terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Graciliano

Terminei a leitura de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos. É um negócio acompanhar essa família. A história se passa num recorte que se situa desde uma peregrinação inicial (para o que parece ser a morte certa) até uma peregrinação final para o que pode ser um encontro com a redenção. Graciliano sabe construir imagens. Ele trabalha o tempo todo dentro da cabeça dos personagens, nos leva até lá e descortina medos, aflições. Até a cachorra Baleia sofre o escrutínio e a vemos tornar-se um personagem que tem juízo sobre essa ou aquela atitude de seus donos e, como os outros, reage, sente carinho, medo, raiva, etc. (E que episódio lindo e triste, de um jeito terrível, aquele da perseguição ao animal). Fabiano domina a história. Que personagem! Difícil não se conectar imediatamente. Um homem sem nenhuma instrução, que não gosta de palavras (não sabe o que fazer com elas) nem de gente, parece mesmo um bicho. Ele vive bem com seu pequenino repertório textual e, no entanto, lá dentro dele, tudo acontece. Um inferno o consome. Tanta ternura, tanta miséria. Graciliano é grande. Sabemos que está ali descrito um retrato de uma gente específica, de uma região determinada. Sobre isso não há dúvida. Mas estão ali todos nós. Cabe a humanidade inteira nesse pequenino universo.

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