segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sobre o livro. De novo

Eu não deveria ter opinado sobre um livro no meio do caminho. Vou dar a impressão de que mudo de opinião toda hora. O fato é que não gostei tanto de "A arte de fazer um jornal diário", de Ricardo Noblat. Depois de ler inteiro, a sensação é que o autor pegou ali uma dúzia de conceitos sobre a "arte" com que trabalha há algumas décadas, reuniu essas idéias e deu o livro por encerrado. O livro é isso mesmo: idéias soltas, arrumadas numa prosa bem escritinha. Pelo meio, entre os parágrafos, de vez em quando o autor salpica lições a estudantes: "leia tudo que lhe chegue às mãos", "consulte o dicionário", "leia em voz alta o próprio texto", "reescreva sempre que necessário" etc.

Tem sua utilidade para jornalistas em formação, mas nada acrescenta à imensa literatura que já existe sobre o assunto. Por tanto, não entendo o motivo de sua existência. Por que dizer de novo o que já foi dito melhor e com mais profundidade? Não sei. É uma pergunta para Noblat. Alguém pode dizer que o jornalista trouxe sua contribuição pessoal sobre o tema. É uma meia verdade. Isso só ocorre quando Noblat conta casos que viveu. Nesse ponto, há muita coisa que se aproveita e o texto bem humorado conta pontos a seu favor. O livro cresce em interesse sempre que ele traz um desses casos (o relato sobre a entrevista com Gilberto Freyre é um exemplo). Mas não dá para se animar, porque são poucos.

Talento para contar, Noblat demonstra que tem. Poderia ter explorado muito mais seu viéis de contador de história em vez do viéis do teórico da comunicação. O último capítulo é bem interessante e valia um livro inteiro: a reforma gráfica e editorial por que passou o Correio Braziliense a partir de 1994. Mas não é aqui que a obra se salva. Noblat achou por bem que um único capítulo era suficiente para tratar do assunto que poderia ser o diferencial do livro. Uma pena. Pelo talento e pelo tempo de carreira, Noblat poderia ter ido mais longe. Ficou devendo.

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