sexta-feira, 26 de junho de 2009

Questão de gosto

Gosto se discute. Era o que dizia um querido, e muito capaz, professor da faculdade. A disciplina era "Estética". Falávamos, creio, a respeito de alguns alunos terem dito que não gostavam dos filmes de Glauber Rocha. E esses alunos se defendiam dizendo que era questão de gosto e que gosto não se discute. O professor argumentava que esse gosto fora construído, havia uma história por trás. E que, enfim, tudo é passível de discussão. Pode ser.

Apesar de admirar muito esse professor. Sobre esse assunto, eu gostava mais de um outro, da disciplina "Análise de filmes". Esse segundo professor chamava o diretor baiano ironicamente de "glauber rosas" (havia apelidos para todo mundo em suas aulas; Tom Cruise, que ele gostava de ridicularizar, era "Antônio Cruz"). Pois esse segundo professor não gostava de Glauber, dizia que seus filmes estavam a serviço de difundir sua visão politica do mundo. E filmes não são (ou não deveriam ser) veículos de uma teoria ou de uma "verdade", por mais nobreza que o seu autor ache que seu conjunto de idéias encerra.

Sei que é uma questão complexa, mas eu concordo com esse pensamento. Li um artigo recente comparando a perenidade de Charles Chaplin e a de Glauber Rocha. Diz o artigo que os filmes de Glauber estão hoje restritos a exibições minúsculas em espaços para aficionados, ou seja: morreu para o circuito comercial. Chaplin continua tendo seus filmes exibidos em mostras no mundo inteiro e mesmo na TV, de vez em quando, aparecem lá seus filmes com uma freqüência significativa.

Os filmes de Chanplin contam uma história antes de tudo. Mesmo que haja ali um pensamento sobre as coisas, não são filmes panfletários - nem mesmo "O grande ditador" ou "Tempos modernos", que se passam em períodos históricos específicos. Sou um apreciador que não cansa dos filmes de Chaplin. Outro dia vi "O circo" com minha filha de sete anos. Ela ria muito com as cenas e eu fiquei surpreendido com essa capacidade dos filmes atemporais.

Acho que é isso que aquele professor defende quando ataca os filmes que são apenas discursos travestidos em imagens. Eles não vão além de um período. Precisam de um contexto para fazer sentido. Gostava muito da personalidade elétrica de Glauber. E gosto de "O Dragão da Maldade..." e de seu antecessor, "Deus e o diabo na terra do sol", ironicamente o filme que ele declarou ser sua tentativa de fazer um western brasileiro. "Terra em transe" nunca me encheu os olhos. Apesar de um Paulo Autran alucinado e com a performance excepcional de costume.

Mas, enfim, não quero com isso dizer que meu gosto é selo de qualidade. Longe de mim. Até porque gosto, como tudo, é discutível.

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