido por Danny Boyle. Não gostei tanto. É mais uma ficção sobre a natureza das pessoas em situações limite, como reagem etc.

Cillian Murphy é o personagem que acompanhamos do começo ao fim. Após acidente, ele acorda de um coma em um hospital vazio. Sai pelas ruas e não entende porque não há ninguém nas ruas e carros e imóveis estão abandonados. Até que chega numa igreja onde encontra algumas pessoas, com comportamento muito estranho, e não demora em perceber que estão infectadas. Sobrevive graças a ajuda de outros dois sobreviventes de uma epidemia que se espalhou por Londres.

Nesse primeiro filme há mais clima e menos zumbis em ação. Há longos trechos sem zumbis, embora o filme não nos faça esquecer que a ameaça é real. Diria que há mais suspense que ação. Do jeito como é, o filme é mais sobre relações humanas em momentos difícieis, sobre como a moral se transforma e se reinventa em favor das necessidades mais brutas.

No segundo, "Extermínio II", a direção muda de mãos, quem assume é Juan Carlos Fresnadillo. Em lugar de um suspense quase político, temos um filme de ação propriamente. Os zumbis tem espaço bem maior e a quantidade de sangue se multiplica. O drama científico e militar passa a ser o eixo e o drama é conduzido por uma família onde pode estar a cura para a infecção.

Esse segundo, cujo título original é "28 weeks later" (contra "28 days later", do primeiro), fala dos acontecimentos 28 semanas depois dos episódios do primeiro filme. Nessa trama, dois jovens, filhos de uma vítima da epidemia, podem ter no sangue gens imunes à infecção, abrindo uma janela para a possibilidade de cura.

O pai deles é sobrevivente da primeira epidemia e vive na inglaterra numa zona ultra protegida, controlada pelo exército americano. Ele vive com a culpa de, por medo, ter deixado a esposa morrer nas mãos de infectados.

Há outros personagens importantes: a médica militar, a minha querida Rose Byrne, que vai proteger os garotos que podem ter a cura para a infecção. Há o soldado interpretado por Jeremy Renner, que fez Guerra ao Terror, que se une ao grupo e tenta ajudar no resgate dos garotos.

Gosto mais desse segundo "Extermínio". Menos sutil, mais direto e eficiente no seu desenrolar. Dá um espaço maior ao terror, sem aqueles sustos habituais do gênero. O Harold Perrineau, ator de Lost e Matrix, também integra o elenco e protagoniza uma cena com o helicóptero realmente impressionante e sanguinolenta.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O assassino em mim

Fiquei mais incomodado que propriamente satisfeito com o filme "O assassino em mim", direção de Michael Winterbottom.
Gosto desse cinema meu bruto, que se vai apresentando em camadas e traz um grupo de personagens interessantes.
É um filme violento, propositadamente agressivo ao espectador.
Estamos acostumados a ver muitos filmes violentos, isso não é novidade.
Mas há filmes em que há cumplicidade do espectador com essa violência.
Quando ela aparece, entendemos e quase justificamos sua presença como parte da mise-en-scéne.
Nesse caso de "O assassino em mim" é preciso ter algo de muito sádico para não se incomodar com a violência apresentada.
Os momentos mais fortes se resumem a duas cenas, bem filmadas e interpretadas, nos dois casos violência contra mulheres indefesas e feita de forma inesperada (para o personagem e para nós, espectadores).
Reconheço a atuação de Casey Affleck. Ele está muito bem. Como de resto, o elenco é bom (Jessica Alba surpreende pelo papel, ela é uma prostituta que se mostra em cena de forma corajosa. Igualmente a Kate Hudson, num bom papel).
No fim, me senti desconfortável. É um bom filme, melhor na primeira metade que na conclusão.
Mas é o tipo de filme que não sei se veria uma segunda vez.

Um lugar qualquer

Não entendo quando alguns críticos acusam um diretor de se repetir.
Melhor, entendo como má vontade com determinados autores.
É óbvio que o autor vai se repetir, é naquele universo que ele transita, são aquelas as suas preocupações, é naquele conjunto de referências que está a sua identidade.
Há então aspectos que estarão em todos os filmes daquele autor, não há como ser diferente.
Alguém diria que a obra é o conjunto total de trabalhos, cada filme ajuda a compor uma obra.
Sendo assim, é muito coerente e muito identificável o novo filme de Sofia Coppola, "Um lugar qualquer", que vi com muito prazer esta tarde.
Todos os filmes dela são realmente parecidos, todos são situações específicas numa vida mais ou menos comum, são recortes delimitados.
Há uma simplicidade, é quase a vida correndo sem intervenção: o ator em seu quarto de hotel, pede sorvete para tomar com a filha, faz um macarrão meio sem jeito, toma banho, anda de carro em longas passagens.
Esses momentos juntos, a forma como são filmados e aparecem para nós, dizem alguma coisa que pode ser entendido como a demonstração de um vazio da existência, o tédio das relações, a falta de sentido em viver e trabalhar num mundo superficial.
Pode ser tudo isso como pode ser a preparação do personagem (e do espectador) para alguma coisa especial que está sendo perdida e pode ser recuperada.
O personagem é dado a perceber que pode obter mais da sua própria vida, que pode mudar de alguma forma.
E esse gatilho está ali próximo: o fato de a filha passar uns dias com o pai desperta nele a vontade de sair do entorpecimento a que sua vida chegou, e querer mudar.
Os personagens de Sofia parecem sempre desconfortáveis no mundo.
Ela sabe manejar bem esses sentimentos, e seus filmes transmitem de alguma forma uma sensibilidade, mesmo quando trata de temas tristes: solidão, relações curtas, hipocrisia, bajulação.
Aspectos que aparecem neste filme e mostram um lado menos atraente da indústria do cinema e entretenimento (indústria que Sofia conhece bem como filha de celebridade e depois ela mesma uma celebridade).
A pequena Cléo, a garota do filme que passa uns dias com o pai, é de alguma forma a pequena Sofia. O filme traz esse alter-ego, que está também em certa medida no personagem do pai.
Gosto cada vez mais de Sofia Coppola. Não me importo nem um pouco que seus filmes orbitem em torno dos mesmos temas.
Não é assim também com todos os grandes artistas?

domingo, 17 de julho de 2011

Tabasco!

Hoje foi um dia feliz. Estive no mercado comprando umas coisas para o almoço. Precisava de uma pimenta, um molho de pimenta pronto, e me bati com essa pimentinha da qual eu já tinha ouvido falar mas nunca tinha experimentado. Caramba, é deliciosa. É seis ou sete vezes mais cara que as garrafas similares (e ainda é bem menor que as garrafas comuns), mas, putz, como vale a pena! Depois do almoço, confabulei alguma coisa para aproveitar esse molho na janta. Claro, fiz uma sopinha que ficou muito bem com as gotinhas do pepper sauce. Até minha filha que não come nem gosta de pimenta, elogiou (ela experimentou uma gotinha de nada, disse que era gostosa mas ardia e preferia não repetir a dose). Eu me refestelei como costumo fazer. Um dia realmente feliz.

O grande ditador

Minha filhinha de nove anos se divertiu muito vendo "O grande ditador", clássico de Charles Chaplin, um dos meus ídolos no cinema. Engraçado como um filme sobre um contexto histórico específico, lançado em 1940, possa dialogar com uma criança. Prova da universalidade - e atualidade - do filme de um diretor incrível. A história é simples, embora trate de assunto espinhoso. Com nomes trocados, Chaplin aborda a perseguição aos judeus pelo fürer, um ditador que sonha ser o imperador do mundo conhecido. É uma sátira política ao período terrível de ascensão do fascismo europeu (sem nenhuma sutileza em sua referência à alemanha nazista e ao tirano Adolf Hitler). O filme traz todo o característico humor físico do personagem Carlitos, que aqui aparece numa das raras ocasiões com fala (Chaplin é da escola do cinema mudo e resistiu ao cinema falado). Foi um prazer rever o cinema de Chaplin. Continuo tendo como preferidos os longas "Luzes da Cidade" e "Em busca do ouro", mas "O grande ditador" é um filme tão lindo quanto outros do diretor inglês. E o famoso discurso do final é mesmo contundente sem deixar de ser terno.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Filmes

Estou de férias e bem na preguiça de escrever, mas vamos lá.

Três filmes esses dias, o melhor deles foi uma produção de M. Night Shyamalan chamada "Demônio". Não vi ninguém dar muita bola para esse filme, mas gostei da história curta, quase um conto, sobre como o demônio age quando resolve reunir e levar embora almas que estão comprometidas por atos ruins que praticaram. Não gosto de o filme ser extremamente explicadinho, mas o clima e as interpretações são interessantes. A direção também trabalha bastante bem para manter o interesse numa trama que se passa a maior parte do tempo dentro de um elevador.

Em seguida, vi "A era da inôcência" de Daniel Arcand, mesmo diretor de "Invasões Bárbaras". Gosto da história do funcionário público que, para suportar uma vida infeliz, se refugia em fantasia. Seu casamento é ruim, sua mulher mal fala com ele, as filhas tão pouco, o emprego não o interessa. Ele leva as coisas até o momento em que chuta o balde. Menos legal que os dois filmes mais conhecidos de Arcand (o outro é "O Declínio do Império Americano"), mas ainda assim interessante.

Por fim, vi mas não me entusiasmou nem um pouco o filme "Bruna Surfistinha". Alguns críticos elogiaram, a maioria falando que esperava coisa pior. Tirando um momento ou outro, nem a bonita nudez de Débora Seco salvam o filme. Aliás, nudez nunca salvou filme nenhum.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pnin

"...quando a decrépita Mme. Roux (...) subia para recolher o aluguel e o surpreendia sem seu faux col, o escrupuloso Pnin cobria castamente com a mão o botão de cima da camisa. Tudo isso mudara na inebriante atmosfera do Novo Mundo. Hoje, aos cinquenta e dois anos, era apaixonado pelos banhos de sol, usava calças e camisas esportivas e, ao cruzar as pernas, exibia - cuidadosa, deliberada, despudoradamente - uma enorme extensão da pele nua."

O trecho é do livro que estou lendo, "Pnin", escrito por Vladimir Nabokov em 1957, dois anos após "Lolita", sua obra mais conhecida.
Ainda estou nas primeiras páginas, 16 ou 17, pelas quais passei hoje no trajeto de casa para o trabalho.
Pnin é professor, tem um jeito curioso de vestir e demonstra seu estrangeirismo de diversas formas - ele é russo vivendo nos Estados Unidos, um imigrante como o próprio Nabokov.
Nas primeiras linhas, revivi o prazer de estar com a prosa do autor.
A primeira vez que li "Lolita", tudo começou com um curioso passar de olhos sobre as primeiras linhas sem intenção de seguir adiante com a leitura. Mas então, já era tarde e dali não saí mais.
O livro me encerrou sem chance de fuga.
Foi (é) deliciosa a leitura que relembrei imediatamente com "Pnin".
Estou bem porque o livro promete muito.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A menina que...

É fogo, o segundo livro termina em suspense.
O autor, Stieg Larsson, não é bobo, fechou o ciclo, elucidou o mistério que anunciou 600 páginas antes, mas apresentou como final um momento em que estamos absorvidos pelos acontecimentos. E queremos mais, claro.
Como assim? Muitas pontas soltas de propósito para chamar as pessoas para o próximo tomo da trilogia Millennium.
Esse segundo chama-se "A menina que brincava com fogo".
O livro é bem escrito, não há como negar. E traz ainda mais elementos que tornam a leitura cativante.
Uma delas é a personagem Salander, a hacker.
O livro mergulha nela e não faz mal, a personagem é mesmo um dos pontos fortes dos livros.
Não sou dos que sentem culpa por ler livros muito vendidos, os best-sellers.
Se há boa história, bons personagens, bom manejo da narrativa, estou dentro.
Antes de seguir para o terceiro e último livro, tomo um copo de água, respiro um ar. Depois eu volto.
Será divertido, porque minhas férias estão próximas.

Enquanto espero, fui comprar um livro para esse intervalo.
Minha intenção era pegar algo de Philip Roth, mas estaquei quando me vi nas mãos com "Pnin", um livro de Nabokov.
Depois que li "Lolita", pirei. Nabokov é genial.

Roth pode esperar.

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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mulher invisível

"A mulher invisível", série, funciona melhor que "A mulher invisível", filme.
Por isso, acho boa notícia saber que a série terá nova temporada no fim do ano.
Vi o longa do Cláudio Torres, uma comédia romântica original mas pouco interessante do ponto de vista de cinema.
Parecia mais um filme que quer fazer platéia (e cifra), mais que propriamente contar bem uma história.
Seus pontos fortes eram uma atuação engraçada (que pecava pelo exagero) de Selton Melo e a beleza de Luana Piovani (o meu maior incentivo para ver o filme).
Claro que só isso não é suficiente.
Basta dizer que o que há de melhor no filme coube no trailer.
Na televisão, as coisas mudaram para melhor.
A idéia do filme não cabia nas duas horas médias da projeção, sobrando espaço para coisa nenhuma.
Já na tevê, são escritas situações curtas que não conseguem encher o saco dentro dos vinte e poucos minutos de cada capítulo.
Além de um engraçado Selton e de uma deslumbrante Luana, a série ganhou o reforço de uma sempre ótima Débora Falabela, coadjuvantes legais, e até uma vinheta de abertura muito divertida.

Quando o filme saiu, fiz o seguinte comentário:

"Com 'A mulher invisível', tive a impressão de que temos uma boa idéia que rende algumas boas piadas e só (a maioria está no trailer). Selton Melo está bem à vontade com seu personagem solitário e cheio de tiques. Gosto do elenco, Wladimir Britcha é ótimo ator e se empenha. A desconhecida Maria Manoella é legalzinha - embora nada que chame tanto a atenção. Há coadjuvantes de luxo e entre eles Fernanda Torres se destaca. O que me irritou mesmo é que os diálogos são muito meia-boca, a história é mal desenvolvida e a amarração de tudo é ruim. Um problema que Claúdio Torres repete também em 'A mulher do meu amigo', fica no superficial o filme inteiro. Como se cada cena só estivesse ali em função da piada seguinte. O filme diverte em alguns momentos, ok, mas decepciona em quantidade muito maior. Fico pensando o que seria a idéia básica do filme nas mãos de um diretor de verdade (um Jorge Furtado, um Guel Arraes...). Mas nem tudo está perdido, 'A mulher invisível' tem a Luana coberta apenas por um lençol, de lingerie, shortinho, ensaboada..."

domingo, 3 de julho de 2011

Kick-Ass Quebrando tudo

Gostei de "Kick-Ass Quebrando tudo", do diretor Matthew Vaughn, filme paródia com as histórias de herói tão badaladas ultimamente.
A novidade é o despudor em filmar cenas impensáveis na indústria: um dos astros é uma criança (a ótima Chloe Moretz) que empunha armas, bate, apanha e mata sem dó os bandidos.
Claro que é um filme censura 18 anos.
O trabalho é divertido e cínico o tempo inteiro.
A sequência inicial que questiona porque ninguém teve antes a idéia de vestir um uniforme para combater o mal é uma piada maldosa, mas funciona e é corajosa.
É um filme voltado ao público jovem, gente que conhece essas histórias, senão nos quadrinhos, pelo menos os títulos em cinema que não são poucos.
A menininha Chloe Moretz, que vem fazendo papéis desafiadores para sua idade, é uma atração a parte.
Até o Nicolas Cage consegue uma renovação interessante com um personagem propositadamente caricato. E o mais bacana é o desfecho do personagem que confirma a vocação de originalidade da trama.
Não é nada demais, porém em um horizonte nada excepcional, filmes teens como esse, "Scott Pilgrim contra o mundo" e "Zumbilândia", fazem a diferença e mostram que há um caminho que usa bem a inteligência, humor e o deboche a serviço do cinema de entretenimento.

Inverno da alma e outros

Depois que o Maurício Stycer elogiou, eu sabia que não devia ser grande coisa o filme "Inverno da Alma", da diretora novata Debra Granik.
Mas me bati com o trailer e fiquei curioso para ver a atuação da menina Jennifer Lawrence, muito elogiada, e realmente uma boa atriz.
O filme mostra o drama de Ree (Lawrence), uma garota de 17 anos em busca do pai, vivo ou morto, para evitar que perca sua casa.
Como o pai foi solto da prisão sob fiança e colocou a casa como garantia, seu desaparecimento pode fazer com que Ree e família percam o imóvel e sejam "jogados na rua como cães".
Ree é responsável pelos dois irmãos menores e ainda cuida da mãe doente.
O filme é a jornada de Ree em busca do pai.
Nessa jornada, ela vai mexer com interesses poderosos, que envolvem atividade criminosa, comércio de drogas e até envolvimento da polícia com o sumiço do pai.
Nada é muito explicadinho, a direção optou mais por imagens, situações e atos que falam por si.
Não empolguei, nem me senti atraído pelo problema apresentado.
Como atrativo, há duas ou três cenas mais interessantes e umas crianças bem fofas.
Há também uma performance convincente de Lawrence. Apenas.

*

Não comenti aqui, mas me diverti bastante com "Zumbilândia", filme de Ruben Fleischer que mescla com êxito terror e comédia. No elenco, estão bem à vontade Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Abigail Breslin e, para mim até então desconhecida, Emma Stone. A paródia funciona e traz de brinde uma cena engraçada, uma ponta na verdade, com o grande Bill Murray.

É um filme médio, mas gostei de "Trabalho Sujo", com Amy Adams e Emily Blunt, direção de Christine Jeffs. Gosto especialmente de Amy Adams, que só confirma a boa atriz que é a cada trabalho. É daqueles filmes que parecem não ter nada demais, despretenciosos, e por isso mesmo conseguem agradar.

E adorei "Kick-Ass Quebrando tudo", um filme divertido e politicamente incorreto. A esse vou voltar em post mais adiante.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Menina que Brincava com Fogo

Uma passada para um breve comentário sobre "A Menina que Brincava com Fogo", segundo livro da trilogia Millennium, do escritor sueco Stieg Larsson.
Em relação ao primeiro, este segundo tem aquele conforto de não precisar apresentar os personagens principais. É um conforto parcial, porque na verdade aparecem muitos mais personagens nesta outra história que ganham suas longas notas explicativas antes que se movimentem na trama.
Notas essas que me irritaram no primeiro livro (e continuam me irritando), embora reconheça sua utilidade.
O problema aqui é que já conheçemos os mocinhos da história e estamos irremediavelmente cativados por eles.
Não há como não torcer pela esquisitíssima, genial - e sexy - Lisbeth Salander. Uma mulher que transita entre a legalidade e a ilegalidade, guiada por uma moral própria.
Não há como não gostar do certinho, mas imperfeito, repórter investigativo Mikael Blomkvist. Em tudo um antípoda de Salander.
Ambos vivem em mundos diferentes, professam valores diferenciados, entretanto se atraem e atuam contra os homens realmente maus - assassinos, pedófilos, traficantes de mulheres, corruptos, sociopatas.
Ok, é a trama maniqueísta de sempre, atualizada aos nossos tempos, porém escrita com inteligência e charme.
Uma constatação: possui personagens com desenho mais complexo que o comum em histórias de entretenimento.
E como, diabos, não é fácil largar a leitura!