terça-feira, 22 de março de 2011

Sobre jornalismo

Terminei o livro "O jornalista e o assassino", de Janet Malcom. A primeira coisa de tudo, é que é um puta texto. E é também uma boa demonstração de como se constrói argumentos em favor de uma assertiva. Janet enuncia sua tese e vai apresentando, tijolo por tijolo, as peças que fizeram ela chegar até lá. A conclusão não é boa para os profissionais da área, diz que jornalistas usam conscientemente a boa fé de suas fontes em proveito próprio (dele, do jornalista).

Penso que é uma afirmação que tem uma consistência maior aplicada ao pano de fundo dos Estados Unidos. Por lá - e diferente daqui - não são poucos os profissionais que vivem de escrever livros de não-ficção, longos artigos e reportagens que exigem o contato continuado com pessoas diversas. Esse é um mercado forte naquele país que, penso, só se fortaleceu depois que estes best-sellers passaram a também movimentar sets de filmagens.

O livro de Janet toma como tema a relação jornalista-fonte. A história que a inspirou causou grande repercussão nos Estados Unidos. Um médico bem sucedido é condenado pelo assassinato da esposa grávida e das duas duas filhas. Um conhecido jornalista decide escrever um livro sobre o caso. Consegue acesso irrestrito ao condenado, tornam-se íntimos, tratam-se como amigos, trocam correspondência, uma relação que dura mais de quatro anos.

Quando o livro é publicado, o médico esperava uma obra dedicada a apresentar sua versão dos fatos e afirmar sua inocência. Não é o que acontece. O livro descreve o médico com termos fortes e não tem dúvidas de sua culpa. Palavras como "frio", "cínico" e "doente" são algumas das mais leves que aparecem ao longo do texto.

Como se poderia esperar, o médico processa o jornalista. O livro de Janet acompanha o caso, examinando por diversos ângulos essa relação.

É uma boa discussão. E muito mais complexa do que parece à primeira vista. Apesar da tentativa de fazer um relato honesto - exitoso, na minha opinião -, não há dúvida de qual é o lado de Janet. Sua tese, nas primeiras linhas do livro, não deixa margem à dúvida. E é muito interessante acompanhar sua trajetória.

É curioso como, com frequência, a autora abandona o relato de sua matéria para compartilhar com o leitor as dúvidas e crises que foram a assolando pelo caminho. O posfácio também é parte importante da obra, embora seja um relato à parte, e dá espaço grande a essas reflexões da autora.

Foi um dos melhores livros sobre a atividade do jornalista que me chegou até as mãos.

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