quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Menina que Brincava com Fogo

Uma passada para um breve comentário sobre "A Menina que Brincava com Fogo", segundo livro da trilogia Millennium, do escritor sueco Stieg Larsson.
Em relação ao primeiro, este segundo tem aquele conforto de não precisar apresentar os personagens principais. É um conforto parcial, porque na verdade aparecem muitos mais personagens nesta outra história que ganham suas longas notas explicativas antes que se movimentem na trama.
Notas essas que me irritaram no primeiro livro (e continuam me irritando), embora reconheça sua utilidade.
O problema aqui é que já conheçemos os mocinhos da história e estamos irremediavelmente cativados por eles.
Não há como não torcer pela esquisitíssima, genial - e sexy - Lisbeth Salander. Uma mulher que transita entre a legalidade e a ilegalidade, guiada por uma moral própria.
Não há como não gostar do certinho, mas imperfeito, repórter investigativo Mikael Blomkvist. Em tudo um antípoda de Salander.
Ambos vivem em mundos diferentes, professam valores diferenciados, entretanto se atraem e atuam contra os homens realmente maus - assassinos, pedófilos, traficantes de mulheres, corruptos, sociopatas.
Ok, é a trama maniqueísta de sempre, atualizada aos nossos tempos, porém escrita com inteligência e charme.
Uma constatação: possui personagens com desenho mais complexo que o comum em histórias de entretenimento.
E como, diabos, não é fácil largar a leitura!

terça-feira, 28 de junho de 2011

A Causa Secreta

Tinha lido "Um esqueleto", pouco antes de ser anunciado o filme "A Erva do Rato", de Júlio Bressame, sobre dois contos de Machado de Assis. Adorei a história. Achei o conto maravilhoso, lúgubre e tenso. Depois de ver o filme, fui ler "A Causa Secreta", o outro conto. Putz, é muito bom. Sou um leitor de Machado, conheço bastante seus escritos, mas não deixo de me surpreender com seu talento. Nos contos, então, ele mostra um domínio e uma inventividade incríveis. Pena que o filme de Bressame não me proporcione prazer parecido. Já falei aqui que poderia rever o "A Erva do Rato" e dar uma nova chance a uma obra que não me capturou de primeira. Mas foi ruim ter começado a ver Bressame por esse filme, com a sombra gigante de Machado. Só poderá prejudicar meu julgamento sobre outros filmes dele.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cozinha

Ficamos tentados a fazer alguma coisa gostosa na cozinha.
Tínhamos visto "Simplesmente Martha" no sábado e logo depois só pensávamos nisso, em cozinhar algo - uma massa que fosse.
A geladeira tinha comida pronta e também comemos fora de casa alguns dias. Mas a vontade era de preparar alguma coisa legal, diferente.
Minha vontade não se transformou em ação, faltou pernas e braços para me meter no mercado, depois na cozinha e fazer o serviço.
Mas Eloá estava resoluta. Me arrastou ao mercado e voltamos com os ingredientes de uma bela macarronada.
Para não dizer que fui um zero à esquerda durante todo o feriado, fiz uma sopinha de legumes, simples e honesta - e bem gostosinha.

domingo, 26 de junho de 2011

Menina de Ouro

Revi "Menina de Ouro", filme do Clint Eastwood.
Desde que vi o longa há anos, estava tomando coragem para encarar mais uma vez.
Sofri muito no cinema com esse filme, entrei na sala sem saber o quanto ele é tremendamente triste.
E tremendamente bom: uma história bem contada, boa direção, ótimas atuações do trio central (Clint, Morgan Freeman e Hilary Swank), uma fotografia incrível com tantas sombras.
Vi o filme, chorei várias vezes. Depois que acabou, pus o trailer e chorei mais com as imagens do que tinha acabado de assistir.
Histórias de pai e filho me pegam de jeito.
Aqui se encontram um pai que sofre pelo afastamento da filha biológica e uma garota que naturalmente se apega ao treinador, que lembra seu pai.
Ambos se apegam, o que torna a tragédia do final ainda mais dolorosa para todos, os personagens e nós, que somos obrigados a acompanhar o tormento.

Comer, rezar, amar

Não gostei de "Comer, rezar, amar", filme de Ryan Murphy.
Depois que acordei para viagens, achei que ia ficar bem interessado na trama sobre uma mulher que após o divórcio sai pelo mundo em busca de equilíbrio.
A mulher é Júlia Roberts, tão simpática e atrante como sempre, fazendo as vezes de uma escritora em busca de algo que não sabe bem o que é.
Sua jornada inclui passagem pela pela Itália, Índia e Indonésia.
Gosto um pouco da sua passagem pela Itália, no momento mais solar e descontraído do filme.
O resto é um amontoado de frases de efeito, cenas bobinhas e mensagens edificantes.
O final feliz é tão escancaradamente artificial que estraga alguma coisa mais legalzinha que tenhamos visto antes.
Javier Bardem, o mocinho, é sempre bom vê-lo em cena.
Mas fazer um brasileiro com aquele sotaque carregado, putz...

sábado, 25 de junho de 2011

Simplesmente Martha

Gosto de filmes sobre comida.
Mesmo aqueles em que a cozinha não está em primeiro plano, mas que trazem uma cena importante, ou apenas referência à gastronomia.
Se um filme é bom e ainda por cima seu tema está associado à comida, maravilha.
Por isso não é de estranhar que eu tenha gostado bastante de "Simplesmente Martha", da alemã Sandra Nettelbeck.
Tinha visto antes a refilmagem americana com Catarine Zeta-Jones, "Sem reservas", que também gosto muito, mas é um filme diferente.
Embora a história seja praticamente a mesma, são climas, abordagens, tipos e ênfases diferentes.
Gosto dos dois, embora o original alemão tenha me parecido mais abrangente...
E a comida neste parece ter um papel mais relevante que naquele.
Também acho que a personagem é mais sutil e menos direta nas situações apresentadas, o que deixa o filme mais subjetivo e complexo.
Por fim, no original, o personagem do chef italiano é imensamente cativante e tem uma força mais intensa, sem deixar de convencer com um tipo mais humano e real.
Aaron Echart é ótimo ator, mas seu personagem equivalente soa mais glaumoroso e, por isso mesmo, mais artificial, ao menos na minha leitura.
Vi a versão americana duas vezes e gosto muito do tom de comédia romântica, com momentos dramáticos.
O original é quase um drama, pesa mais nas dificuldades da personagem.
Ambos são comédia romântica com final feliz.
O americano reduziu os personagens e focou mais no trio central.
As duas são opções e tem seu atrativo.
Nas duas a comida tem um papel importante na composição dos personagens.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Edifício Master

Ver um filme honesto como "Edifício Master", de Eduardo Coutinho, é uma experiência bem interessante.
Cada pessoa traz uma história, um mundo, e o diretor consegue aqueles depoimentos apenas ligando a câmera e futucando.
Intervém o mínimo possível.
Ver um desses documentários de Coutinho é quase ver o filme e o making of juntos.
Entre um depoimento e outros vemos a equipe de produção e filmagem entre os corredores do edifício, o próprio diretor no elevador e por aí vai.
Aqueles depoimentos, um depois do outro, mostrando uma riqueza de material, de experiências e histórias tem um impacto forte no conjunto.
Um tipo de filme que deixa a gente se sentindo melhor, no fim das contas, porque parece que a gente conheceu um pouco mais a complexidade do mundo.
E se constata como as pessoas tem experiências parecidas e ao mesmo tempo únicas.
Não é uma contradição.
Penso na frase de Terêncio: "Eu sou homem, tudo o que é humano não me é estranho”. A frase tem a ver com isso.
Dentro dessa experiência humana, cada um de nós tem uma jornada única, personalíssima.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

São João

São João, bombas e canções típicas lá fora.
Aproveito o feriado e o intervalo entre doses de licor para ver alguns filmes.
É o que melhor faço desse feriadão bem-vindo.
Entre uma mordiscada na patroa, outra no bolo de aimpim, vão passando filmes atrasados, algumas obras que não vi em tempo no cinema.
Junto com meu livro de cabeceira atual, não sei de diversão melhor.

Vênus

É uma satisfação ver Peter O'Tool atuando.
Em "Vênus", de Roger Michell, ele está com 75 anos e entrega um trabalho cativante, forte.
Seu personagem é Maurice, um ator que se distrai entre os papéis que ainda interpreta (sempre de personagens em fim de vida) e o passatempo com os amigos de sua idade.
O mais frequente deles é Ian (Leslie Phillips), cuja sobrinha Jessie (Jodie Whittaker), mocinha do interior, vem visitar e passar uns dias depois de um aborto.
A garota vai bagunçar a rotina dos dois.
O tio-avô odeia a novidade. O Maurice de O'Tool cai de amores pela pequena.
Gosto muito do personagem do O'Tool, que compara a menina ao quadro de Diego Velázquez, “A Toalete de Vênus”, e passa a chamá-la de Vênus.
Maurice é uma criança grande, vivendo toda a ternura e o desejo que Jessie lhe provoca.
Gosto do filme como um todo e gostei da menina reproduzir o quadro de Velázquez no final.
Não diria que é uma obra-prima, mas assiste-se "Vênus" com prazer.

Caro Francis

É um deleite rever a figura iluminada de Paulo Francis.
Mesmo num documentário problemático como "Caro Francis", do diretor Nelson Hoineff.
Mesmo gostando de Francis como eu gosto dá pra ver que se trata de um retrato parcial de tal forma que irrita.
E não é um bom trabalho já que a maioria das imagens são de arquivo - e nisso há vasto material na internet.
Os depoimentos vão numa direção, difícil entender as escolhas de Hoineff, que passa um pedaço do filme mostrando o amor de Francis por gatos.
Ou a reconstituição de sua briga com a Petrobrás que toma quase todo o terço final do longa.
O filme tem momentos gratificantes - mais relacionados à persona de Francis, que ao talento do diretor em apresentá-lo.
O filme termina deprimente.
Acho ruim numa pessoa engraçada e vibrante como ele, cuja vida profissional foi um acontecimento para imprensa brasileira.
Um filme para esquecer, triste conclusão para um trabalho que retrata um personagem inesquecível.

A erva do rato

Vi o último filme do Júlio Bressame, "A erva do rato".
A sensação não era de um filme ruim.
Outro dia vi "Anticristo", aquilo é filme ruim, duro de tragar.
"A erva do rato", não diria que é ruim, porque sentia alguma aproximação, talvez por culpa de Machado de Assis que empresta dois contos para o diretor desmontar e montar seu longa metragem.
Li um deles, "O esqueleto", achei o conto incrível.
O filme é quilômetros menos bom.
Mas há coisas interessantes no caminho.
Agora o filme é paradão de propósito, não se preocupa em não ser.
Para a câmara em algum lugar e lá fica, sem pressa nenhuma.
Parece querer provocar o espectador ou dizer para ele que "f...".
Não sei se gosto. Gosto de algumas passagens sem diálogo, de alguns momentos de texto lido, alguma coisa dessa câmara parada formando um quadro.
E gosto bastante da nudez da personagem da Alessandra Negrini, do jogo sensual, do rato no lençol.
Não gosto tanto de Selton Melo aqui.
Foi o primeiro filme do Bressame que eu vi.
Pode ser falta de entrosamento com o autor e o estilo.
Nos momentos que o filme é bom, é um bom estranho.
Não sei se gostei, mesmo das cenas que mais me chamaram a atenção.
Mas é o tipo de filme que poderia ver de novo para uma revisão, o que mostra que pode haver um diálogo meu com ele maior, o que mostra que há salvação.
Diferente de filmes como o "Anticristo", do qual quero distância.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Meia-noite em Paris

Vi ontem o novo Woody Allen, "Meia-noite em Paris".
É mais um filme saboroso de um diretor que não cansa do seu ofício.
E mantém um nível de trabalho, para o meu gosto, muito acima da maioria dos filmes feitos por aí.
Allen volta a ter um protagonista escritor e volta a utilizar de elementos fantásticos.
O roteirista americano Gil Pender (Owen Wilson) visita Paris com sua noiva Inez (Rachel McAdams) num momento em que pensa deixar a vida e o trabalho que tem em Hollywood para trás.
Amante do passado, seu desejo é ficar em Paris e escrever seus livros.
Esse desejo ganha força quando Gil pega uma carona que o conduz à Paris dos anos 20, época que considera ideal.
Ele se depara com alguns dos seus ídolos, personalidades da literatura, da música, do cinema e da pintura daquele período... Pablo Picasso, Ernest Hemingway, Salvador Dalí, Scott Fitzgerald, Cole Porter e T. S. Eliot.
Curioso como um filme cheio de citações e alusão às artes encanta por coisas bem mais relacionadas ao dia-a-dia, à miséria de todos nós, ao tédio e à busca de encontrar o que nos satisfaz na vida.
Não demora para Gil descobrir que seu noivado é um erro.
Inez, a noiva, parece mais afeita à badalação e aos galanteios de um professor, que ela encontra na cidade.
Os diálogos com os personagens do passado são o ponto alto da história.
Bem afeito ao estilo de Allen, há piada com todos. A cada novo personagem, uma tirada.
O filme é uma comédia, mas bem no estilo do diretor, com toda uma crise em processo, uma drama para ser equacionado.
Ao fim, é um filme simpático, bom de ver com a namorada do lado, sem deixar de levantar questões interessantes.

domingo, 19 de junho de 2011

Deixe-me entrar

Eu reclamo que estou velho, que os filmes não me emocionam como antes.
Contudo, quando estou diante de um bom filme (de verdade), a triste constatação é que talvez esteja vendo os filmes errados.
Ou realmente são poucos os bons filmes ultimamente.
"Deixe-me entrar", do diretor Matt Reeves, é o exemplo bom.
Lindo filme de amor (ou amizade), disfarçado em história de vampiro.
(E é melhor esquecer que é história de vampiro, esse não é o ponto principal aqui.)
O ritmo do filme é lento, o que é ótimo, porque as coisas são mostradas sem a pressa e o passo de videoclipe de 10 entre 10 filmes atuais.
A história começa com um atendimento de emergência: um homem sofre um acidente, é levado ao hospital, e seu estado terrível provoca uma investigação policial.
A história retrocede duas semanas.
Conhecemos então Owen (Kodi Smit-McPhee), um garoto solitário e vítima de agressão dos colegas da escola.
Começa a reagir a essa agressão quando inicia amizade com Abby (Chloe Grace-Moretz), recém chegada à vizinhança e aparentemente uma menina comum de 12 anos.
O problema é que Abby não é uma menina comum.
Ela também vive isolada, não tem amigos, e se descobre que, sim, ela precisa de sangue para viver.
Ela vive com o que parece ser seu pai, um homem obrigado a providenciar esse sangue.
Não demora para a pequena e quieta cidade ter o primeiro assassinato relacionado à chegada dos novos moradores.
Há uma investigação em curso, há a escola e os pais de Owen em processo de separação.
Porém, o centro de toda a atenção é a relação que se estabelece, pouco a pouco, entre Abby e Owen.
Mesmo quando ele descobre que a pequena não é exatamente uma menina, não consegue se afastar dela. Tão pouco Abby consegue ficar longe de Owen.
Essa versão é um remake de um filme sueco, que por sua vez tem por base um romance.
Pelo que li, o original é ligeiramente melhor, embora a refilmagem não faça feio.
Eu pretendo ver o original e até ler o livro.
Mas dificilmente vou esquecer o impacto bom que esse "Deixe-me entrar" me causou.
Quero esse filme para mim.

Megamente

Apenas porque acho bacana registrar: me diverti muito assistindo à animação "Megamente", ao lado da filha pequena.
Bem humorado (e movimentado), o filme faz uma espécie de paródia com a história do Superman.
A diferença é que nessa versão, o bandido derrota o herói e não sabe o que fazer quando se encontra sem um desafio à sua altura.
É facil demais - e chato - ter a cidade sob seu domínio.
É então que ele resolve criar outro herói para retomar os embates e o sentido de sua vida.
O problema é que nesse meio tempo o vilão se apaixona pela mocinha e o herói criado não sai bem como se imaginava.
O filme é uma divertida inversão de posições com um texto muito engraçado e bons intérpretes defendendo seus personagens.

X-Men Primeira Classe

Não vou escrever uma tese sobre o assunto - a preguiça me impede.
O fato é que não empolguei com "X-Men Primeira Classe", de Matthew Vaughn.
Não é novidade que tive uma infância farta na leitura de quadrinhos, de todos os tipos.
Conheço razoavelmente quase tudo de relevante sobre os universos Marvel e DC Comics - e Disney, Turma da Mônica etc.
E gosto da trilogia de filmes dos X-Men, os dois de Bryan Singer e o último de Brett Ratner (meu preferido é o segundo).
Essa prequel tem bons atores jovens como a minha queridinha Rose Byrne (na foto acima), James McAvoy e Michael Fassbender, que estão realmente muito bem.
A história ajuda, o filme se alimenta de um tema explosivo por si só, o período da guerra fria, em que se corria um sério risco de hecatombe nuclear.
Mas devo estar ficando velho para esse tipo de filme.
Geralmente gosto muito do Kevin Bacon, o homem mau da vez. Mas não viajei no seu nazista e depois vilão megalomaníaco. Uma coisa bacana dessas histórias é entendê-las como uma metáfora do mundo real, com temas como aceitação de diferenças etc.
Esse personagem do Kavin Bacon parece preso à ficção, é caricato demais para o meu gosto.

Queria ter visto "Meia-Noite em Paris", mas o horário era ruim para mim que ainda estava convalescendo de uma gripe chatinha.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Os homens que não amavam as mulheres"

“No banheiro, ela se apoiou contra a porta e tentou juntar os pensamentos. Estava mais abalada do que achava que devia ficar. Depois, lentamente tomou consciência de que sua bexiga estava a ponto de explodir e de que um banho não era apenas um bom conselho mas uma necessidade após a noite agitada. Quanto terminou, entrou no quarto, vestiu uma calcinha, um jeans e uma camiseta com a inscrição Armageddon was yesterday - today we have a serious problem.”

Gripe chata, dores pelo corpo, moleza no juízo...
Ainda assim fui até o fim com a leitura de "Os homens que não amavam as mulheres", obra de Stieg Larsson.
Não sei se o que vou falar depõe contra mim, o fato é que gostei bastante.
Vários pontos de contato me tornam simpático ao livro
Não vejo problema em se tratar de livro consumido em grandes números, muito vendido, e que rendeu um filme de sucesso no seu rastro.

"Os homens que não amavam as mulheres" conta a história de um famoso jornalista sueco contratado para escrever uma “crônica familiar” sobre um poderoso grupo empresarial de seu país.
Na verdade, o objetivo da missão era desvendar um mistério.
Uma das herdeiras do grupo desapareceu 30 e tantos anos antes, quando tinha 16, em circunstâncias até hoje inexplicadas. Suspeita-se, naturalmente, de assassinato.
O personagem central, Mikael Blomkvist, é repórter investigativo e sócio numa revista.
O bastidor dessa atividade consome boa parte da história contada.
É bacana ver o esforço do autor, Stieg Larsson, em apresentar um material razoavelmente pesquisado, bem escrito e com coisas realmente interessantes a dizer.

O seu ponto de partida e de chegada é o mesmo de outros autores policiais, com investigação, perseguição a um bandido, solução de um crime insolúvel. Há uma série de informações que denotam o tamanho do trabalho que Larsson teve para escrever.
Acho um grande feito ele ter conseguido, por exemplo, manter a sensação de suspense pairando em todas as páginas até onde foi possível.
O livro arrola romance, sexo, relações sociais, conflitos éticos e um enigma bastante bem enunciado. Não há como não seguir as pegadas e continuar ligado.
A anti-heroína, Lisbeth Salander, é uma hacker do tipo mais improvável. Tem uma aparência punk e uma ferocidade constante convivendo com seu tremendo talento para invadir sistemas e obter qualquer informação.
Salander e Blomkvist são os personagens centrais a puxar o novelo de todo o interesse na trama.
E Larsson foi esperto. Conduz histórias paralelas para esses dois personagens só se encontrarem num pedaço bem adiantado da história.
Mas nesse ponto já estamos torcendo por um e por outro.

Admirador de Edgar Allan Poe, eu não resisto a uma trama policial. Do tipo que é preciso olhar uma questão de diferentes ângulos para ir avançando na sua elucidação. Especialmente, quando tudo é explicado pela lógica e pelo encadeamento dos fatos.
Esse é o tipo de narrativa que Larsson nos fornece com competência.
Há, claro, algumas coisas de que não gosto.
Por exemplo, a gente está bem acostumado a ver coisas improváveis em diversas obras. Putz, mas Larsson, com sua personagem hacker por vezes abusa do inverossímil.
Não dá para exemplificar nesse caso, porque a força do romance está no seu efeito surpresa. Mas a forma como no trecho final a hacker consegue manipular certas informações é forçação de barra.

Posso parecer um chato de galochas, mas também achei que tem personagens demais.
A família responsável pela trama principal do livro é imensa e dá para se perder fácil entre tantos membros.
A favor de Larsson, diria que ele não perde o foco de quem realmente interessa. Porém não diminui em mim a sensação de que há excesso de gente desimportante que aparece e some.
O livro traz uma (longa) nota introdutória para cada personagem novo, cada situação apresentada. O recurso faz sentido para situar o leitor, mas há exagero nisso, sem falar que incha a obra com material acessório.
Por outro lado, há elementos menores que tem uma função: dão charme ao relato e criam uma aproximação entre narrativa e leitor. Por exemplo, quando o autor fala em detalhes sobre o que os personagens estão comendo, o que preparam na cozinha para receber uma visita, uma frase que estampa numa camisa ou um gato que se enrosca no sofá se protegendo do frio.

Trata-se de um livro que manipula a trama para obter o máximo da atenção do leitor - e consegue.
Não vejo problema nesse caso, principalmente se consideramos que sempre, nos melhores livros e filmes, o percurso é sempre mais interessante que as respostas que nos são apresentadas.
E nem acho que seja o caso aqui, porque o final de "Os homens que não amavam as mulheres" é bem satisfatório considerando a coisa toda.

_________

Obs.: quando o amigo Hederverton me enviou os livros dessa trilogia, calculei ler outras coisas no intervalo entre um e outro - até para dar uma respirada. Mas não é o que está acontecendo. Mal terminei o primeiro volume, corri para a edição seguinte: "A menina que brincava com fogo" e já caminho pela página 70 e tantas.

Deus tenha piedade da minha alma.
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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Livro

Em termos de leitura, sou fácil de seduzir.
Uma boa história, uma trama inteligente, um nível de texto agradável e coerente e, voilá, estou no papo.
O autor Stieg Larsson, de "Os homens que não amavam as mulheres", foi buscar inspiração na literatura policial e, claramente, nos filmes de ação/espionagem.
Não me importo com isso. Apesar de que reconheço: gosto mais do mecanismo passo a passo do deslindar da trama, a coisa mais intelectual, que da ação propriamente (perseguição, fuga, luta, ameaça, assassinato).
Larsson apresenta dois personagens principais, nos faz gostar deles (apesar de opostos) para só no terço final da história juntar os dois. Boa.
É leitura para passar o tempo, mas com valor, não nego.
E agora, me aproximando das 500 páginas, estou curiosíssimo para descobrir, enfim, que é o assassino.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Novela

Então saí com uns amigos no sábado e numa determinada hora a conversa foi parar na novela de Gilberto Braga.
E, de fato, a novela está muito boa mesmo.
Falávamos como os vilões do autor são sempre vilões de verdade, não esses arremedos de coisa nenhuma, esses bonecos sem graça que temos visto por aí.
Até o Fagundes, quando faz um papel um pouco diferente, mostra que tem o que contribuir - porque, putz, ele tem feito o mesmo papel na TV desde "O dono do mundo".
A nota triste é que a novela vai caminhando para a sua conclusão.
E a substituta é de Aguinaldo Silva - ninguém merece.

Janela

Hederverton está certo.
No outro blog, eu escrevia muito mais sobre assuntos pessoais.
Não que não seja bacana registrar observações sobre livros, filmes e cozinha (este vem minguando, é vero).
Mas falar sobre si, os amigos, a família, o mundo, dá uma sensação mais pessoal e acolhedora e deve agradar mais o leitor.
O problema é que esses meus blogs tem um antes e depois.
Depois que o comunista do Fraklin disse que eu "só falo de vinhos, filmes e mulheres" e esqueço os buracos da minha rua, passei a ser mais seletivo do que posto aqui.
Não me chateio com ele. É um amigo fiel.
Mas repensei essa coisa de sair comentando tudo.
É meio bobo isso.
O fato é que não vou falar muito mais aqui sobre outros assuntos.
Porém, não vejo mal em de vez em quando abrir uma janela.

domingo, 12 de junho de 2011

Scott Pilgrim contra o mundo


Engraçado isso.
Não sou mais o garoto que era, que gostava dos filmes movimentados.
Não sei se tem a ver o fato de ver muitos filmes, como se fosse cada vez mais difícil me entusiasmar de verdade.
Tendo a achar que é porque não há mesmo tantos filmes bons sendo feitos.
Quando aparece alguma coisa mais inspirada, me animo.
Foi o que aconteceu com esse "Scott Pilgrim contra o mundo".
O filme é todinho feito para emular as etapas de um vídeo game com grande aceno à estética dos quadrinhos.
Porém quem não gosta de quadrinho ou de games tem grandes chances de gostar do filme, porque o principal é que o diretor conta uma história com começo meio e fim.
Ninguém sai do filme achando que os autores desrespeitaram sua inteligência.
A história tem por base uma idéia simples e muito bem explorada: um rapaz encontra a garota dos seus sonhos e para ficar com ela vai ter que enfrentar seus sete ex-namorados do mal.
Cada luta com um ex-namorado é como uma fase do game.
O bacana é que temos todo um contexto, um envolvimento amoroso, uma original apresentação de personagens e o filme não se resume a porrada.
As lutas são divertidas e estão ali, mas parecem querer dizer que nada do que se vê é sério, é tudo farra. Ninguém se machuca de verdade, e os personagens interropem uma luta no meio para fazer um comentário banal, brincar... Tudo descontraído e muito bem feito.
É filme para jovens que se amarram em games e garotas que gostam de histórias românticas e descoladas. É principalmente um passatempo inspirado que usa o aspecto e os modos modernosos para contar uma história romântica.
A temática, os efeitos especiais e o tratamento de aventura tem tudo para conquistar fácil a meninada.
Se o linguajar e alguns temas tratados não fossem adultos (palavrões, drogas, papo sobre transa, envolvimento gay), deixaria minha pequena assistir junto.
Mas ainda não é para uma cabecinha de nove anos.
Quem sabe daqui há mais uns seis ou sete?

P.S.: os personagens são um barato e com bons jovens atores em sua defesa. A mocinha é a bonitinha Mary Elizabeth Winstead, de "À Prova da Morte" e "Duro de Matar 4.0". E Scott é Michael Cera, o garoto bacana que fez sucesso em "Juno" e aqui também está ótimo.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O vencedor

Vi outro dia "O vencedor", achei bem interessante.
Christian Bale mais uma vez, caramba, faz um excelente trabalho.
Seu personagem é complicado, um ex-lutador de boxe, viciado em crack, meio bandido, daquele tipo que ganha a platéia nos primeiros minutos.
Mark Wahlberg é o vencedor do título, gosto dele, mas ficam claras suas limitações como ator diante de Bale.
Outra que sempre me chama a atenção, e aqui também está acima da média, é Amy Adams.
É um filme sobre boxe e também um filme sobre uma família desajustada. Essa parte mais focada na família é divertida.
O jovem boxeador de Wahlberg é claramene explorado pela mãe empresária e sofre com o treinamento precário do irmão viciado.
Wahlberg sabe que precisa mudar as coisas, quer mudar, mas não consegue bater de frente com a família.
Não consegue até começar um namoro com a garçonete interpretada por Amy Adams.
Ela vai ajudá-lo a colocar a carreira em outro rumo e isso, como se pode imaginar, traz todo tipo de problema com a mãe e o irmão.
O filme é meio cru, as lutas são realistas, não tem tanto glamour como é comum nesses filmes.
Em geral me chateia um pouco essas histórias de superação, com finais felizes (estraguei?).
Mas há umas experimentações, umas misturas que me parecem que funcionam bem nesse filme.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Os homens...

Primeiras impressões da leitura de "Os homens que não amavam as mulheres":
É verdade, o livro vicia.
Ele tem algumas características que reconheço em outros livros que vendem muito, e que parecem terem sido feitos justamente para vender muito.
Por exemplo, tudo que aparece na história é explicadinho para ninguém ficar boiando. Esse recurso permite acompanhar a história sem se perder, por mais complicada (e confusa) que ela fique.
Mas isso, às vezes, irrita.
A história é interrompida o tempo inteiro para que cada personagem (e são muitos!), cada situação importante, cada detalhe, receba sua (longa) nota explicativa.
Em alguns momentos, isso é feito de forma mais natural. Outras vezes fica claro e incômodo o artifício.
Não é um livro mal escrito. Aliás, pelo volume que ainda falta, é uma tremenda demonstração de talento ter fôlego para escrever tanto mantendo sempre o mesmo pique.
Gosto de uns personagens mais que de outros. Normal.
É só um registro de primeiras impressões. Voltarei ao livro mais adiante.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Livros

Minha pequenina descobriu que adora ler.
Acompanhando esse processo, percebi que é preciso ter cuidado com isso.
Por exemplo, a mãe mandou pra ela uma edição que contém os dois livros de Lewis Carroll: "Alice no país das maravilhas" e "Alice no país do espelho".
Ela leu o primeiro com alguma dificuldade (são muitas páginas e letrinhas pequenas) e empacou no segundo.
Por não ter saco para continuar a ler, se sentia mal (achava que a mãe ia ficar chateada) e ao mesmo tempo não partia para um outro livro enquanto não conseguisse terminar o que estava incompleto.
Felizmente eu percebi o drama.
Resolvi assim: expliquei pra ela que leitura tem ser gosotosa, ela tem que querer. Não é remédio. Disse que ela tinha liberdade para mudar de livro se acontecer de não dar gostar de algum. Tem vezes que um livro não desce - é porque ela não está pronta para ele ou ele não está pronto para ela.
De alguma forma, ela entendeu.
O fato é que se sentiu desobrigada e depois disso leu com entusiasmo várias obras: "Emília no país da gramática", "O menino no espelho", "O pequeno príncipe", etc.
Recentemente, ela me chegou em casa com um livro que ganhou de um amigo da mãe.
Fui ver, era um livro sobre namoro. Disse para ela que um livro com aquele tema eu teria que ler primeiro para me certificar de que era apropriado.
Como não tive tempo pra cumprir minha obrigação, comprei um outro livro para ela não ficar no prejuízo.
Comprei "Judy Moody Salva o mundo" que já é bacana desde a capa.
Gostei muito da sinopse que li, a história é sobre uma menina na mesma faixa etaria da minha filha que se envolve em situações onde aprende sobre o ambiente, preservação de recursos naturais e animais ameaçados de extinção. É um papo ecológico que está na moda, porém não sou idiota de ignorar a importância do assunto - principalmente para uma criança que está formando repertório de vida.
O mais importante é que o livro é lúdico e trata de maneira aventuresca o dia-a-dia da menina na escola, com os amigos e com a família. "Judy Moody é uma típica menina de 9 anos, estudante da 3ª série, muito segura de si, que adora uma aventura e é famosa por suas mudanças de humor", diz o resumo.
Melhor minha pequena aprendendo sobre natureza (e curtindo aventuras de uma menina da idade dela) que acompanhando histórias melosas sobre romance.
Cada coisa no seu tempo.

P.S.: o mais bacana é que ela está adorando Judy Moody. Em dois dias, já leu quase metade do livro. Depois de cada leitura tem que vir correndo me contar o que se passou até ali. Seus olhos brilham de entusiasmo. E os meus também...