terça-feira, 14 de setembro de 2010

Distrato

Minha pequenina, de oito anos de idade, retornou de um período de cinco dias com a mãe que mora em outro Estado. Mantive a característica elegância, mas confesso que senti ciúmes.

Não por ela ter ido ver a mãe que não via já há uns bons meses. Acharia cruel ela não querer, não suspirar de saudades da mãe. Quem não tem amor à própria mãe, desconfia-se que deve ser uma bela peça. Minha pequena, ao contrário, foi ao encontro com justificado ardor filial, e lá ficou na trincheira inimiga por longos cinco dias.

O que matou esse pai velho e o último romântico da terra, foi a quebra de uma promessa. A pequena prometeu telefonar todos os dias enquanto estivesse ausente. Acreditei. No entanto, ela ligou três vezes.

E olha só: no primeiro dia, quis saber se estava executando bem a receita de arroz que ensinei. No segundo dia, perguntou se o carregador do seu celular estava em casa. No terceiro e último, avisou que já estava retornando, queria saber se eu estava em casa para recebê-la.

Nenhum telefonema com rasgos de saudade do pai, nenhuma declaração de amor eterno, nenhuma promessa de nunca mais se separar por tanto tempo.

Inevitável conclusão: ela não me ama, passou definitivamente para o lado negro da força.

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