sexta-feira, 15 de abril de 2011

Resenha

Minha esposa, que está com todo o gás no mestrado, me trouxe um texto sobre resenhas. Chama-se “A resenha: definições, tropeços e armadilhas”, de Cláudia Nina. Como fala sobre crítica de livros em suplementos de jornal, ela entendeu que eu ia me interessar. Entendeu certo. É um texto descomplicado, sem grandes pirotecnias (como se espera de uma autora acostumado a escrever para público amplo). Contudo, e para variar, fiquei cá conversando com meus botões da blusa. Por exemplo, Cláudia diz que é preciso ler "bem lido" o livro com que se vai trabalhar. Ok. Por outro lado, cita Roland Barthes para endossar seu argumento de que não precisa ler "palavra por palavra" de todas as obras que chegam à mão, depende da obra. Até concordo. Tem livros cuja leitura a gente acelera em umas partes e se demora mais em outras, pura necessidade de ir até onde o prazer está. Fiz isso e faço de vez em quando - lembro bem de "O Processo" de Kafka, que intercala momentos bem legais com passagens chatonildas. Mas não me entusiasmei muito quando o texto de Cláudia deixa de descrever o trabalho do resenhista e passa às dicas do bem escrever. Por exemplo, o conselho de evitar dar opiniões pessoais, o "eu isso", "eu aquilo". Isso é bem discutível. Alguns dos melhores textos que tenho lido ultimamente (alguns são traduções de texto de língua estrangeira) fazem exatamente isso, o autor se incluir na paisagem que está descrevendo. Parece-me um recurso forte para aproximar o texto do leitor e deixar assuntos, às vezes distantes, bem mais próximos de uma experiência que poderia ser nossa. Entendo que o distanciamento tem sua razão de ser. Porém acho legítimo, e até recomendável, conhecer a contribuição e opinião pessoal de quem escreve. Seguindo em frente, Cláudia dá uma lista do que fazer, do que não fazer. Sei da utilidade desses textos de "auto-ajuda", mas desconfio. Por que devo evitar adjetivos, por exemplo? Sempre leio coisas assim de quem quer me ensinar a escrever. Adoro Graciliano Ramos, que é citado 100 em 100 vezes como o evitador maior dos qualificativos. Mas até ele usa bastante (acredite), a questão é que os usa bem. Isso sim faz toda a diferença. O problema não é o adjetivo ou o verbo, é usar bem as palavras. Abusar de adjetivo (como de álcool ou de buchada de bode), obviamente, é prejuízo sempre. Mas essa campanha cega contra as coisas é uma chatice. Poderia falar mais coisas, mas esse meu texto já está longo. Volto outro dia, talvez.

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