quarta-feira, 4 de maio de 2011

Viva o povo brasileiro

Não quero ser crucificado, não quero ser chamado de ignorante. Entretanto, entrando pelas 500 e poucas páginas de "Viva o povo brasileiro" (eu sei, já deveria ter terminado) não tenho todo o prazer que achei que teria. Dito de outra forma, o livro não atendeu às minhas expectativas. Deixa eu explicar. Primeiro, tenho que dizer que não são poucas as passagens geniais no livro. Posso citar trechos de diálogos incríveis, muito bem amarrados, contando geralmente com a ironia e o cinismo onipresente de João Ubaldo - seu traço mais atraente na minha opinião. Há também passagens curiosas, romanescas, de seus personagens, que (não poucos) são heróis da formação do país. Negros fortes e agéis, mulheres de personalidade, velhos incríveis. Há, claro, muito do mundo imaterial, descrição de almas que encarnam e desencarnam, espíritos de diferentes tipos, deuses e santos da cultura africana (ou já afro-brasileira). É preciso também registrar que há na trajetória que ele conta diversos momentos da história com H, momentos como as lutas de independência, a Guerra do Paraguai, um pedaço do envolvimento de baianos na Revolução Farroupilha. Em tudo isso há situações deliciosas de acompanhar. Mas é preciso paciência com a narrativa caudalosa do autor. É preciso atravessar páginas e páginas de "literatura" e "poesia" para ter momentos de história e narração que arrebatam. Não sei se me faço entender. Não digo que é um livro ruim, até para isso é preciso ter um preparo e uma cultura que eu não acho que tenha. Sei que gosto de ler livros. E mesmo na bibliografia de João Ubaldo há obras bem mais enxutas, que facilitam mais a vida do leitor. O livro até poderia ter as 700 páginas que tem, não falo contra isso. Só acho que não precisava ter duzentas palavras quando cabiam vinte (nem dez quando cabem duas). João Ubaldo não é nada econômico. E isso, às vezes irrita de uma forma terrível. Vê-se que é uma obra que deve ter dado muito trabalho. Apesar de tudo, se você me pergunta se eu me arrependo da leitura, a resposta é não. Essas ilhas de arrebatamento de que falei valem o esforço. E ainda que não contenha sua sanha em escrever pelos cotovelos, João Ubaldo mostra uma imensa qualidade de texto.

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