sábado, 20 de agosto de 2011

Novela

Não posso ver sempre novela, nem tenho tanto saco como já tive.
Mas sou um apreciador de boas tramas na TV, ainda mais quando tecidas pelos autores que mais admiro. E Gilberto Braga é um deles.
Não acho que essa novela do Gilberto Braga faz jus ao que costumo esperar dele.
Mas novela é um negócio complicado, não dá pra ter a exigência que se tem de um filme ou uma série, quando a equipe tem um controle maior.
Novela vai mudando ao sabor da audiência, começa de um jeito e vai se transformando com o caminho.
Por pior que seja, uma novela de gente como Gilberto Braga tem um certo padrão de qualidade, uma certa coerência, que faz a gente seguir adiante.
Hoje, o que mais me irrita nas novelas é que todas precisam trazer algumas bandeiras, mostrar exemplos, colaborar com um mundo melhor, atacar preconceitos e denunciar coisas.
Pior que essas obras serem obrigadas a levantar bandeiras é a forma como tudo é feito. Tão pouco sutil como o cada vez mais presente merchandising.
Final de novela costuma ser um troço brochante: os maus são mortos, vão presos, enlouquecem ou ficam sozinhos. Sempre recebem o merecido castigo.
Os bons se casam, são acolhidos, caminham serenos para o happy end.
Tudo muito bem, mas falso, falso.
Não que ao longo dessas tramas a verossimilhança prevaleça. Às vezes o autor vacila, escorrega, cria um artifício que só depõe contra a história (a trajetória da personagem de Glória Pires é um exemplo).
Mesmo com algumas coisas irritantes, há os bônus.
O Leonardo do Gabriel Braga Nunes, principalmente quando esteve solto e aprontando, foi um show.
O banqueiro bandido do Herson Capri poderia ter muito mais cenas, o personagem é forte e o ator mandou muito bem.
O vilão do Thiago Martins foi um achado, ele não um ator iniciante. Já vem de uma trajetória interessante na TV e cinema.
Natália Timberg, grande atriz, nos momentos de maior exigência dramática, botava fácil os colegas de cena no bolso.
Houve alguns atores mais experientes que tiveram participação irregular, embora o talento compense os momentos mais ruins dos seus personagens. Foi o caso de gente como Lázaro Ramos e Camila Pitanga.
Alguns rostos menos conhecidos mostraram um trabalho bem interessante: Giovanna Lancellotti, e sua Cecília, Tainá Müller, e sua Paula, Bruna Linzmeyer, como Leila.
Nessa novela, houve um grupo de atores que apareciam em papéis pequenos e sumiam para nunca mais, em geral assassinados. Desses, a melhor participação foi de José Wilker no início, tão bom quanto seus melhores papéis na TV (e faz tempo que ele não é tão bom assim).
Outros atores em participações mandaram muito bem: Tuca Andrada, Nívea Maria, Milton Gonçalves, Cristiana Oliveira e Lavínia Vlasak são exemplos.
Recursos como o "quem matou", não acho que a novela precisasse disso. Quase sempre aparece mais como artifício para segurar ou atrair audiência. Há muito tempo deixou de ser algo instigante, é apenas repetitivo e aborrecido.
Não dá para falar dos personagens mais chatinhos, isso tinha muito (como os personagens da Maria Clara Gueiros e Ricardo Tozzi).
O bacana na trama do Gilberto é que ele tem muita coisa para contar e a velocidade dos acontecimentos é grande, tornando as tramas ágeis.
Política sempre entra na pauta do dia e a classe A tem sempre um papel importante, mesmo que a abordagem aos ricos seja crítica.
Tem que pensar essa novela quase como um conjunto de histórias separadas que tiveram um grupo de personagens comuns.
Às vezes esses núcleos se comunicavam com a trama principal, mas nem sempre.
E as tramas são tão pulverizadas hoje em dia, que falar de uma trama central nem mesmo é correto.
As tramas paralelas às vezes ganham maior dimensão que a principal, é um jogo, em que a audiência é sempre levada em conta.

E, sim, a Paola Oliveira mostrou que estava à altura de um papel principal. Talento e beleza de diva de cinema.

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