quinta-feira, 12 de março de 2009

Asfalto Selvagem

Terminei de ler o livro "Asfalto Selvagem", de Nelson Rodrigues. Sabemos que o agora romance nasceu em capítulos, publicado gota a gota diariamente no jornal "A Última Hora", entre 1959 e 1960. Isso explica bastante o porque de uma narrativa tão lassa, tão quebrada. A saga de Engraçadinha é fascinante. Nelson mostra um fôlego ininterrupto em mais de cinco centenas de páginas, numa leitura que pode ser atemporal. Pois é, esqueça uma citação ou outra de personagens datados como Juscelino Kubitschek e se concentre nos acontecimentos. Com alguma imaginação, poderia ser hoje.

Em primeiro plano, estão relações tumultuadas, amorosas, o desejo, o erotismo. Engraçadinha é o centro ao redor do qual tudo gira. Na primeira parte do romance, o que detona toda a ação é o investimento que ela faz para conquistar seu primo Sílvio, que depois descobrimos, é irmão dela. Na segunda parte da história, a chegada do juiz Odorico à vida de Engraçadinha é a porta aberta para ela reviver uma série de fatos do passado, cujos desdobramentos se precipitam com a chegada mais tarde de sua prima Letícia.

Detalhe: Letícia é uma mulher que gosta de mulher, lésbica. Letícia é apaixonada por Engraçadinha desde criança e retorna à vida desta para incendiar a história. O livro tem quase 600 páginas de peripécias e somos sugados para dentro dos acontecimentos, sempre com o mesmo interesse e tesão desde as primeiras linhas. Falei aqui contra os livros com muitas páginas, mas há as exceções. Ficaria feliz da vida se houvesse mais algumas centenas de páginas de "Asfalto Selvagem" pela frente.

Continua...

2 comentários:

  1. Ad, depois dessa crítica ao livro deu vontade de lê-lo. A dica de voltar aos primeiros capítulos também é boa. Isso acontece comigo quando o livro é muito bom, como foi o caso das suas indicações de Gabriel García Márquez: Crônica de uma morte anunciada e Do amor e outros demônios.

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  2. Agora vc falando, dá uma saudade boa de Garcia Marquez... Mas tudo a seu tempo.

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