quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Mais sobre "Angústia"

Todos os personagens de Graciliano Ramos em três livros que li são desgraçados. E são livros referenciais em sua bibliografia: "São Bernardo", "Vidas Secas" e agora "Angústia". Não terminei de ler o último ainda, cheguei a um terço da obra, mas já dá pra ter uma noção clara do personagem principal. O que mais tenho gostado nesse livro é que esse protagonista, Luís da Silva, revela um traço de Graciliano que não conhecia: o conteúdo sexual.

Para começar, o seu protagonista é um desbocado. E descreve sem cerimônia as coisas que faz com as moças (e também aquelas que gostaria de fazer). Para o que eu tinha visto do autor até aqui, foi um susto. Mas um susto bom, evidentemente. Porque um artista não tem moldura, escapa delas, e isso é ótimo. Como é bom se surpreender com um velho conhecido. E o mais curioso é que dá para identificar o DNA do autor em toda a "miséria existencial", toda a... "angústia" que vive o Luís da Silva.

Ele vive sozinho lamentando o presente e remoendo o passado. Se apaixona pela vizinha e quebra a cara. Nas primeiras 50 páginas está apaixonado, não se segura, parece um animal. Nas 50 páginas seguintes, tomamos conhecimento de sua desilusão amorosa que o arrebenta e enfurece. Estou na parte em que ele quer a mulher de volta, Marina, com quem quase se casou até ela se interessar por outro. Não sei o que vai acontecer.

Tudo é narrado daquele jeito, sabemos do que se passa pela boca do Luís da Silva, da sua perspectiva e do seu humor de cão. O que significa que tudo pode ter se passado de outra forma, se a gente descontar o ângulo passional do personagem. Não parece que coisa boa espera o personagem até o fim da história. Mas para mim, leitor, o trajeto até aqui está estupendo.

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