quarta-feira, 24 de junho de 2009

Nossa vida etc...

Fui com toda boa vontade assistir ao brasileiro "Nossa vida não cabe num Opala", primeiro filme de Reinaldo Pinheiro, baseado na peça de Mário Bertolotto. Não gostei. O título é bacana, apesar de terem feito um improviso depois que a GM não autorizou usar o nome Chevrolet, que está na peça de Bertolotto. Muita coisa me incomodou no filme e acho que havia um ótimo material em mãos (o que me dá uma imensa vontade de ir atrás da peça que inspirou o filme). Não faltaram boas intenções a Pinheiro. A história tem no centro uma família que transita na marginalidade e é explorada até o osso pelo sádico (e rico) criminoso vivido por Jonas Bloch. Não deixa de ser um tipo de abordagem da exploração do homem pelo homem, e isso segue o filme até o fim. "Nossa vida..." tem atores conhecidos e desconhecidos no elenco principal. Em geral, eu gosto do Leonardo Medeiros, que aqui faz o irmão mais velho, mas me incomoda seu personagem derrotado e entregue à bebida.

O filme tem umas cenas desencaixadas, fora da história normal, em que os três irmãos, um de cada vez, são seduzidos por Sílvia, personagem da Maria Luiza Mendonça. Não entendo a função dessas cenas na história. Tudo bem que há outras "viagens" ao longo do filme, como a presença aqui e ali do fantasma do patriarca da família, papel de Paulo César Pereio. Mas desde o fantasma do pai de Hamlet, não são novidade mortos que voltam para conversar com os que ficaram. É uma referência reconhecível e compreensível. Na seqüência do estupro, me parece que há uma tentativa de acenar para o Plínio Marcos; mas acaba sendo teatro demais e realidade de menos, nem um pouco verossímel. Assim como alguns personagens que são caricaturais acima da média. A trilha irrita em alguns momentos, concorrendo com as cenas, conflitando com a ação dos personagens. Nesses assuntos de cinema cru e realidade dura, melhor ficar com um Cláudio Assis da vida. Seu cinema não me agrada de todo, mas não há como negar um tremendo talento para mostrar a miséria humana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário