Fui com toda boa vontade assistir ao brasileiro "Nossa vida não cabe num Opala", primeiro filme de Reinaldo Pinheiro, baseado na peça de Mário Bertolotto. Não gostei. O título é bacana, apesar de terem feito um improviso depois que a GM não autorizou usar o nome Chevrolet, que está na peça de Bertolotto. Muita coisa me incomodou no filme e acho que havia um ótimo material em mãos (o que me dá uma imensa vontade de ir atrás da peça que inspirou o filme). Não faltaram boas intenções a Pinheiro. A história tem no centro uma família que transita na marginalidade e é explorada até o osso pelo sádico (e rico) criminoso vivido por Jonas Bloch. Não deixa de ser um tipo de abordagem da exploração do homem pelo homem, e isso segue o filme até o fim. "Nossa vida..." tem atores conhecidos e desconhecidos no elenco principal. Em geral, eu gosto do Leonardo Medeiros, que aqui faz o irmão mais velho, mas me incomoda seu personagem derrotado e entregue à bebida.
O filme tem umas cenas desencaixadas, fora da história normal, em que os três irmãos, um de cada vez, são seduzidos por Sílvia, personagem da Maria Luiza Mendonça. Não entendo a função dessas cenas na história. Tudo bem que há outras "viagens" ao longo do filme, como a presença aqui e ali do fantasma do patriarca da família, papel de Paulo César Pereio. Mas desde o fantasma do pai de Hamlet, não são novidade mortos que voltam para conversar com os que ficaram. É uma referência reconhecível e compreensível. Na seqüência do estupro, me parece que há uma tentativa de acenar para o Plínio Marcos; mas acaba sendo teatro demais e realidade de menos, nem um pouco verossímel. Assim como alguns personagens que são caricaturais acima da média. A trilha irrita em alguns momentos, concorrendo com as cenas, conflitando com a ação dos personagens. Nesses assuntos de cinema cru e realidade dura, melhor ficar com um Cláudio Assis da vida. Seu cinema não me agrada de todo, mas não há como negar um tremendo talento para mostrar a miséria humana.
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