segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dollhouse

Comecei a ver outro dia e me interessei bastante pelo novo seriado da Fox, "Dollhouse". Havia lido que a série não começava bem e só depois ia melhorando. É verdade. O episódio piloto é tão confuso que o próprio criador da série, Joss Whedon, resolveu refazer tudo. Ao contrário do usual, a série começa de fato no episódio 1. O piloto virou material de curiosidade, embora traga várias cenas que foram reutilizadas depois. Vi o piloto e mais seis episódios. Lembra a série "Alias", sucesso estrelado por Jennifer Garner. Mas "Dollhouse" mistura muitas outras coisas, ficção científica, suspense, ação, investigação policial e aventura. Não é difícil desvendar suas referências em filmes recentes de ação e ficção. Mesmo assim se baseia numa idéia criativa que tem muito o que explorar.

A idéia: uma organização recruta pessoas e apaga suas memórias. Essas pessoas recebem personalidades sob medida para atender à fantasia de clientes endinheirados. Num dia podem ser o(a) namorado(a) apaixonado(a), no outro um(a) fanático(a) religioso(a), no terceiro um(a) negociador(a) de reféns e assim por diante. É como se cada uma dessas pessoas fossem uma folha em branco onde a organização "imprime" o que bem quiser. Depois é só apagar e esperar o próximo cliente. O problema - e é nesse ponto que a série inicia - é que a garota mais solicitada da "Dollhouse", Echo (interpretada pela atriz Eliza Dushku), dá sinais de que não é uma boneca como as outras.

Ao longo dos episódios, ela vai demonstrando que consegue reter informações que deveriam ter sido apagadas. Para complicar a situação, um agente do FBI está investigando a organização e procurando pistas justamente de Echo. A série vai num crescente e melhora bastante a partir do sexto episódio. Cada episódio conta uma história diferente em que os "ativos" (assim são chamados os sem memória) estão em missão. Soube que a série ganhou o direito a uma nova temporada depois de muita especulação sobre seu fim. Provavelmente, a melhorada nos episódios contribuiu. O fato é que "Dollhouse" é muito interessante e pode vir a ser tão boa quanto as melhores séries em exibição. Potencial ela já mostrou que tem.

P.S.: há um motivo a mais de interesse em "Dollhouse". Para a segunda temporada, foi confirmada a presença de Summer Glau, a Cameron de "The Sarah Connor Chronicles", que era uma das coisas mais legais daquela série.

Sobre o livro. De novo

Eu não deveria ter opinado sobre um livro no meio do caminho. Vou dar a impressão de que mudo de opinião toda hora. O fato é que não gostei tanto de "A arte de fazer um jornal diário", de Ricardo Noblat. Depois de ler inteiro, a sensação é que o autor pegou ali uma dúzia de conceitos sobre a "arte" com que trabalha há algumas décadas, reuniu essas idéias e deu o livro por encerrado. O livro é isso mesmo: idéias soltas, arrumadas numa prosa bem escritinha. Pelo meio, entre os parágrafos, de vez em quando o autor salpica lições a estudantes: "leia tudo que lhe chegue às mãos", "consulte o dicionário", "leia em voz alta o próprio texto", "reescreva sempre que necessário" etc.

Tem sua utilidade para jornalistas em formação, mas nada acrescenta à imensa literatura que já existe sobre o assunto. Por tanto, não entendo o motivo de sua existência. Por que dizer de novo o que já foi dito melhor e com mais profundidade? Não sei. É uma pergunta para Noblat. Alguém pode dizer que o jornalista trouxe sua contribuição pessoal sobre o tema. É uma meia verdade. Isso só ocorre quando Noblat conta casos que viveu. Nesse ponto, há muita coisa que se aproveita e o texto bem humorado conta pontos a seu favor. O livro cresce em interesse sempre que ele traz um desses casos (o relato sobre a entrevista com Gilberto Freyre é um exemplo). Mas não dá para se animar, porque são poucos.

Talento para contar, Noblat demonstra que tem. Poderia ter explorado muito mais seu viéis de contador de história em vez do viéis do teórico da comunicação. O último capítulo é bem interessante e valia um livro inteiro: a reforma gráfica e editorial por que passou o Correio Braziliense a partir de 1994. Mas não é aqui que a obra se salva. Noblat achou por bem que um único capítulo era suficiente para tratar do assunto que poderia ser o diferencial do livro. Uma pena. Pelo talento e pelo tempo de carreira, Noblat poderia ter ido mais longe. Ficou devendo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Arte de fazer jornal

Sou um vira-folha mesmo. Já a partir do segundo capítulo começo a gostar do livro de Ricardo Noblat, "A arte de fazer um jornal diário". O começo me assustou um pouco com aqueles números sobre queda na leitura dos jornais e o argumnto de sua caminhada inexorável para o desaparecimento. Uma conversa que não traz novidade para quem acompanha o assunto. Mas aos poucos o livro vai deixando claro para quem se destina e isso é fundamental para entendê-lo. Ele se destina aos profissionais que estão chegando ao mercado e a estudantes. Isso fica claro com o tom da prosa de Noblat e com a sua série de dicas de como trabalhar texto e outros pontos do bebabá do jornalista. Neste contexto, vale a pena trazer de volta essa discussão da importância do jornal e seu lugar no mundo. Totalmente pertinente. Sua fala sobre ética também é muito bem-vinda. Na verdade, me senti no meio de uma conversa com um profissional que tem tempo de profissão e boas histórias para contar. Dessa forma, o livro está sendo não só útil, como saboroso.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Festinha

Aí fui convidado para o aniversário da minha cunhada ontem. Uma festa surpresa com familiares e tal. Em geral, resisto sair da minha rotina durante a semana. É do trabalho para casa e só. Mas atendi ao convite do meu irmão. E foi bem divertido. Tomei uns dois ou três copos de cerveja gelada, joguei conversa fora, belisquei um pedaço de bolo. Tinha criança na festa e Marisa Monte no aparelho de som para agradar uns e desagradar outros. A aniversariante gosta, razão que justifica plenamente a presença da cantora. Antes das 21h, já estava em casa na santa paz. Aprendo que não é nada demais sair um pouco do piloto automático.

Jornal

Depois de Machado de Assis, emendei a leitura de livro sobre jornalismo. Estou com "A arte de fazer um jornal diário", de Ricardo Noblat, publicado em 2002. A leitura é facinha como minha amiga Najara alertou. No primeiro capítulo, Noblat chove no molhado dizendo que o jornal perde leitores e vai deixar de existir. Ele próprio diz que esse diagnóstico já fora feito antes e o jornal continua de pé, continua importante. A diferença na fala de Noblat em relação a outros mensageiros do fim do mundo é que o problema não está nos novos tempos, a culpa é da incompetência dos donos de jornal e dos jornalistas, cujo trabalho não é direcionado para o leitor (cidadão), mas para seus pares (outros jornalistas). Não sei não, mas não fiquei convencido. Não quero emitir um opinião fechada sobre o livro, olhando apenas o primeiro capítulo. Vamos ver o que mais diz o jornalista sobre o assunto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Chope

Reencontrei um grande amigo esses dias. Está mudado. Não bebia, bebeu uma duzia de chopes comigo. Foi uma confusão a conversa. Muita coisa acumulada e até a gente se atualizar foi um atropelando o outro. No fim, nos entendemos bem. Falamos pelos cotovelos sobre nossas vidas de casado, filhos, coisas que a gente gosta em cinema e música. E para variar, sobre o passado, casos antigos. Ele é desenhista, o melhor que já conheci na vida. Prometemos nos rever breve. Despedimos e fomos para casa com a tonturinha boa do chope na cabeça. Eu ainda emendei a noite. Ele é bom moço. Foi direto para casa.
Tô com saudade de ver um filminho bom no dvd. Tenho visto toneladas de séries, o que não é ruim, porque tenho visto coisas ótimas. Mas sinto falta do ritmo diferente dos filmes. E principalmente de retomar o objetivo de ver filmes importantes que ainda não assisti. Fiz uma listinha de western. Quero ter tempo para procurar os filmes nas férias, porque sei bem que não se acha fácil determinados títulos. Mas não reclamo das séries, que têm me feito muito feliz. A segunda temporada de "The Office", por exemplo, está hilária. Me dizem que a primeira temporada era cópia descarada dos episódios originais ingleses, o que explica porque nem sempre as coisas funcionavam. Agora é outra história, nota-se logo. Não deixei de ver "True Blood", que está na reta final da session two e vai muito bem. E estou me preparando para ver "Dollhouse" e "Roma".

Dom Casmurro

Então terminei de ler Dom Casmurro. Acho que vou ler cem vezes e cem vezes eu vou ficar compadecido com Capitu naquela hora fatal que Bentinho diz que o menino não é seu filho. Toda a seqüência desde a tragédia na praia até o desenlace propriamente dito é forte, emocionante. Até o último minuto, parece que Bentinho vai voltar atrás e perdoar. Ele não perdoa. Nem pestaneja. Não falo com isso que acho que Capitu é culpada nem que é inocente. Falo que independente de culpa, ela ganha as minhas simpatias desde a primeira leitura. É um personagem magnético. Tudo no romance respira na direção de apontar a culpa de Capitu. Mas é fácil aceitar o argumento de que Bentinho não é narrador confiável. E como é cruel e frio no fim, putz. Aquela situação do filho, que o adora, e ele frio, querendo distância, é de cortar o coração. É um sujeito magoado, ferido de morte pela crença de que fora traído. Claro que Dom Casmurro só é o romance que é porque as coisas não terminaram bem. Um final feliz condenaria o livro ao esquecimento. Felicidade a gente esquece. Um acontecimento ruim corta a carne. Fica na memória. Mais uma vez valeu a pena ter lido. É um livro soberbo. E me cativou mais que a leitura de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", que também não é um livro ordinário. Longe disso.

*

Agora quero rever a microssérie "Capitu", de Luis Fernando Carvalho, que acaba de sair em DVD.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Gripe

"O medo, com sua capa, nos dissimula e nos berça." (Carlos Drummond de Andrade)

A minha filha ficou doente. Gripe. Chegou a ter febre por dois dias. A médica disse que a febre que vai e volta é normal. No terceiro dia, não teve febre, mas manteve a manha, o dengo. Estamos acompanhando e, pelo visto, o quadro tende à normalidade; os sintomas vão cessando. Curar gripe é mais fácil que curar o medo. Drummond dizia que "fomos educados para o medo". É pior quando se tem filho. Não queremos que nada aconteça com eles. Podemos nós, os pais, dar uma palavra mais alta. Ou aplicar um peteleco, quando passam do limite. Mas não queremos vírus nenhum se metendo a besta.

Vampiro bom, vampiro mau

Não vi e não gostei de "Crepúsculo", o filme sobre vampiros que andam à luz do dia e se relacionam, pelo que se diz, à maneira adolescente. Pelo menos, há um grande público juvenil interessado em filme e livro que trazem essas histórias. E essa faixa etária é preciosa para a indústria, sozinha ela faz a fortuna dos estúdios. Sei que cedo ou tarde vou acabar diante de uma tela com esses new vampiros. O motivo é que Eloá já disse de seu interesse. Sem querer fazer julgamento antecipado, já sei que vou assistir e odiar. Ok, "odiar" talvez seja uma palavra forte. Fico curioso sempre que vejo algo sobre vampiros. Mas fico entediado com best-seller e mais ainda com filmes feitos a partir de best-seller. (Ainda me recupero da primeira adaptação de Dan Brown e seu "Código Da Vinci". Um livro ruim, com um ou outro momento mais interessante, se transformou num filme ruim. Apenas isso.) Para não perder esse post sobre um filme que não vi, posso falar sobre o que vi. Vamos permanecer no teritório dos sugadores de sangue. Há, como se sabe, um sopro bom, renovador, nas séries americanas. São obras que fazem valer a pena perder horas do dia diante da telinha. Neste blog, e no anterior, insistentemente venho falando do assunto. A cada hora, descubro um novo vício. E, de fato, há coisas muito especiais, de alto nível, sendo feitas.

Minha mais recente febre atende ao nome de "True Blood". A série de vampiros sensuais e integrados (quase) ao convívio social é uma das melhores coisas já feitas sobre o tema. Tudo bem que é trash em diversos momentos, abusa de cenas de sexo, de rituais macabros, de violência e de muito sangue. Mas tudo é muito bem contextualizado, muito bem amarrado, e a série sabe trabalhar os diversos núcleos e personagens que vão surgindo. Há um casal protagonista, mas a trama divide sua atenção entre os muitos plots da narrativa. Explora de maneira inteligente os personagens secundários que chegam a competir em importância com o casal central. E não se limita a falar da convivência entre humanos e vampiros. Outros seres sobrenaturais aparecem na história. Poderia ser o samba do crioulo doido, mas não é. Aí está a questão. "True Blood" surpreende a cada episódio, não se importa de ser mais e mais ousado. E avança sempre um pouco em situações esdrúxulas. O que é legal é o fato de o seriado não ter pudor em ser politicamente incorreto, sem falar no seu humor negro. Poderia falar de outras coisas, a atualização do drama de vampiros como metáfora de minorias discriminadas certamente seria uma delas. A aposta em dramas de suspense e assassinato é outro viéis interessante. A série mistura elementos, não abusa de efeitos especiais, tem bons personagens, e centra o olhar nas relações pessoais. Tudo isso feito com respeito pela inteligência do espectador. Quem está a acompanhar um "True Blood", não pode se contentar com um "Crepúsculo" da vida.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Despedida

É em puro lirismo (e expectativa) que estou envolvido esses dias. Bom livro, o Dom Casmurro. Uma amostra. É o momento de despedida entre Bentinho e Capitu. Mesmo inevitável sua ida ao seminário, eles juram que irão casar. Ele está de malas prontas: "Juramos novamente que havíamos de casar um com o outro, e não foi só o aperto de mão que selou o contrato, como no quintal, foi a conjunção das nossas bocas amorosas... [...] Deus, como fez as mãos limpas, assim fez os lábios limpos, e a malícia está antes na tua cabeça perversa que na daquele casal de adolescentes... Oh! minha doce companheira da meninice, eu era puro, e puro fiquei, e puro entrei na aula de São José, a buscar de aparência a investidura sacerdotal, e antes dela a vocação. Mas a vocação eras tu, a investidura eras tu."

Que posso dizer? Beautiful.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sou homem

Primeiro beijo, primeiro amor. Ler o romance de Machado, Dom Casmurro, é tão delicioso que não dá vontade de fazer outra coisa da vida. A história é conhecida, quem não leu por curiosidade ou prazer, leu por obrigação na escola. Mesmo algum extraterrestre que nunca leu, já ouviu falar. Bento e Capitu são jovens, saídos da infância e estão descobrindo o amor. Bento deverá ir para o seminário, será padre, promessa de sua mãe. Diante da iminente separação, o sentimento cresce, o drama dos namorados ganha força, e vamos acompanhando tudo feito joguetes nas mãos de um autor que sabe manipular nossas expectativas. Tudo é bonito, tudo é tenso, tudo é descoberta e tudo tem um frescor tal que parece fácil nos transportar ao mundo em que vivem os dois pequenos. Falo "pequenos" porque, obviamente, ainda estou na primeira metade do livro em que os personagens são bem jovens. Nesse pedaço inicial do romance, quando Capitu e Bentinho dão seu primeiro beijo, durante o capítulo do penteado (magnífico capítulo), difícil não ficar um pouco tonto (eu, pelo menos) com a beleza de tudo que Machado descreve com pormenor. Depois, Bento vai saborear na memória seu primeiro beijo. Exclama sozinho: "Sou homem". E repete várias vezes. Quem não teve seu momento de Bentinho? Tenho uma teoria. Vamos aos livros para voltar a pressionar botões que já temos conosco. E para sentir de novo o que não nos é estranho. Vamos aos livros para reafirmar quem somos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Película

"Quando pensei na minha paixão pela película cinematográfica, a verdadeira magia do cinema que é o modo como o filme, e só o filme, capta imagens em sequência e nosso olhar cria o movimento. Detesto digital. Odeio digital. É vídeo, para mim. É banal, sem magia. Não é possivel fazer nada além de novela com ele. Cinema de verdade é pelicula. E quando percebi que a película em si mesma podia ser uma arma... foi meu momento-eureka."

Quentin Tarantino

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Manoel Carlos

Não tem muito jeito pra mim. Estou a esperar o retorno de Manoel Carlos com sua próxima trama. Ele não é o autor de telenovela que mais me arrebata, porém eu - que sou um confesso apreciador do gênero - não sou indiferente à sua obra. Já escrevi bastante sobre isso no blog antigo. É uma peleja sempre que ele estréia algo. Gosto dele, bastante. E desgosto um outro tanto. Não é a admiração que tenho por um Sílvio de Abreu ou um Gilberto Braga, que para mim são o que há de melhor na televisão brasileira. Mas há uma admiração e a curiosidade pelo seu próximo projeto. Apesar da Taís Araújo, espero que venha coisa boa por aí.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Coraline

Muito simpático o filme "Coraline e o mundo secreto", que vi com minha filha. Um pouco assustador para crianças, é verdade (eu mesmo senti um medinho a certa altura). Mas nada demais também. E é tão bem feitinho que é fácil, fácil gostar.

sábado, 8 de agosto de 2009

Doce vampira...

A série True Blood primeiro me assustou. O que melhor a definia na minha cabeça era algo do tipo "é bom, mas é estranho". Só depois me deixou viciado. Minhas dúvidas sobre o seriado começaram a ir embora no segundo em que bati os olhos em Ana Paquin. Sua personagem é esquisita sem deixar de ser graciosa. É o tipo "sem noção", mas com sentimentos. Não há como não gostar dela. A série cresceu bastante desde o episódio piloto, inclusive outras histórias ganharam força além daquela que envolve a dupla central em que Paquin, uma garota não exatamente normal, faz par romântico com um vampiro. Bem, leio uma notícia que tem potencial para deixar a segunda temporada ainda mais atraente (e a palavra atraente não está aqui à toa). Evan Rachel Wood, que aparece na foto acima, dos filmes "Aos treze" e "Vale proibido", é a atriz convidada para viver uma das vampiras da série. A notícia não poderia ser melhor.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sobre filmes

Daí eu peguei esse texto do "The Observer", reproduzido na Carta Capital, e fiquei a pensar. É um artigo assinado por Tim Lott, que abre o coração e não se constrange ao falar mal de filmes considerados obras-primas. Entre os varios exemplos citados, estão "La Dolce Vita", "Jules e Jim" e "Morte em Veneza". Eu me identifiquei muito com as coisas que o Lott fala. Não quero dizer que não gosto de filme consagrado, mas não quero ter a obrigação de gostar de algo só porque a crítica inteira entendeu que se trata de algo genial, irretocável. Na conclusão de sua matéria, Lott dirige-se ao leitor: "sinta-se à vontade para escrever e destroçar qualquer desses filmes. Talvez eles mereçam. E creia-me: você vai se sentir muito melhor". Não duvido. É bom estar livre para dizer que não gostou de algo sem se sentir um alien por isso. Assim como é bom poder gostar de determinados filmes mesmo que eles não gozem do beneplácito dos especialistas.

Casmurro

Não vou mentir. Não morri de amores por "O Processo", de Kafka. A sensação de ler um livro que não foi concluído, em que há capítulo que não termina, e ao qual vem acrescido suplemento com trechos descartados pelo autor, essa sensação não é boa. É uma obra bastante citada, o texto tem mesmo muitas qualidades, mas não me ficou claro o porquê de tudo. Sei que não precisamos ter resposta para todas as coisas, ainda mais em trabalhos artísticos como esse, mas não fiquei feliz com as dúvidas que tive nem com o propósito do autor. Acho que serei mais feliz com o livro seguinte, que já comecei a ler: "Dom Casmurro". Será a terceira ou quarta vez que leio esse livro de Machado de Assis. E lá se vão pelo menos uns sete, oito anos. Até onde me lembro, era o melhor livro que já tinha lido na vida. Vamos ver o que se passa agora na revisão. Nada permanece igual depois de tantos anos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pode entrar

Vi pedaços do novo DVD de Ivete Sangalo, "Pode entrar". Achei bem simpático o que vi. O que mais gostei foi do mar da Bahia, que aparece muito bem na foto, em barquinhos de pesca, pedaços da orla, pedaços da Baía de Todos os Santos. Toda a seqüencia com Bethânia é boa, como é bom o número musical das duas cantando "Obrigado, Axé". Fiquei querendo parar para assistir a tudo com calma.

Bizarro

Esse "O Processo" é um livro bem estranho. Uma amiga mais jovem diria que é "bizarro". Kafka é o escritor de histórias absurdas. Em seu livro mais famoso, que li há alguns anos, o personagem acorda em casa transformado em inseto. Assim, sem explicação. Aqui, em "O Processo", o pobre Josef K. acorda com dois homens o aguardando para informá-lo que está detido. E que corre contra ele um processo na Justiça. Nada que K. tenha feito faz supor que ele é culpado do que quer que seja. Não sabemos, tão pouco K., do que ele é acusado. Essa é a história. O personagem empreende o que pode em esforços para se ver livre desse processo de que não sabe quase nada. E esse pesadelo é tudo o que temos em boa parte das quase trezentas páginas. O mais angustiante é que estou no finzinho do livro e nada faz supor que estamos próximo da elucidação do caso. A substância da narrativa é esse percurso em que temos a sensação de que K. anda em círculo. Personagens aparecem, cada qual faz a história avançar um pouco, mas a sensação de que o personagem não tem saída é cada vez mais forte. A forma como é apresentada a Justiça não é nada boa: ela é terrivelmente lenta, burocratizada, corrompida.

*

Uma coisa curiosa: o livro foi deixado incompleto pelo autor. Nas informações da editora, é dito que não havia necessidade de complementação. Tenho minhas dúvidas, ainda mais quando um dos capítulos é interrompido no meio e lemos a seguinte nota: "Este capítulo não foi concluído". Como assim? Como diria uma amiga minha, é mesmo bizarro.