quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

As invasões bárbaras

Com muita satisfação, revi o filme "As invasões bárbaras", de Denys Arcand, para acompanhar Eloá. Fiquei pensando sobre o sistema de saúde canadense, um país de primeiro mundo como se sabe. Quem já viu o filme deve lembrar que o personagem central, um professor, passa por um tratamento de câncer e é tratado no sistema público. O filho é rico, tenta levá-lo para se tratar nos Estados Unidos, em vão. O velho (nem tão velho assim) é ateu, comunista e "lutou pelo sistema de saúde público". Mesmo que isso lhe custasse a vida, não ia correr para um atendimento particular no país que critica justamente por favorecer apenas quem pode pagar. É importante dizer que para o professor vale mais a pena ficar em seu país rodeado dos amigos e da esposa (e das ex-amantes). Diante disso, o filho bem aquinhoado faz o que pode para dar conforto ao pai durante o tratamento. Isso inclui subornar o sindicato dos profissionais de saúde e a direção do hospital para dar condições melhores de estadia ao paciente (engraçado que a reação da diretora do hospital é exclamar que a oferta de dinheiro é um absurdo - "O senhor pensa o quê? Que estamos no terceiro mundo!" - mas aceita a grana). Li alguma coisa sobre esse sistema. No Canadá, o serviço é público para todos e parece funcionar sem problemas. Os poucos planos de saúde com fins lucrativos só podem dar cobertura ao que não é oferecido pelo sistema nacional, como cirúrgias cosméticas e apartamentos melhores em hospitais. Li o depoimento de uma brasileira que vive naquele país e diz que o atendimento tem sido satisfatório. Um médico fala que o sistema de saúde canadense é uma conquista que nenhum político ousa propor a abolição ou uma mudança para qualquer outra forma. Seria uma medida extremamente anti-popular. As pessoas apóiam firmemente o sistema e querem mantê-lo. Tudo muito diferente de nosso modelo, e até do americano, onde prevalecem os planos de saúde com fins lucrativos. Obama briga para mudar as coisas lá no norte. Até outro dia, os EUA tinham 45 milhões de pessoas sem plano de saúde. Lá, como aqui, é para se preocupar mesmo. Aqui então...
Importante dizer que o filme não trata dessa questão. Trata desse homem mais velho, da relação com seus amigos, com seus dois filhos, com as mulheres que amou. Difícil descrever o que se passa. Não há um plot exatamente, pelo menos não fácil de descrever em poucas palavras. A história acompanha os dias finais de tratamento do câncer e tudo que advém em torno disso. O filho tem crenças, o pai tem outras, há um passado complicado entre pai e filho que será trabalhado ao longo do filme. Começa bem difícil essa relação, aos poucos vai amainando. Se quisermos, é uma história de amor pai-filho. Se quisermos, é uma ode às pessoas que se importam conosco, aquelas que estão sempre lá quando a gente precisa. O filme tem seu forte no humor e em bons diálogos. Alguns dos melhores é entre a enfermeira religiosa e o velho ateu e desbocado. Bom filme, tanto quanto "O declínio do império americano", mais antigo, que conta com os mesmos personagens mais jovens.

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