segunda-feira, 26 de março de 2012

McLuhan

Comecei a ler o livro de Marshall McLuhan, "Os meios de comunicação como extensões do homem". Li um ou outro capítulo na faculdade de comunicação, mas minha lembrança mais forte ligada ao autor é a sua participação no filme de Woody Allen. Ele tem uma aparição relâmpago em "Noivo neurótico, noiva nervosa" apenas para desmentir uma pessoa na fila do cinema. O cara está discutindo com o personagem de Allen e cita Mcluhan, dizendo saber muito bem o que está falando. O próprio Mcluhan aparece para confrontá-lo. É hilário.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ainda sobre 'Minha Razão de Viver'

Estou entrando pela metade do livro "Doidas e Santas" de Martha Medeiros e não falei que terminei "Minha razão de viver", do Samuel Wainer. Terminei. É um livro muito instrutivo, bem escrito, revelador. Conta a trajetória do jornalista, desde a criação da revista "Diretrizes", que reuniu grandes nomes da literatura brasileira nos anos 30. Em seguida, concentra-se em narrar os eventos que levaram o autor a fundar o jornal Última Hora, uma publicação importante na história da imprensa (e na história do país). O livro mostra em detalhes a relação bem próxima que Samuel Wainer estabeleceu com os poderosos que passaram pela presidência do país, entre eles os emblemáticos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. E conta como tornou-se, o próprio Wainer, um homem de poder, estando ou não de braços dados com o mandante da hora. Os fatos narrados vão até o declínio e venda de Última Hora que, fundado no Rio de Janeiro, tornou-se um jornal influente, com edições em diversas regiões do país. O período coberto é amplo, desde antes da ditadura de Vargas, com o Estado Novo, até a fase de endurecimento da ditadura militar com o AI 5 e as perseguições aos direitos civis. O depoimento deixa clara a relação entre imprensa, poder e dinheiro que se estabeleceu em todo esse período de consolidação de diversos grupos que ainda hoje tem muita influência no país. Uma leitura realmente esclarecedora.

terça-feira, 20 de março de 2012

Doidas e santas

"Até hoje, pergunta-se: para que serve a arte, para que serve a poesia? Intelectuais se aprumam, pigarreiam e começam a responder dizendo "Veja bem..." e daí em diante é um blablablá teórico que tenta explicar o inexplicável. Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento."

O trecho é do livro "Doidas e santas" de Martha Medeiros. Comecei a ler ontem à noite, gostei muito. Há algum tempo quando ouvi falar nesse livro, me senti atraído, mas fiquei preocupado: e se for mulherzinha demais? e se ainda assim eu gostar? Por via das dúvidas fiquei bem longe. Vai saber. Mas ele veio atrás de mim. E a boa notícia é que não é mulherzinha (ufa!), é bem rock and roll, na verdade. No espírito.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Filmes

Gostei muito de "Deixa ela entrar", o filme sueco que narra uma amizade/amor entre um garoto e uma menina vampira. Tinha visto primeiro o remake americano, chamado "Deixe-me entrar", pelo qual morri de amores e já escrevi aqui sobre. É, a rigor, a mesma história com outros atores. Ambos são muito bons, mas meu coração ainda bate mais forte pelo remake, que vi primeiro - o impacto foi maior. Acho que, como é a mesma história, o segundo já não era uma novidade, era mais uma curiosidade. De qualquer forma, são dois ótimos filmes.

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Pelo trailer, eu imaginei que "Gigantes de aço" era daqueles filmes comerciais piegas e entupidos de clichês. Ele é exatamente isso e ainda assim é um programa bem divertido. Assiste-se com prazer à história num futuro próximo do ex-lutador de boxe (Hugh Jackman) que ganha a vida com robôs lutadores. Os robôs, como se imagina, tem esses movimentos bem impressionantes que já não são novidade nessa indústria. O garoto é o filho renegado, que o pai vende para saudar dívidas e comprar mais um robô. Até o final, pai e filho terão oportunidade de se conhecer melhor e se acertar. Claro que já vimos esse filme antes. O bacana é que a produção usa a seu favor - e desavergonhadamente - enredos já conhecidos para entregar um produto bem simpático.

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Como fiquei tanto tempo sem ver esse filme em que há cenas de pegação entre as incríveis Megan Fox e Amanda Seyfried, "Garota infernal"? Talvez porque o filme só tem isso de bom... É um thriller que deveria meter algum medo e fazer algum sentido. Nem uma coisa nem outra. Porém contudo essas duas se agarrando numa cena de, sei lá, menos de um minuto, compensa bastante um roteiro acéfalo.

terça-feira, 13 de março de 2012

Minha Razão de Viver

Bem interessante esse livro do Samuel Wainer, "Minha Razão de Viver", que começo a ler. O jornalismo - e o país - eram completamente outros nesses anos 30 e 40 do século passado. Para mim foi uma curiosidade e tanto ver relatadas situações como a de João Goulart, numa festa na casa de Getúlio Vargas, subindo numa árvore (?!) para exaltar o ex-ditador do Estado Novo e então candidato à eleição presidencial de 1950. Putz, em cima de uma árvore! E alguém consegue imaginar um repórter com uma entrevista bombástica que precisa esperar pacientemente dias e dias até que possa ser publicada, porque o jornal não funcionava durante o Carnaval, nem mesmo na quarta-feira de cinzas? E o que dizer de um político graúdo numa reunião importante - com a presença da imprensa - que se vê contrariado e para demonstrar essa iritação dá uma cusparada no meio da sala e solta um sonoro "filho da puta". Tirando essas curiosidades de época, me deixou intrigado saber a turma que se reunia com Samuel Wainer na sua revista "Diretrizes" (começou a circular em 1938) de linha editorial francamente antifascista numa época em que não eram poucos os simpatizantes do fascismo europeu - incluindo o próprio Vargas. Essa turma de "Diretrizes" contava com gente como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Érico Veríssimo, Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz, Rubem Braga, Di Cavalcanti e Moacir Werneck de Castro.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Entre as garfadas do almoço, terminei de ler o livro de Kotscho. É um bom livro, se a gente considerar a segunda metade, dedicada à sua participação nas campanhas e no primeiro governo Lula. Mal termino um livro e já pulei nas páginas de outro, que me foi trazido pelo amigo Franklin: "Samuel Wainer - Minha Razão de Viver". Continuo, como se nota, em obras de jornalistas. Wainer foi contemporrâneo de Assis Chateaubriand e trabalhou nos seus Diários Associados, quando entrevistou Getúlio Vargas. O prefácio do livro é de ninguém menos que Jorge Amado. Pois é, mal comecei a ler e já bateu saudade da prosa de Jorge (num passado longíquo, quando conheci a literatura do baiano, não gostei. Hoje adoro o autor). Foi um começo extremamente convidativo.

Uma vida de repórter

Entrando nas campanhas de Lula à presidência, o livro de Ricardo Kotscho ("Do golpe ao Planalto - Uma vida de repórter") me interessou bastante. Acho até que ele deveria ter concentrado todo o livro em um único tema, seja a sua vida de repórter, seja a sua presença na política e governo. A sensação de estar lendo um livro irrgular que não se detém em assunto nenhum e passeia por várias paisagens não me despertou tanto. Da metade para o final, quando o relato se detém na sua passagem como assessor de Lula e posteriormente como secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência, a história ganha um foco, e prende a atenção. Conhecia Ricardo Kotscho de nome e de algumas matérias em sua passagem por grandes veículos de imprensa. Não tinha uma opinião fechada e dificilmente teria comprado esse livro. Ganhei de presente no Natal do amigo Hederverton. Estou nas últimas páginas, no posfácio, quando o autor conta suas impressões sobre a crise do mensalão no governo, quando ele já estava fora do Planalto. Esse relato da trajetória do ex-presidente, desde o surgimento no sindicalismo do ABC paulista, fundação do Partido dos Trabalhadores, passando por sua fase de deputado da constituinte, candidato derrotado em três eleições e finalmente presidente do Brasil, esse é um relato que merece um grande livro. Kotscho conta de sua participação apenas. Temos uma visão incompleta, por motivos óbvios, e fica claro que o tema merece um trabalho que aborde o período de maneira aprofundada.

Uma observação final: Kotscho relata que o presidente o tinha como um cara que entendia de relacionamento com a imprensa, porém era um ingênuo em matéria de política. O livro meio que conclui exatamente isso. Não é um demérito, o livro traça uma fotografia simpática do seu autor. Eu, por exemplo, estou bem mais simpático ao jornalista do que era antes de começar a leitura.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A parte relativa à campanha das "Diretas Já" é a mais animadora do livro de Ricardo Kotscho até aqui. Estou na metade da leitura e já passamos pelo AI-5 (de raspão), por um período de repressão durante a ditadura militar, pela sua fase de correspondente internacional, pela seu contato com personalidades, suas inúmeras matérias que ganharam repercussão nacional. O livro é irregular. Kotscho foi repórter a vida inteira até se tornar assessor de Lula. É essa trajetória que ele conta ("do golpe ao Planalto"), ressaltando o que viu e viveu como repórter em veículos como Estadão, Jornal do Brasil, Jornal da República e Folha de São Paulo. Há varias passagens interessantes e diversos casos envolvendo nomes conhecidos da imprensa de quem ele foi colega. Gosto de algumas coisas, outras nem tanto. Voltarei ao assunto.
Entrei naquela curva de tempo, em que tudo é motivo para que eu reflita. A reflexão maior, e sem resposta até aqui, é onde vou parar. Isso é engraçado porque há uns 10 ou 15 anos parecia que essa era uma questão insignificante. Nunca foi, eu é que não dei a importância que ela merece, sejamos francos. Em geral, vamos vivendo a vida cada dia como se cada um desses dias não fossem pedaços de um desenho que no fim diz quem eu sou. Cada dia, cada pedaço, tem importância no todo. Estou nesse processo de acordar às vezes à noite e ficar pensando no futuro. Tive um consolo na última semana quando meu amigo Franklin me disse que está num processo semelhante, só que mais pesado e há mais tempo (e ele também acorda mais vezes à noite). Era para eu ficar aterrorizado. Putz, serei eu daqui há um tempo! Mas não foi o que aconteceu. Me senti melhor, talvez por ter com quem conversar sobre o assunto, com gente que entende bem o que estou passando. Reflexão é um negócio saudável, bem-vindo. O problema é o passo imediatamente seguinte: transformar o resultado das reflexões em decisões que vão mudar completamente minha vida.

E isso precisa da ajuda de um bom vinho...

Drive

"Drive", do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, é um bom filme de ação e suspense. Tem aquele ar retrô, parece filme velho, a ponto de minha esposa perguntar de que ano era o filme. Eu disse que era recente, de 2011, ela fez cara de dúvida. Mas essa ambientação ajuda o filme, que é silencioso, tem uma trilha muito boa e muita tensão. O Ryan Gosling é o astro, seu personagem é um desses caras que fazem miséria com um carro na mão. Ele trabalha como dublê em cenas perigosas envolvendo veículos e também numa oficina (seu chefe é o Bryan Cranston, de Braking Bad). À noite, ele arruma tempo para dirigir em assaltos. Seu passado é um mistério, o que ajuda no clima de suspense. Não sabemos exatamente o que esperar do seu personagem quando as coisas se complicam. E as coisas ficam muito complicadas quando ele resolve fazer mais um "serviço". Sua intenção aqui é ajudar uma garota (Carey Mulligan), cujo marido está em dívida com criminosos. Para pagar a dívida, os bandidos querem que o tal marido execute um roubo. O personagem de Gosling vai ajudar, mas não sabe que é uma armadilha, daquelas situações em que nada sai como previsto. Estamos então na metade final e o filme se torna mais e mais violento. Não gostei tanto das cenas de sangue, que são bem feias. Mas gosto muito do jeito instrospectivo e quieto do personagem de Gosling. Sua relação com a garota por quem desenvolve um vínculo afetivo é bem trabalhada no início e se degrada com os acontecimentos. De qualquer forma é um filme não tão convencional e com várias cenas inspiradas.

*

E o que dizer do novo "Anjos da noite"? Apenas que é bom ver a Selene, personagem da estonteante Kate Beckinsale, socando os lycans maus. Cada vez gosto menos de filmes de efeitos e etc. Mas como resistir ao charme de Beckinsale? Sem ela, quebra-se as duas pernas da produção. A não ser que se arrume uma Rhona Mitra. Mas aí é outra história...

sexta-feira, 2 de março de 2012

A invenção de Hugo Cabret

Uma das coisas mais divertidas no filme "A invenção de Hugo Cabret" é a personagem da excelente Chloe Moretz, a pequena que é fissurada em leitura e de vez em quando insere uma palavra "difícil" em suas falas. Essa menina é um talento, recentemente fez alguns filmes marcantes da cultura pop ("Kick Ass - quebrando tudo" e o incrível "Deixe-me entrar") e é um dos atrativos desse novo trabalho de Martin Scorsese.

É preciso dizer que esse é um dos melhores filmes do diretor para o meu paladar. Gosto de muita coisa do Scorsese, desde trabalhos mais antigos como "Touro indomável" e "Taxi Drive" como também gosto de filmes mais novos como "O aviador" e "Infiltrados" (não amei, mas está longe de ser ruim o seu último filme, "A Ilha do Medo", de 2010).

A história do garotinho que vive numa estação de trem, comete pequenos furtos e sofre com a ausência do pai é muito prazerosa de acompanhar. Gosto de um filme que fala e mostra que o cinema pode ser um caminho, uma opção de vida, que mostra a beleza dessa arte. E Scorsese faz uma homenagem muito simpática a um dos pioneiros da história do cinema, o diretor Georges Miélès. E fala de uma maneira encantadora, tanto que a minha filha de dez anos amou o filme.

É mesmo um filme amável, traz aquela sensação de que se está em um sonho. O tratamento dado ao 3D, pela primeira vez me senti à vontade com esse recurso que gosto tanto de falar que odeio. Aqui gostei. É provável que tenha sido capturado pela abertura do filme, quando vemos do alto a cidade de Paris e a câmera faz um movimento lindo mergulhado de cima para baixo e  avançando pelo corredor humano na estação de trem. Uau. Coisa de mestre mesmo. Assim como a cena em que os meninos derrubam uma caixa cheia de desenhos e os desenhos parecem vivos. Um efeito de cinema, simples, mas mágico.

A menina se enamora do novo amiguinho atraído pela aventura que podem vir a viver. E de fato é isso que Scorsese nos entrega, uma aventura sofisticada e simples, bem contada, feita com gosto.