terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O jogador

Em passo de tartaruga ainda lendo "O jogador", de Dostoiévski. Eu sei, eu sei, podem atirar as pedras. É uma releitura, o que seria mais um motivo para ler com alguma celeridade num ano marcado por boas e muitas leituras. Mas eis que esse quinto final do ano me trouxe muitas novidades e me ocupou o tempo de uma forma tremenda. E mudou minha rotina, pôs meus hábitos abaixo com o carro e o novo endereço. Resultado: quase parei de ler o livro. De vez em quando, como hoje, encontro um tempo para ler duas ou três páginas. Não há complicação, a leitura flui como se não a tivesse deixado. Bom demais a leitura. Vou tomar vergonha e dar atenção às coisas importantes da vida.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Meu tio matou um cara

Já tinha visto, mas resolvi rever "Meu tio matou um cara", filme bacana do Jorge Furtado, desta vez com minha filhinha de 9 anos. Eloá achou o filme "adiantado" pra ela, quer dizer, tratando de temas que deveriam ser apresentados a ela mais adiante (namoro, sexo etc). Eu me preocupo com os programas que ela vê e sei que nas novelas, mesmo as que são exibidas em horário de criança, tem referência a namoro, sexo, essas coisas que devemos ter cuidado em se tratando de crianças. Mas o filme de Jorge Furtado é tão simpático, e narrado da perspectiva de um garoto, que eu resolvi dar esse prazer à pequena e ficar monitorando. Mas nada que está mostrado é "pesado" ou inadequado a ponto de ser proibitivo pra ela. Até seus temas mais picantes (Déborah Seco seminua, por exemplo), eu os considerei pouco para inviabilizar o filme para a pequena. Até porque o principal é que é também uma história de detetive, com mistério em torno de um crime, suspeito de assassinato, mulher fatal, e uma dupla esperta de personagens centrais (feitos por Darlan Cunha e Sophia Reis), o herói e a mocinha. Tudo é muito leve, inteligente, e em situações bem aproveitadas pela história, que na verdade é até simples. Gosto de ver filme com a pequena, ela adora esses programas. E sempre tem depois uma conversa para falar sobre o que vimos, chamar a atenção para algum ponto e rir relembrando alguma passagem. Uma boa diversão.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Daí eu ouço Gal Costa cantando "Baby", acompanhada por Caetano Veloso ao violão. E me vem à cabeça uma vida inteira que tive antes, em outra época, quando muito ouvia essas coisas, acompanhava os movimentos, sabia quem lançava discos. Ia fazendo minha vida com essa trilha sonora de música popular brasileira. Com os amigos, na rua, ouvia o rock brasileiro que ainda ecoava forte no final dos anos 80 e em todos os anos 90. Mas dentro de casa, a tilha era de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal e Bethânia, Dorival Caymmi, João Gilberto, Tom Jobim, entre outros medalhões. Foi o início de adolescência. Não poderia haver trilha melhor, seja a de dentro de casa ou a das ruas. Outro dia Adriana Calcanhoto falava que há uma música brasileira correspondente a cada situação que a gente vive. É possível ilustrar qualquer situação com uma música do nosso cancioneiro. Ela está certa, tem tudo a ver. Tenho essa mania de pensar numa música para cada situação passada, presente ou futura na minha vida. A canção sempre teve um papel importante pra mim. Lembro que quando conquistei a minha primeira namorada; na época escrevia poesia, e fiz então uns dez poemas para serem gravados por ela sob o som do piano de Johannes Brahms. Ficou uma coiisa linda. Até hoje lembro de alguns trechos e me arrepio de lembrar. Música é um troço importante demais. 

Música

Agora com o carro, tenho ouvido muito mais música. É uma dívida comigo mesmo que passo a quitar. Comecei ouvindo as coisas que tenho em casa e nos últimos dias comecei a correr atrás de outras coisas que já queria ouvir, explorar, há algum tempo. A primeira demanda reprimida foi por Ana Cañas. Depois que vi um clip seu na internet interpretando "O nosso amor a gente inventa", em pegada rock and roll, me amarrei. Fiquei com essa imagem na cabeça, fascinado. Consegui o segundo disco, "Hein?", com esse título saboroso e uma foto linda dela na capa. O disco é explosivo, já começa bem, com pegada, e segue muito bom até o fim. Depois de ouvir umas trezentas vezes, comecei a explorar outra cantora que despertava minha curiosidade: Amy Winehouse. Aquela voz bonita, potente, em clima doloroso, sempre me chamava a atenção. Achei por bem esperar baixar a poeira em torno dela pra começar a ouvir com calma. É maravilhosa. Não posso, não consigo ouvir outra coisa, desde que coloquei o disco pra tocar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Negalora

É curioso. Há um certo prazer em falar mal de gente conhecida, personagens célebres. As militâncias, mais do que todos, adoram atacar quem está em evidência. Vi no Facebook e no twitter reações ao personagem "Negalora", adotado por Cláudia Leitte por inspiração de Carlinhos Brown. Acho curioso que uma turma da militância negra gaste tanta energia para discutir "semioticamente" (pode rir) uma manifestação de uma artista popular. Caramba, e como se levam a sério! É uma audácia, um ataque à cultura negra, uma cantora que passou a vida tirando o sustento dessas manifestações mestiças - e o Carnaval é a maior dessas manifestações - que agora venha a se dizer "nega", cite a influência da babá e ainda queira homenageiar a África. Um abuso completo. Essa grande discussão, porque não há outra mais importante para a militância no momento, é tremendamente útil e ajuda a reduzir as desigualdades sociais, a miséria, o racismo e tantos males que afetam a população negra, mestiça etc.

Eu acho tudo muito curioso.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Natal

"Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
'Stou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei...!"

É um texto triste e melancólico, eu sei. Mas sempre lembro desse poema de Fernando Pessoa, especialmente os primeiros versos, quando o Natal está próximo. Não sei que conexão essas palavras encontram com a minha vida, em que momento se deu essa conexão, mas está lá. E uma coisa e outra me levam à infância, que é o terreno onde o Natal parece sempre ter sido perfeito. Mesmo para um garoto que teve a infância pobre como eu, o Natal sempre foi mágico. Mesmo que mal pudesse ganhar dos pais um carrinho de bombeiro ou uma roupa nova. Em oposição ao sentimento nos versos de Pessoa, toda a lembrança que eu tenho da infância nessa época do ano é um negócio bom, iluminado, para cima. A religião explica em parte, mesmo sabendo que minha família nunca foi religiosa ao extremo. Mas é uma influência óbvia a mistura de celebração religiosa e profana nessa época.

Mas o meu entusiasmo com o Natal pode ser explicado, por exemplo, pelo fato de que eu criança tinha um exército de outras crianças como eu para brincar e bricávamos muito, o dia inteiro, em ruas que não ofereciam o perigo que hoje oferecem. Pelo menos nós e nossos pais tínhamos essa ilusão. Então, no final do ano, verão na cidade, férias da escola, era bom demais explorar mil e uma brincadeiras. No Natal era tudo melhor, porque a maioria de nós estava com brinquedos novos e era o momento de maior movimento. Quem não tinha brinquedo novo, usava a criatividade, improvisava, se unia a quem tinha e por aí vai. Toda a ciançada da vizinhaça se unia, era uma agitação sem fim.

Um pouco maior, com um pouco mais de idade, as coisas eram ainda mais saborosas. Éramos crianças maiores, fazíamos festa, saíamos em grupo, ouvíamos música, vivíamos loucos atrás das menininhas que viviam loucas atrás da gente. Nesse início de vida adolescente, vivíamos mais o desejo do que a realização desse desejo. Poucos de nós conseguiam um beijinho de uma garota (e os poucos que chegavam lá tornavam-se heróis da turma). O Natal, como outras épocas festivas, era regado a muito refrigerante e só bem depois começamos a encher a cara de cerveja e bebidas mais fortes.

Nada que tenha vivido entre a infância e a adolescência se aproxima do clima de neve que caracteriza o Natal europeu e americano do norte. Porém, os filmes, desenhos e especiais de TV, em que éramos viciados, impregnavam nosso cérebro de imagens geladas e paisagens que não eram a nossa. Porém, tudo fazia parte de um imaginário e se atrelava à idéia do Natal. Por isso, mesmo em nossa quente temperatura e sem nenhuma relação com gelo, eu, como outras tantas crianças, nos acostumamos com essa cultura do Natal que não é nossa, mas passou a fazer parte como se nossa fosse.

Não me incomodo com isso. Há tantas coisas que tomamos como nosso e tem origens tão distantes. O mais bacana do processo todo é que na deglutição desses símbolos que nos chegam em algum momento, sempre entregamos algo de nós e devolvemos uma coisa diferente do original. Nunca acreditei em dominação cultural da forma como alguns querem interpretar. Acredito muito em fusão, em troca. E acredito que uma tradição de centenas de anos, que é aceita, cultuada e repetida, não pode ser reduzida à imposição do mais forte ao mais fraco simplesmente. Sempre achei esses processos mais complicados, maiores que as explicações rasteiras que costumamos ouvir por aí.

Gosto do Natal, gosto da parte religiosa da coisa e também da farra. E não vejo nenhum problema em o comércio lucrar nessa época.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Planeta dos Macacos

Ainda tenho na lembrança o "Planeta do Macacos" de Tim Burton. Tenho uma relação de amor e ódio com Burton, mas lembro de ter simpatizado bastante com esse filme dele que foi bem maltratado pela crítica à época. Aquele triângulo amoroso entre um casal humano e uma símio é um negócio de louco, e bem construído, dentro do filme.
Essa semana, eu vi em DVD a versão mais nova do filme, chamada "Planeta dos Macacos: A Origem", de Rupert Wyatt. Na verdade é uma prequel, com fatos eventualmente passados antes do filme de Burton e, óbvio, antes dos fatos mostrados na famosa série dos anos 60.

Esse novo filme não é grande coisa. O macaco César (o nome é ótimo) é o astro do filme, portanto, um ponto a favor da tecnologia que permite esse tipo de coisa com assombroso realismo. Aqueles olhos são extremamente expressivos.

Mas, não sei, o drama não me instigou... não há de fato um drama. Há desculpas para um filme de ação e combate, que consomem a metade final do longa. Tudo é muito rápido e superficial, tanto quanto a agilidade do animal saltando de um lado a outro em tomadas exaustivamente repetidas.

No final, apesar de James Franco ser um ator de algum recurso e a Frida Pinto ser a lindeza que é, é mais um filme sem grande força... a não ser a de fazer bilheteria.



sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Trânsito

Atualmente, nessa minha vida de condutor, tenho observado coisas. Por exemplo, Salvador é muito ruim em matéria de sinalização de trânsito. A cidade é ruim em muitas coisas, em sinalização é péssima. Nos bairros mais nobres há alguma coisa parecida com sinalização horizontal e vertical, porém quando vamos mais para a periferia, é o inferno. Sem falar no crime de haver tantos e tão variados buracos ao longo do asfalto (que se multiplicam quando chove), ondulações inexplicáveis na pista, lombadas a torto e a direito, sem nenhum critério. Ser motorista numa cidade entregue à própria sorte como essa é um negócio absurdo. O que eu acho curioso é que tomamos conhecimento de motoristas punidos por infrações de trânsito - em quantidade infinitamente menor do que o que se pratica. Mas o que intriga mesmo é que, no entanto, nunca se ouve falar de um gestor público que tenha sido penalizado por estupenda ausência de gestão em matéria de trânsito.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Voltando aos poucos


Não deixei o blog. Depois de tantas mudanças na vida, venho voltando devagar. Agora que estou dirigindo, estou descobrindo muita coisa que é óbvio do óbvio para grande parte das pessoas que tem a minha idade, mas que para mim, cada nova informação é, às vezes, um susto. Na segunda-feira, um dia tão difícil, em que fui batizado nessa coisa terrível de bater o meu carro (na verdade fui batido), nesse dia vi um filme muito bom. O argentino "Um conto chinês", de Sebastián Borensztein, tem o frescor das boas história num conjunto tão simples de elementos, cujo resultado é imensamente gratificante... E é muito bacana o trabalho de ator do Ricardo Darín. O filme foi a nota boa num dia difícil.

Já que falei dessa obra argentina, vale a pena registrar também um ótimo filme que vi no fim de semana indicado pela amiga Juliana Suedde: "Namorados para sempre". O título engana. O filme é muito mais sobre as dores e as dificuldades para se manter uma relação do que algo romântico etc. (O título original é muito superior e adequado ao que se vê na tela: "Blue Valentine".) Eu achei o filme incrível do começo ao fim. Direção de Derek Cianfrance e a dupla central nas mãos de ótimos Ryan Gosling e Michelle Williams.