terça-feira, 26 de abril de 2011

Cantoras

Daí veio um papo sobre essas novas cantoras que surgiram nos últimos anos. Mesmo sem acompanhar vorazmente, conheço alguma coisa de ouvido e gosto de algumas dessas artistas. A melhor cantora que conheci recentemente (e essa palavra deve ser lida em sentido ampliado) é, sem dúvida, Maria Rita. Numa das últimas edições da revista Alfa, li um perfil dela que me fez chegar em casa babando de vontade de rever e reouvir o seu primeiro dvd (gosto dos três discos dela, incluindo o de samba). Minha primeira impressão com ela foi ruim. Eu a achei pedante, dura, até artificial. Aos poucos fui me deixando dominar - "seduzir" é uma palavra melhor. Talvez ela seja mesmo um pouco dura no sentido de irascível ou intratável, pelo menos aparentemente e para os não íntimos, não sei. O que sei é que essa impressão ficou sem importância diante da constatação do seu talento, da qualidade da sua interpretação, do seu trabalho de artista. Falando de outras descobertas, me chamou a atenção também o trabalho de Ana Cañas. Fiquei bem impressionado com seu vídeo em que interpreta "O nosso amor a gente inventa" e daí fui atrás de outras coisas. Ouvindo uma longa entrevista sua em uma rádio baiana, me entreguei. Gosto também, muito, de Céu, a cantora paulista. Vimos, eu e Eloá, alguns shows dela aqui em Salvador. O primeiro disco, é fácil ouvir tocando lá em casa, é muito bom. Por último, citaria a jovem Mallu Magalhães seja cantando em inglês ou em português. Ano passado um amigo me deu algumas coisas dela gravadas em mp3. E desde então sua voz tem sido companheira em alguns pratos que tenho feito na cozinha.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sampa

Tem gente que funciona de um determinado jeito. Eu preciso de pausas para funcionar bem. Admiro gente como Eloá ou os amigos Hederverton e Luciana que tem grande disposição e gostam do pique que tem. Falo isso para dizer que a deliciosa viagem que fizemos pra São Paulo foi maior que o tempo disponível para ela. Só assim para explicar tantas atividades em três dias. Vou demorar para digerir todas as coisas. A cidade de que ouvimos tanto falar, e que ajuda a dar a cara que o país tem, merece ser visitada. Vimos o que foi possível. E são mesmo muitas coisas. Com a cidade vazia do feriado, foi possível ver tudo com mais calma. Mas é um vazio dinâmico, porque há ainda muita gente nas ruas, nas cantinas, nos bares. Fiquei muito satisfeito. Sozinho, teria corrido menos, ido a menos lugares, e provavelmente teria sido mais feliz. Mas o tamanho da felicidade que tive já é suficiente para ter sido um passeio difícil de esquecer depois. Tenho que ficar grato aos amigos que tenho e à minha mulher. E a carinha de felicidade da minha filha (antes, durante e depois) valeu não ter a alma pequena.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Minha filha se esforçou para aprender algumas canções para uma apresentação de fim de ano na escola. Um tempo depois, estimulada com a idéia e numa brincadeira feita com Eloá, ela seguiu o embalo e aprendeu a cantar a longa canção "Sampa", de Caetano Veloso. O estímulo foi a viagem que faremos. É muito bonitinho ver a pequena entoando os versos complicados (para a idade dela) e se sair bem. Ela se esforça para não desafinar nem sair do ritmo. Outro dia quis saber dela quantas músicas ela conhecia que falavam de Salvador, uma cidade rica em canções em seu louvor. Tristeza. A pequena não sabia nenhuma. Tudo bem que a maioria dessas canções que louvam a cidade foram feitas antes mesmo do pai dela nascer, "Na Baixa do Sapateiro", "Saudades da Bahia", "São Salvador". O erro maior é meu, que não estou cumprindo bem meu papel de transmistir conhecimento útil e cultura. Outro dia, ela estava lendo uma versão infantil do livro "Os miseráveis" e perdi um tempo explicando quem era Napoleão Bonaparte. É preciso admitir que as coisas que envolvem Salvador são muito mais importantes que as peripécias do imperador francês, pra ficar num só exemplo. Depois disso, comecei a cantarolar canções sobre a cidade... Aos poucos vou cumprindo minha obrigação.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

São Paulo

Viajo a São Paulo com Eloá e a filha. Estou materializando um projeto de algum tempo. E faço o serviço completo. Vou com Hederverton, amigo, a quem sempre vinculei à cidade. Ele, baiano como eu, foi viver lá há uns bons anos. Discutimos explorar a cidade juntos algumas vezes, por um motivo ou outro não deu certo. Agora vamos. É a terra de Mário de Andrade, um dos primeiros poetas que me despertaram a vida. Sempre gostei muito de Mário. E ele é um cara interessado nas coisas do Brasil, como se sabe. Foi um dos destaques da Semana de Arte Moderna, um desses eventos de tamanho impacto que hoje não seria possível reproduzir. São outros tempos. São Paulo continua sendo o coração industrial do país, conduzindo mais que se deixando conduzir (como diz na bandeira). E atraindo ainda o interesse do país. Abaixo um desses poemas deliciosos de Mário de Andrade:

"Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

('Quando eu morrer quero ficar', Mário de Andrade)"

Rio

Fomos ver a animação de Carlos Saldanha, "Rio". Gostei de ver a cidade nas telas, especialmente porque estive lá há pouco tempo. É um filme divertido, bem feito. Confesso que fiquei um pouco incomodado com a movimentação, o filme já começa agitado, com muito samba, e segue assim até o fim. Pela resposta das crianças no cinema, Saldanha parece ter acertado no ritmo porque a turma parecia adorar os sacolejos - minha filha incluída. Também não gosto muito de todos os filmes atuais defenderem uma bandeira, nesse caso de "Rio" foi posto em questão o tráfico de animais e a necessidade de salvar a arara azul da extinção. Vi também "Enrolados", releitura de Rapunzel, do qual gostei mais. É um filme mais cínico, uma aventura com um pé grande no romance. Bem dentro da tradição da Disney, porém remodelado para os tempos modernos. A princesa é desenvolta e dona de si, sabe se safar. O herói é meio bandido (embora se regenere até o final). A vilã é menos histérica que o normal, mais sutil. Hoje em dia, as animações são caprichadas. Geralmente, o nível é bom. Bem diferente da maioria dos longas de live action. Portanto, indo com um ou outro, o espectador estará bem.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Resenha

Minha esposa, que está com todo o gás no mestrado, me trouxe um texto sobre resenhas. Chama-se “A resenha: definições, tropeços e armadilhas”, de Cláudia Nina. Como fala sobre crítica de livros em suplementos de jornal, ela entendeu que eu ia me interessar. Entendeu certo. É um texto descomplicado, sem grandes pirotecnias (como se espera de uma autora acostumado a escrever para público amplo). Contudo, e para variar, fiquei cá conversando com meus botões da blusa. Por exemplo, Cláudia diz que é preciso ler "bem lido" o livro com que se vai trabalhar. Ok. Por outro lado, cita Roland Barthes para endossar seu argumento de que não precisa ler "palavra por palavra" de todas as obras que chegam à mão, depende da obra. Até concordo. Tem livros cuja leitura a gente acelera em umas partes e se demora mais em outras, pura necessidade de ir até onde o prazer está. Fiz isso e faço de vez em quando - lembro bem de "O Processo" de Kafka, que intercala momentos bem legais com passagens chatonildas. Mas não me entusiasmei muito quando o texto de Cláudia deixa de descrever o trabalho do resenhista e passa às dicas do bem escrever. Por exemplo, o conselho de evitar dar opiniões pessoais, o "eu isso", "eu aquilo". Isso é bem discutível. Alguns dos melhores textos que tenho lido ultimamente (alguns são traduções de texto de língua estrangeira) fazem exatamente isso, o autor se incluir na paisagem que está descrevendo. Parece-me um recurso forte para aproximar o texto do leitor e deixar assuntos, às vezes distantes, bem mais próximos de uma experiência que poderia ser nossa. Entendo que o distanciamento tem sua razão de ser. Porém acho legítimo, e até recomendável, conhecer a contribuição e opinião pessoal de quem escreve. Seguindo em frente, Cláudia dá uma lista do que fazer, do que não fazer. Sei da utilidade desses textos de "auto-ajuda", mas desconfio. Por que devo evitar adjetivos, por exemplo? Sempre leio coisas assim de quem quer me ensinar a escrever. Adoro Graciliano Ramos, que é citado 100 em 100 vezes como o evitador maior dos qualificativos. Mas até ele usa bastante (acredite), a questão é que os usa bem. Isso sim faz toda a diferença. O problema não é o adjetivo ou o verbo, é usar bem as palavras. Abusar de adjetivo (como de álcool ou de buchada de bode), obviamente, é prejuízo sempre. Mas essa campanha cega contra as coisas é uma chatice. Poderia falar mais coisas, mas esse meu texto já está longo. Volto outro dia, talvez.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Amanda

Eu sei que isso é uma estupidez, mas tenho vontade de ver essa nova versão da Chapeuzinho Vermelho apenas pelo impacto que me causa as fotos de divulgação da Amanda Seyfried de capuz. Vi outro dia um filme ruim com ela, "O Preço da Traição". E embora o filme de fato fosse ruim (ok, tem umas coisas legais, no começo o clima de suspense sugere que o filme vai crescer), a beleza da atriz me faz não descartar o longa. Sou um cara fácil de seduzir. Mas sei diferenciar beleza de talento, e sei quando gosto de alguém por um motivo ou por outro. Nesse caso, venceu a beleza. Que também é muito importante em se tratando de cinema.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Columbine

Revi "Tiros em Columbine", do Michael Moore. Depois da tragédia no Rio de Janeiro achei que Eloá iria se interessar. E, de fato, ela gostou do documentário, que tem seu méritos. (Já tinha visto outros filmes de Moore e definitivamente não gosto do seu cinema partidário e que parece torcer a realidade para confirmar uma tese. Claro que muita coisa que ele traz é informação importante e a discussão que provoca, idem. Mas o que é bom parece se perder entre as coisas propositadamente distorcidas. Um exemplo é o desenho dentro do filme que conta um resumo da história americana.) Gostei bem mais da versão de Ridley Scott para Robin Hood, com Russell Crowe e Cate Blanchett. Gostei do viés mais histórico com o conflito entre Inglaterra e França como pano de fundo e motor da trama. De Cate Blanchett gosto sempre.

Bacalhau

Bacalhau, não tem nada melhor no mundo. Eu queria fazer bolinhos fritos, porque da primeira vez que fiz deu muito certo (na verdade, na primeira vez deu tudo errado, mas na segunda vez saiu tudo bem). Estava com vontade, porém três dias seguidos de trabalho em um evento que me tomou boa parte do sábado inviabilizou o projeto. Fiquei o domingo com aquele bacalhau dessalgado me olhando, eu olhando pra ele. Havia desejo, um sentimento recíproco, mas não queria passar pela trabalheira que dá fazer os bolinhos. Fui de quase moqueca. Fiz um refogado com alho, cebola e salsinha no azeite de oliva. Esperei um tempo para completar com dois tomates picados (pedaços grandes para não sumir). Acrescentei o bacalhau em pedaços, temperado apenas com pimenta e limão. Deixei cozinhar, coisa rápida. Antes de desligar o fogo, despejei uma xícara de leite de coco, corrigi o sal e esperei mais uns minutos. De acompanhamento fiz arroz branco e um purê de batatas (as que seriam usadas nos bolinhos). Para mim, purê de batata (ou de abóbora, melhor ainda) precisa ser grosseiro - odeio purê batidinho. Abri um vinho branco, que completou o almoço de domingo. Almoço rápido, delicioso, e que Eloá repetiu na janta com toda a gula possível. Abençoado bacalhau. Quem sabe não volto aos bolinhos no próximo fim de semana?

sábado, 9 de abril de 2011

Dúvida


Não falei aqui, mas gostei muito de "Dúvida", filme com o trio Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams. Direção de John Patrick Shanley, o filme antes foi uma peça de sucesso do próprio Shanley. Sei que muita gente não gostou, fala-se que é teatral demais em alguns momentos. Não sei, não achei isso. Gosto muito de uma história centrada em poucos personagens, com bons momentos de embate e muitas imagens que sugerem coisas. Há, sim, explicações que parecem redundantes - penso especialmente na passagem da mulher que espalha o conteúdo do travesseiro que se perde no vento. Mas o resultado, mesmo neste caso, é adequado a história: o perigo de sujar o nome de uma pessoa sem haver certeza sobre a sua culpa. O filme levanta muitas questões. Pensei, claro, em nosso tempo e em nossa imprensa. O filme começa e termina ao redor da dúvida. Fala de método conservador e liberal para se conduzir uma escola religiosa dentro da igreja. Que passa a ser também uma arena para se discutir medo e liberdade, amor e coação, o leque é tão grande quanto se queira. Se ficamos apenas na história, é um caso bem contado, muito coerente. E o curioso talvez seja o fato de que a dúvida consome todos nós durante a vida. O que faço é certo? Não podemos ter todas as informações antes de agir. A maioria das vezes, agimos no escuro. O no final fica uma dúvida que consome a alma. Aquele choro da freira de Meryl Streep me pareceu bem estranho depois de tudo que ela fez. Mas faz sentido.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

baião de dois

Escrevi este post no domingo. Só agora consigo postar. Faz de conta que ainda é domingo... Hoje tem baião de dois como diz na canção. Tive essa idéia no meio da semana, fiquei feliz de fazer. Estou voltando a me entusiasmar com a cozinha. A crise está passando. Estive desgostoso, mas nunca parei de cozinhar. Sou cozinheiro de fins de semana, feriados e das férias, quando não estou viajando. Isso há uns bons quatro ou cinco anos. Com crise ou sem crise. Sem crise é sempre melhor.

Semana passada fiz com muito prazer uma dessas lasanhas de dois molhos (branco e bolonhesa). Ficou deliciosa com folhas de mangericão. Há umas semanas atrás fiquei muito puto quando errei feio com um purê de banana. No mesmo dia, acertei a mão numa omelete de queijo e em batatas assadas. Mas não sou de comemorar o que dá certo quando no mesmo pacote um acompanhamento foi pro espaço. Me apego no erro. Me deprimo, sofro.

Hoje estou feliz. Hoje tem baião de dois. Importante dizer que precisei mudar alguns ingredientes. Não achei manteiga de garrafa, usei normal. Não achei feijão de corda, usei o fradinho. Tive o auxílio luxuoso da minha pequena e de Eloá. Duas assistentes que ajudaram muito, mesmo quando começaram a criticar a trilha sonora que eu escolhi. No fim, a unanimidade veio com a canção que dá nome ao prato, obra de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. A letra é essa aqui:

"Abdon que moda é essa, deixe a tripa e a cuié
Home não vai na cozinha, que é lugá só de mulhé
Vô juntá feijão de corda, numa panela de arroz
Abdon vai já pra sala, que hoje têm baião de dois

Ai, ai ai, ó baião que bom tu sois
Se o baião é bom sozinho, que dirá baião de dois
Se o baião é bom sozinho, que dirá baião de dois
Ai ai, baião de dois, ai ai, baião de dois"