Errada dez vezes a minha amiga Marlla. Como não sou conhecido pela paixão pelo futebol, ela achou que eu não me importaria com um livro de crônica esportiva escrito por Nelson Rodrigues. O livro chama-se "O Berro Impresso das Manchetes", com crônicas escritas entre 1955 e 1959 para a Manchete Esportiva. Imagina se esses grandes escritores são menos geniais em qualquer coisa que escrevam. Nelson sempre esteve nessa categoria. Gosto dele sempre e agora também direi por aí que gosto dele igualmente na crônica de esporte. E por que não gostaria? (é outra coisa, mas do mesmo jeito estou me divertindo com os textinhos sobre a copa da África do Sul escritas diariamente pelo Veríssimo no Estadão). Nelson é incrível. Comecei a ler as primeiras páginas e o prazer foi imediato. Algumas frases dele:
Em 1911 ninguém bebia nem um copo d'água sem paixão.
Se entra um gol adversário, ele (o torcedor rubro-negro) se crispa, ele arqueja, ele vidra os olhos, ele agoniza, ele sangra como um César apunhalado.
O tempo é uma convenção que não existe nem para o craque, nem para a mulher bonita. Existe para o perna-de-pau e para o bucho.
Em 1920 nenhum sanduíche poderia aparecer, num reservado de imprensa, sem perigo de vida. Era acometido por todos os lados, sumariamente.
*
Como não gostar de Nelson Rodrigues? Sua crônica sobre o juíz que foge vergonhosamente depois de uma tapa estalado no rosto é uma pequena jóia. É um pequeno tratado sobre a covardia de todos nós. E sobre a hipocrisia de todos nós. Esse "O Berro..." é um livro grande, volumoso. Vem muita coisa boa por aí.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
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Que legal que vc tá curtindo.
ResponderExcluirMas no próximo post escreve algo do tipo: "Minha amiga Marlla só me empresta livros bacanudos, como O Berro...".
:)
Boa leitura!
Bjs
Acho que vai ser nessa linha mesmo. Vc merece, caderninho... Tô adorando.
ResponderExcluirNelson é fantástico!
ResponderExcluirAs crônicas dele são sempre sobre personagens, sobre a experiência humana... futebol é quase um que apenas um pretexto...
Concordo!
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