segunda-feira, 18 de abril de 2011

São Paulo

Viajo a São Paulo com Eloá e a filha. Estou materializando um projeto de algum tempo. E faço o serviço completo. Vou com Hederverton, amigo, a quem sempre vinculei à cidade. Ele, baiano como eu, foi viver lá há uns bons anos. Discutimos explorar a cidade juntos algumas vezes, por um motivo ou outro não deu certo. Agora vamos. É a terra de Mário de Andrade, um dos primeiros poetas que me despertaram a vida. Sempre gostei muito de Mário. E ele é um cara interessado nas coisas do Brasil, como se sabe. Foi um dos destaques da Semana de Arte Moderna, um desses eventos de tamanho impacto que hoje não seria possível reproduzir. São outros tempos. São Paulo continua sendo o coração industrial do país, conduzindo mais que se deixando conduzir (como diz na bandeira). E atraindo ainda o interesse do país. Abaixo um desses poemas deliciosos de Mário de Andrade:

"Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

('Quando eu morrer quero ficar', Mário de Andrade)"

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