terça-feira, 26 de julho de 2011

Nabokov

"Não será o sofrimento a única coisa no mundo que as pessoas realmente possuem?"

Desde as primeiras linhas, o romance "Pnin" mostra que seu personagem-título é diferenciado. Ele, um professor de russo, viaja de trem para dar uma palestra a convite de uma universidade. Todo o primeiro capítulo se ocupa desse percurso a ponto de eu ter imaginado que todo o romance se daria até a chegada de Pnin ao seu destino. Não é o que acontece. Veremos a seguir outras situações envolvendo o professor, sua atividade profissional e sua quase nenhuma vida familiar. O que me chamou a atenção no início foi o fato de autor dedicar um capítulo inteiro a uma viagem, em que somos apresentados ao personagem. Não deixa de ser uma maneira inusitada de apresentar um personagem inusitado. Pnin é solitário, sobrevive a um casamento malfadado, não tem o respeito dos seus pares, não se destaca especialmente por nada, e não é o tipo que atrai as mulheres. Ele desenvolve uma maneira única de conviver consigo mesmo e com o mundo. As dificuldades do personagem no âmbito social são notáveis. Nabokov, autor de "Lolita", cria um personagem que lembra muito sua própria trajetória: assim como seu criador, Pnin é imigrante, vindo da Rússia e estabelecido na América. Importante lembrar que o cenário do romance é o do pós segunda guerra, em que não eram simpáticas as relações entre União Soviética e EUA. O texto não aborda essa questão diretamente, mas dá a entender um ambiente não exatamente receptivo ao professor russo e outros conterrâneos. Todas as qualidades que me chamaram a atenção na prosa de Nabokov em "Lolita" estão aqui em "Pnin": um cinismo evidente, um desconforto com as coisas do American Way of Life, grande erudição (recorrente citação de autores e obras) e humor, que é fundamental na vida e na arte.

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Depois da pausa com Nabokov e seu interessante universo, volto à leitura descontraída da Trilogia Millenium. E já comecei o último livro, "A rainha do castelo de ar".

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